O histórico e doloroso discurso do Senador Roberto Requião:
Por que, Lava Jato?
Escrito por Miguel do Rosário, do ocafezinho.com, em 06.11.17
Esse discurso de Requião nasceu antológico, histórico, emocionante.
Um discurso de dor e desespero, como uma canção de Edith Piaf, ao ver o fim de
seu país.
Os operadores e defensores da Lava Jato, que destruíram tantas empresas do
país, prenderam tantos lobistas, porque assistem assistem, impávidos,
passivos, inertes, o patrimônio e o futuro do país ser descaradamente roubado
diante de todo mundo.
Trilhões e trilhões estão sendo roubados e Ministério Público, Polícia Federal,
Judiciário, todos quietos!
Por que, meu Deus? Por que?
***
Requião cobra a Lava Jato: vender o Brasil pode? Será que vender o país não é
corrupção?
Em pronunciamento no plenário, nesta segunda-feira (06.11.17), o senador
Roberto Requião cobrou fortemente os operadores da Lava Jato que assistem
passivamente a entrega do país e o desmantelamento do setor público sem
qualquer reação. O Senador perguntou diretamente a Sérgio Moro, Deltan
Dallagnoll, Carmem Lúcia, Raquel Dodge e a delegados da Polícia Federal
porque nada fazem quando um governo absolutamente mergulhado na
corrupção vende o Brasil a preço de banana.
Veja o vídeo e o texto do discurso:
Lava Jato, vender o Brasil pode?
Vender o país não é corrupção?
Vender o país não é corrupção?
Por Roberto Requião
O juiz Sérgio Moro sabe; o procurador Deltan Dallagnol tem plena ciência. Fui, neste
plenário, o primeiro senador a apoiar e a conclamar o apoio à Operação Lava Jato.
Assim como fui o primeiro a fazer reparos aos seus equívocos e excessos.
Mas, sobretudo, desde o início, apontei a falta de compromisso da Operação, de
seus principais operadores, com o país. Dizia que o combate à corrupção descolado
da realidade dos fatos da política e da economia do país era inútil e enganoso.
E por que a Lava Jato se apartou, distanciou-se dos fatos da política e da economia
do Brasil?
Porque a Lava Jato acabou presa, imobilizada por sua própria obsessão;
obsessão que toldou, empanou os olhos e a compreensão dos heróis da operação
ao ponto de eles não despertarem e nem reagirem à pilhagem criminosa,
desavergonhada do país.
Querem um exemplo assombroso, sinistro dessa fuga da realidade?
Nunca aconteceu na história do Brasil de um presidente ser denunciado por
corrupção durante o exercício do mandato.
Não apenas ele. Todo o entorno foi indigitado e denunciado. Mas nunca
um presidente da República desbaratou o patrimônio nacional de forma
tão açodada, irresponsável e suspeita, como essa Presidência denunciada por
corrupção.
Vejam. Só no último o leilão do petróleo, esse governo de denunciado como
corrupto, abriu mão de um trilhão de reais de receitas.
Um trilhão, Moro!
Um trilhão, Dallagnoll!
Um trilhão, Polícia Federal!
Um trilhão, PGR!
Um trilhão, Supremo, STJ, Tribunais Federais, Conselhos do Ministério Público e
da Justiça.
Um trilhão, brava gente da OAB!
Um trilhão de isenções graciosamente cedidas às maiores e mais ricas empresas
do planeta Terra. Injustificadamente. Sem qualquer amparo em dados econômicos,
em projeções de investimentos, em retorno de investimentos. Sem o apoio de
estudos sérios, confiáveis.
Nada! Absolutamente nada!
Foi um a doação escandalosa. Uma negociata impudica.
Abrimos mão de dinheiro suficiente para cobrir todos os alegados déficits
orçamentários, todos os rombos nas tais contas públicas.
Abrimos mão do dinheiro essencial, vital para a previdência, a saúde, a educação,
a segurança, a habitação e o saneamento, as estradas, ferrovias, aeroportos,
portos e hidrovias, para os próximos anos.
