terça-feira, 21 de outubro de 2014

Militância reaparece e PT tenta levar Aécio para canto do ringue


ROLDÃO ARRUDA, 21 Outubro 2014 | 20:50

Ato de apoio a Dilma, no Tuca, em São Paulo, foi marcado sobretudo pela presença de jovens militantes. Lembrou velhos tempos do PT.

O fato mais notável do encontro entre a candidata Dilma Rousseff e representantes da área cultural, no Teatro da Universidade Católica de São Paulo (Tuca), na noite de segunda-feira, 20, foi a presença da militância petista. Fala-se aqui de militância espontânea. Daqueles jovens que pegam a bandeira vermelha da candidata, colam adesivos no peito e vão para a rua, sem ganhar um tostão para fazer isso.

Eram jovens estudantes em sua maioria, alguns acompanhados pelos pais. Começaram a chegar, agitar bandeiras e circular diante do Tuca e os seus arredores, no bairro de Perdizes, por volta das 17h30. Uma parte, após não conseguir entrar no teatro, por falta de lugares, foi embora. Mas a maioria ficou, mesmo debaixo de uma chuva fina que ia e vinha, até o final do evento, quando a candidata apareceu para saudá-los – do alto da sacada do teatro que abre para a Rua Monte Alegre.

Já passava das 23 horas e, segundo os organizadores, cerca de três mil pessoas permaneciam ali. O entusiasmado encontro, como se pode ver em vídeos e fotos que estão na internet, lembrou os velhos tempos do PT. Tempos em que, sem contar com grandes somas de dinheiro doadas por grandes empresas, o partido crescia empurrado sobretudo pela força da militância. Essa lembrança estava estampada no olhar de alguns velhos petistas que saíam do teatro e encontravam os jovens.
Após o término do encontro, grupos continuaram circulando pelo bairro com suas bandeiras. Por volta da meia noite, três moços e duas moças agitavam bandeiras para os carros que passavam pela esquina das ruas Monte Alegre e Vanderley. Quase no mesmo horário, outro grupo, bem maior, aguardava o ônibus num ponto da Rua Cardoso de Almeida entoando gritos de guerra da campanha petista.

Não se sabe ainda qual o efeito que essa reaparição da militância pode ter nos resultados da eleição. Segundo as pesquisas, os candidatos do PT e PSDB permanecem empatados nas preferências de voto, o que significa, rigorosamente, que qualquer um deles pode sair vitorioso no domingo.
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O que se pretende registrar aqui é a presença de uma militância que parecia envergonhada – não se sabe se por efeito da campanha sistemática que os opositores do PT têm feito neste ano, com mais virulência do que nos anteriores, para desmoralizá-lo e tornar um ato quase vergonhoso a declaração de apoio à candidata petista; ou pelos erros e desacertos cometidos pela própria legenda, que, em mais de um momento no poder, renegou sua história e propostas partidárias.

Uma das explicações para o que se viu no Tuca seria o fato de a campanha eleitoral ter chegado àquele ponto nevrálgico de absoluta polarização, em que parecem se opor dois projetos políticos antagônicos. O ponto em que ninguém mais pode ficar indiferente.

O PT tende a assumir nesse momento, com mais clareza, o seu lado centro esquerda, agudizando a polarização. No Tuca, discurso após discurso, o que se ouviu foi a defesa do Estado laico, dos direitos dos homossexuais, do fim a qualquer tipo de discriminação contra os negros, do desenvolvimentismo, dos Brics, da soberania nacional e da maior presença do Estado na economia. Tudo isso combinado com o combate às desigualdades sociais e econômicas, ao neoliberalismo, aos fundamentalismos.
O que se verifica agora, como já ocorreu em outros momentos políticos da história recente, é o reagrupamento de forças em torno de alguns pontos comuns, como lembrou o ex-presidente Lula, ao dizer no Tuca que chega uma hora em que não é preciso estar cem por cento de acordo com Dilma ou o PT. O importante, disse ele, é distinguir entre os dois projetos “o que é melhor para o Brasil”.

APOIO DE MILITARES
Em alguns círculos tudo começa a funcionar agora de acordo com a engrenagem dessa polarização. Para entender melhor o significado disso, veja-se o caso do apoio dado à candidatura de Aécio Neves por velhos oficiais do Clube Militar. Por se tratar de um grupo que defende a ditadura militar, um dos períodos mais sombrios da história do País, no qual os direitos civis e políticos foram suspensos, os partidos extintos, a imprensa censurada e os opositores políticos torturados até a morte, esse tipo de apoio provoca uma reação imediata de outras forças políticas, que temem qualquer tipo de retrocesso democrático.

O PT valoriza e expõe esse tipo polarização – mais visível com Aécio do que seria com Marina Silva.
No palco do Tuca, o candidato derrotado ao governo de São Paulo pelo PSOL, Gilberto Maringoni, fez referência a essa conjuntura, a exemplo do que já fizeram seus colegas de partido Marcelo Freixo e Jean Wyllys, no Rio. ”Tenho críticas ao governo, mas vou deixar para depois”, disse Maringoni. “Agora vamos falar do que nos une, especialmente porque do lado de lá está Aécio Neves, o neoliberalismo heavy metal. É uma escolha entre a democracia e o abismo.”
É o momento, enfim, em que o PT procura levar Aécio para o lado esquerdo do ringue, onde, acredita, tem mais força nos punhos. Isso tem algum efeito sobre o conjunto do eleitorado, especialmente o que ainda se mantém indeciso? Não se sabe. Pelo que se viu dentro e fora do Tuca, porém, o efeito sobre os chamados setores progressistas, mesmo os que se mantinham mais arredios, é quase certo.

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