quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Música é a manifestação da verdade humana


Magno Mello*

Neste Dia do Músico eu tava aqui pensando: a música faz sentido. Não precisa ser canção, não precisa estar acompanhada de uma letra para fazer sentido. Faz sentido, mesmo num mundo onde tudo o que sempre fez sentido vem hoje sendo questionado. Valores, antes considerados eternos, absolutos, imutáveis, enfim, muitas das supostas verdades que construíram nossa civilização, estão em cheque.




A música, no entanto, sobrevive como verdade humana. Primeiro, desconfio (hahaha), por ser algo assumidamente inventado, não está aí concorrendo a ser uma verdade. É apenas o que é, e pronto. 




Mas, acima de tudo, é claro, por ser uma das mais ricas e belas manifestações da aventura humana, que atua de múltiplas formas no indivíduo, inclusive para além de seus estados conscientes. 



É onda sonora, mas é também signo, não necessariamente explicável em palavras ou imagens ou outra coisa racionalmente compreensível. Ainda assim, significa; ou seja, faz sentido. E embora, paradoxalmente, só seja compreensível por ser lógica, matemática, o resultado dessa matemática inaugura algo misterioso, sensível, algo que ultrapassa a razão e incide sobre nosso ser mais antropológico, mais intuitivo.





Outra coisa que pensei: uma boa música, ouvida com atenção, sensibiliza-nos, e essa sensibilização nos coloca no presente, no agora, no momento em que a vida acontece. Coloca-nos, portanto, mais consciente de nós mesmos e do mundo à nossa volta. Tende a nos desalienar. E com isso novas "notícias", pessoais e sociais, vêm a tona, mesmo quando não nos damos conta. 



De algum modo, portanto, nos faz refletir, questionar sobre a ordem das coisas como se apresentam. O que vai na direção contrária do entretenimento puro e simples, que tende a manter as coisas como são, geralmente trazendo apenas o conforto do esquecimento, de nós mesmos e do mundo. 





Então, ouvir ou fazer uma boa música (por exemplo, uma que apresente qualquer coisa de original, que não seja uma simples “receita de bolo”) é não se deixar ser dominado, pelo menos não tão facilmente.




Viva nóis, rapaziada!



Magno Mello é compositor, escritor e pesquisador autodidata. Em 2010, recebeu o Prêmio Interações Estéticas - Ministério da Cultura/Funarte, por seu trabalho de Poética Musical, estudo inédito no Brasil sobre os elementos e ferramentas que estruturam uma letra de música. 
"Trustália - uma quase distopia" é sua estreia em romance. Também publicou "[O mundo é inventado]", textos poéticos.
Em parceria com o cantor e compositor mineiro Pedro Morais é autor de músicas como "De cada lado", "E o que for já é", "Gasolina", "No ciclo", "Canção do Outono", "Canção da minha vida" e muitas outras. Tem também diversas parcerias com Kadu Vianna.

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