Mas suas excelentíssimas excelências acima citadas não estão nem aí. Por que,
entendem, não vem ao caso…
Na década de 80, quando as montadoras de automóveis, depois de saturados os
mercados do Ocidente desenvolvido, voltaram os olhos para o Sul do mundo, os
governantes da América Latina, da África, da Ásia entraram em guerra para ver
quem fazia mais concessões, quem dava mais vantagens para “atrair” as fábricas
de automóveis.
Lester Turow, um dos papas da globalização, vendo aquele espetáculo
deprimente de presidentes, governadores, prefeitos a oferecer até suas progenitoras
para atrair uma montadora de automóvel, censurou-os, chamando-os de
ignorantes por desperdiçarem o suado dinheiro dos impostos de seus
concidadãos para premiarem empresas biliardárias.
Turow dizia o seguinte: qualquer primeiroanista de economia, minimamente
dotado, que examinasse um mapa do mundo, veria que a alternativa para as
montadoras se expandirem e sobreviverem estava no Sul do Planeta Terra.
Logo, elas não precisavam de qualquer incentivo para se instalarem na América
Latina, Ásia ou África. Forçosamente viriam para cá.
No entanto, governantes estúpidos, bocós, provincianos, além de corruptos
e gananciosos deram às montadoras mundos e fundos.
Conto aqui uma experiência pessoal: eu era governador do Paraná e a fábrica
de colheitadeiras New Holland, do Grupo Fiat, pretendia instalar-se no Brasil,
que vivia à época o boom da produção de grãos.
A Fiat balançava entre se instalar no Paraná ou Minas Gerais. Recebo no palácio
um dirigente da fábrica italiana, que vai logo fazendo numerosas exigências
para montar a fábrica em meu estado. Queria tudo: isenções de impostos, terreno,
infraestrutura, berço especial no porto de Paranaguá, e mais algumas benesses.
Como resposta, pedi ao meu chefe de gabinete uma ligação para o então
governador de Minas Gerais, o Hélio Garcia. Feito o contanto, cumprimento
o governador: “Parabéns, Hélio, você acaba de ganhar a fábrica da New
Holland”. Ele fica intrigado e me pergunta o que havia acontecido.
Explico a ele que o Paraná não aceitava nenhuma das exigências da Fiat para atrair
a fábrica, e já que Minas aceitava, a fábrica iria para lá.
O diretor da Fiat ficou pasmo e se retirou. Dias depois, ele reaparece e comunica
que a New Holland iria se instalar no Paraná.
Por que?
Pela obviedade dos fatos: o Paraná à época, era o maior produtor de grãos do
Brasil e, logo, o maior consumidor de colheitadeiras do país; a fábrica ficaria
a apenas cem quilômetros do porto de Paranaguá; tínhamos
mão-de-obra altamente especializada e assim por diante.
Enfim, o grande incentivo que o Paraná oferecia era o mercado.
O que me inspirou trucar a Fiat? O conselho de Lester Turow e o exemplo de meu
antecessor no governo, que atraiu a Renault, a Wolks e a Chrysler a peso de ouro e
às custas dos salários dos metalúrgicos paranaenses, pois o governador de então
chegou até mesmo negociar os vencimentos dos operários, fixando-os a uma
fração do que recebiam os trabalhadores paulistas.
Mundos e fundos, e um retorno pífio.
Pois bem, voltemos aos dias de hoje, retornemos à história, que agora se
reproduz como um pastelão.
O pré-sal, pelos custos de sua extração, coisa de sete dólares o barril, é
moranguinho com nata, uma mamata só!
A extração do óleo xisto, nos Estados Unidos, o shale oil , chegou a custar
até 50 dólares o barril;
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o petróleo extraído pelos canadenses das areias betuminosas sai por 20 a 30
dólares o barril; as petrolíferas, as mesmas que vieram aqui tomar o nosso
pré-sal, fecharam vários projetos de extração de petróleo no Alasca
porque os custos ultrapassavam os 40 dólares o barril.
