segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Racistas saem do armário e defendem jornalista da TV Globo

12 de Novembro de 2017
por Jean Willis, deputado federal do PSOL, do Rio de Janeiro.



A solidariedade corporativa de parte da elite branca, rica e reacionária brasileira com o jornalista William Waack deveria ser estudada um dia nas universidades. E eu espero que seja em universidades com mais negros, mais alunos oriundos das periferias e das escolas públicas, mais pessoas trans, mais povo. A maneira em que o caso de racismo envolvendo o jornalista da Globo tirou muitos outros racistas do armário põe em evidência o que se conhece como “pacto narcísico” entre brancos, que está sempre implícita e se expressa quando os privilégios da elite branca são atacados, ou quando a prática do racismo é questionada na esfera pública. 

Waack disse o que disse achando que a câmera estava desligada, porque ele sabia que não poderia fazer aquele comentário ao vivo, mas agora que tudo veio à tona e ele foi suspenso da emissora, toda uma casta se sente na obrigação “moral” de defendê-lo abertamente, como se fosse uma questão de princípios.

É o mesmo que já aconteceu tantas vezes a partir de expressões públicas de homofobia que, ao ser expostas e questionadas por parte da sociedade, provocaram a reação do pacto narcísico heterossexual. 

Nos últimos dias, jornalistas, políticos e até um juiz do Supremo — não podia ser outro, claro — alçaram a voz nas redes sociais e nos veículos de comunicação em defesa do racista. Não é por acaso que tanto Waack quanto seus defensores tenham sido apoiadores do golpe! Eles fazem questão de serem ouvidos, desafiantes, orgulhosos, com uma cínica noção do que seja a coragem. “Como assim já não é permitido falar que algo é 'coisa de preto'? Que correção política é essa?”, reclamam, indignados, com o orgulho de classe ferido.

Esses dias serão lembrados e estudados no futuro, porque a máscara de muita gente caiu e está aí, descoberta, evidente, a cara do Brasil que fingimos não ver, que juramos ter superado, mas continua vivo na distribuição de renda, no mapa da fome, na divisão de classes, na empregabilidade, na matrícula universitária, nas estatísticas de homicídios e do sistema carcerário, nas favelas, na abordagem policial, nos autos de resistência, na cara do telejornal, nos papéis da novela, na composição do ministério, do Congresso, do judiciário, e agora também, sem autocensura, nas manifestações de solidariedade de uma elite branca que continua achando que os problemas do país são "coisa de preto". 

Felizmente, também há uma reação muito forte de uma ampla parcela da sociedade brasileira que quer acabar com tudo isso — não apenas com o racismo verbal ou simbólico, mas também com o material, esse que atinge mais forte e com mais violência a maioria preta e parda da nossa sociedade desde a época da escravatura.


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