Quer dizer: como no caso das montadoras, era natural, favas contadas que
as petrolíferas enxameassem, como abelhas no mel, o pré-sal. Com esse custo,
quem não seria atraído?
Por que então, imbecis, por que então, entreguistas de uma figa, oferecer mais
vantagens ainda que a já enorme, incomparável e indisputável vantagem do custo
da extração?
Mais um dado, senhoras e senhores da Lava Jato, atrizes e atores daquele
malfadado filme: vocês sabem quanto o governo arrecadou com o último leilão?
Arrecadou o correspondente a um centavo de real por litro leiloado.
Um centavo, Moro!
Um centavo, Dallagnoll!
Um centavo, Carmem Lúcia!
Um centavo, Raquel Dodge!
Um centavo, ínclitos delegados da Policia Federal!
Esse governo de meliantes faz isso e vocês fazem cara de paisagem, viram o
rosto para o outro lado.
Já sei, uma das razões para essa omissão indecente certamente é, foi e haverá
de ser a opinião da mídia.
Com toda a mídia comercial, monopolizada por seis famílias, todas a favor desse
leilão rapinante, como os senhores e as senhoras iriam falar qualquer coisa,
não é?
Não pegava bem contrariar a imprensa amiga, não é, lavajatinos?
Renovo a pergunta: desbaratar o suado dinheiro que é esfolado dos brasileiros
via impostos e dar isenção às empresas mais ricas do planeta é um ou não é
corrupção?
Entregar o preciosíssimo pré-sal, o nosso passaporte para romper com o
subdesenvolvimento, é ou não é suprema, absoluta, imperdoável corrupção?
É ou não uma corrupção inominável reduzir o salário mínimo e isentar as petroleiras?
Será, juízes, procuradores, policiais federais, defensores públicos, será que as
senhoras e os senhores são tão limitados, tão fronteiriços, tão pouco dotados
de perspicácia e patriotismo ao ponto de engolirem essa roubalheira toda sem
piscar?
Bom, eu não acredito, como alguns chegam a acusar, que os senhores e
as senhoras são quintas-colunas, agentes estrangeiros, calabares, joaquins
silvérios ou, então, cabos anselmos.
Não, não acredito.
Não acredito, mas a passividade das senhoras e dos senhores diante da destruição
da soberania nacional, diante da submissão do Brasil às transnacionais, diante da
liquidação dos direitos trabalhistas e sociais, diante da reintrodução da escravatura
no país…. essa passividade incomoda e desperta desconfianças, levanta suspeitas.
Pergunto, renovo a pergunta: como pode um país ser comandado por uma
quadrilha, clara e explicitamente uma quadrilha, e tudo continuar como se
nada estivesse acontecendo?
Responda, Moro.
Responda, Dallagnoll.
Responda, Carmem Lúcia.
Responda, Raquel Dodge.
Respondam, oh, ínclitos e severos ministros do Tribunal de Contas da União que
ajudaram a derrubar uma presidente honesta.
Respondam, oh guardiões da moral, da ética, da honestidade, dos bons costumes,
da família, da propriedade e da civilização cristã ocidental.
Respondam porque denunciaram, mandaram prender, processaram e
condenaram tantos lobistas, corruptores de parlamentares e de dirigentes de
estatais, mas pouco se dão se, por exemplo, lobistas da Shell, da Exxon e de
outras petroleiras estrangeiras circulem pelo Congresso obscenamente,
a pressionar, a constranger parlamentares em defesa da entrega do
pré-sal, e do desmantelamento indústria nacional do óleo e do gás?
Eu vi, senhoras e senhores. Eu vi com que liberdade e desfaçatez o lobista
da Shell, semanas atrás, buscava angarias votos para aprovar a maldita,
indecorosa MP franqueando todo o setor industrial nacional do petróleo
à predação das multinacionais.
Já sei, já sei…. isso não vem, ao caso.
Esse governo de meliantes faz isso e vocês fazem cara de paisagem, viram o
rosto para o outro lado.
Já sei, uma das razões para essa omissão indecente certamente é, foi e haverá
de ser a opinião da mídia.
Com toda a mídia comercial, monopolizada por seis famílias, todas a favor desse
leilão rapinante, como os senhores e as senhoras iriam falar qualquer coisa, não é?
Não pegava bem contrariar a imprensa amiga, não é, lavajatinos?
Fico cá pensando o que esses rapazes e essas moças, brilhantíssimos campeões
de concursos públicos, fico pensando…..o que eles e elas conhecem de economia,
da história e dos impasses históricos do desenvolvimento brasileiro?
Será que eles são tão tapados ao ponto de não saberem que sem energia, sem
indústria, sem mercado consumidor, sem sistema financeiro público, para alavancar
a economia, sem infraestrutura não há futuro para qualquer país que seja?
Esses são os ativos imprescindíveis para o desenvolvimento, para a remissão do
atraso, para o bem-estar social e para a paz social.
Sem esses ativos, vamos nos escorar no quê? Na produção e exportação de
commodities? Ora…
Mas, os nossos bravos e bravas lavajatinos não consideram o desbaratamento
dos ativos nacionais uma forma de corrupção.
Senhoras, senhores, estamos falando da venda subfaturada –ou melhor, da
doação- do país todo! Todo!
E quem o vende?
Um governo atolado, completamente submerso na corrupção.
E para que vende?
Para comprar parlamentares e assim escapar de ser julgado por corrupção.
Renovo a pergunta: desbaratar o suado dinheiro que é esfolado dos brasileiros
via impostos e dar isenção às empresas mais ricas do planeta é um ou não é
corrupção?
Entregar o preciosíssimo pré-sal, o nosso passaporte para romper com o
subdesenvolvimento, é ou não é suprema, absoluta, imperdoável corrupção?
É ou não uma corrupção inominável reduzir o salário mínimo e isentar as
petroleiras?
Será, juízes, procuradores, policiais federais, defensores públicos, será que
as senhoras e os senhores são tão limitados, tão fronteiriços, tão pouco dotados
de perspicácia e patriotismo ao ponto de engolirem essa roubalheira toda sem
piscar?
Depois de jogar o petróleo pela janela, preparando assim o terreno para a nossa
perpetuação no subdesenvolvimento, o governo aproveita a distração de um
feriado prolongado e coloca em hasta pública o Banco do Brasil, a Caixa
Econômica, a Eletrobrás, a Petrobrás e que mais seja de estatal.
Ladrões de dinheiro público vendendo o patrimônio público.
Pode isso, Moro?
Pode isso, Dallagnoll?
Pode isso, Carmem Lúcia?
Pode isso, Raquel Dodge?
Ou devo perguntar para o Arnaldo?
À véspera do leilão do pré-sal, semana passada, tive a esperança de que algum
juiz intrépido ou algum procurador audacioso, iluminados pelos feéricos,
espetaculosos exemplos da Lava Jato, impedissem esse supremo ato de
corrupção praticado por um governo corrupto.
Mas, como isso não vinha ao caso, nada tinha com os pedalinhos, o tríplex,
as palestras, o aluguel do apartamento, nenhum juiz, nenhum procurador,
nenhum delegado da polícia federal, e nem aquele rapaz do TCU, tão rigoroso
com a presidente Dilma, ninguém enfim, se lixou para o esbulho.
Ah, sim, não estava também no power point….
É com desencanto e o mais profundo desânimo que pergunto: por que Deus
está sendo tão duro assim com o Brasil?
Roberto Requião é senador da República, no segundo mandato, pelo Paraná.
Foi governador de seu estado por 3 mandatos (12 anos), prefeito de Curitiba,
Secretário de Estado, industrial, agricultor, oficial deo exército brasileiro
e advogado de movimentos sociais. É graduado em diretio e jornalismo,
tendo pós-graduação em urbanismo.
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