Muitos dos deputados estaduais eleitos no domingo devem mais de 70% de seus votos às suas bases.
Dr Jean Freire seria eleito somente com os votos do Vale do Jequitinhonha.
Juliana Cipriani - Luiz Ribeiro
Publicação: 07/10/2014 00:12, no jornal Estado de Minas
A julgar pela proporção de votos que tiveram de cada localidade de Minas Gerais para se eleger, os deputados estaduais da próxima Legislatura terão de olhar para quase todas as 10 macrorregiões do estado. Levantamento feito pelo Estado de Minas nos dados da Justiça Eleitoral disponíveis no site da Assembleia Legislativa mostra que apenas o Noroeste não deu sozinho a um parlamentar mais de 70% da sua votação total. Em outras, os eleitos chegam a dever à região mais de 90% dos votos conquistados nas urnas. Se esse critério valer para o atendimento às bases, os Vales do Jequitinhonha, Mucuri e Rio Doce serão os mais desguarnecidos.
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O estreante Dr. Jean Freire (PT), que é vereador de Itaobim, pode ser considerado o
deputado da região dos vales. Foi lá que ele teve 84,1% dos 52.315 votos que lhe deram uma das 77 cadeiras da Assembleia a partir do ano que vem. O petista está sozinho no elevado percentual. No Rio Doce, porém, Rosângela Reis (PROS) garantiu 93,3% de sua reeleição como deputada. Além dela, quem teve um desempenho considerável foi o deputado Bonifácio Mourão (PSDB). Ele teve 66.990 votos ou 78,4% de um total de 85.401.
O tucano atribui o resultado ao trabalho feito e lamentou o baixo número de parlamentares comprometidos com o Rio Doce. “Perdemos um deputado, o Hélio Gomes (PSB), que não conseguiu se reeleger. Em outras épocas, chegamos a ter três ou quatro parlamentares, mas desta vez tivemos muitos candidatos e a votação se dividiu. Cada um puxa para o seu lado e isso prejudica”, disse. Mourão cita que, embora com percentual menor, a deputada eleita Celise Laviola (PMDB) – filha do antigo deputado José Laviola, que herda os votos do cunhado, o deputado falecido José Henrique – também representa a região.
O Norte de Minas, que fez pelo menos cinco deputados, também poderia estar melhor, na avaliação do deputado reeleito Gil Pereira (PP), que garante ser mais do que os “94,1% (percentual com que as urnas do norte contribuíram)”. “Sou um deputado regional, sempre fui e luto pelo voto distrital”, afirmou. Ele reclamou neste pleito a perda de Luiz Henrique (PSDB), que não conseguiu garantir mais um mandato. “Gostaríamos de ter mais cadeiras. Em 1994, chegamos a ter 10. Agora, infelizmente, com a pulverização de partidos caímos”, disse. Por outro lado, quem teve a participação turbinada foi o deputado mais votado no estado, Paulo Guedes (PT): 95,3% dos votos foram dos eleitores do Norte do estado. Também podem se orgulhar de ter a maioria dos votos dos norte mineiros os deputados Arlem Santiago (PTB), Carlos Pimenta (PDT) e Tadeuzinho (PMDB), todos reeleitos.
Veteranos e Novatos
As regiões do Triângulo Mineiro e do Sul de Minas também estão representadas, inclusive, com novos parlamentares. Na primeira, os deputados reeleitos Elismar Prado (PT), Luiz Humberto Carneiro (PSDB) e Lerin (PSB) foram majoritários, devendo entre 72% e 82% da votação à região. Mas o estreante Felipe Attiê, que está no quinto mandato como vereador de Uberlândia, foi quem teve lá o maior percentual dentro o total de sua votação. Dos 64.597 votos, 96,5% vieram do Triângulo e, especialmente, de Uberlândia. Talvez isso, aliado à troca de partido (PSB pelo PROS) explique por que a deputada Lisa Prado não conseguiu mais um mandato.
No Sul de Minas, o deputado Dalmo Ribeiro (PSDB) pode se orgulhar de ser um dos preferidos e, se observar a votação, também seguirá trabalhando na bancada regional. O tucano concentrou 94,4% dos seus votos, quase todos os 93.828, na macrorregião. Outros parlamentares são da bancada do Sul de Minas, mas, em percentual de votação, quem surpreendeu foi o produtor rural Emidinho Madeira, eleito pelo PTdoB. Praticamente toda a votação (64.923 de 66.018) é do sul mineiro. Além dos dois, o tucano Antônio Carlos Arantes e Cássio Soares, do PSD, foram eleitos pela região.
A Zona da Mata também fez quatro novatos com votações expressivas, o que pode ter feito a votação de tradicionais representantes da região, como o deputado Lafayette Andrada (PSDB), diminuírem a participação. Além de Dr. Wilson Batista (PSD), que foi reeleito contando com 91,5% dos próprios votos vindos desta base, o empresário Roberto Andrade (PTN), que concentrou 73,9% da votação lá, conquistou uma cadeira. O vereador Noraldino Júnior (PSC), o ex-prefeito de Ubá Dirceu Ribeiro (PHS) e o vereador de Juiz de Fora Isauro Calais (PMN) tiveram mais de 90% dos votos vindos da região.
Com menos representantes, o Alto Paranaíba contabilizou pelo menos três deputados majoritários e o Centro-Oeste, apenas dois. A área com mais parlamentares eleitos, são 12, continua sendo a Região Central, principalmente a Metropolitana de Belo Horizonte. Além de ex-vereadores da capital, como Paulo Lamac (PT), João Vítor Xavier (PSDB) e Anselmo José Domingos (PTC), foram eleitos parlamentares por outros municípios. Contagem, por exemplo, deu 97,5% dos votos obtidos pela ex-prefeita Marília Campos (PT). Já o médico Glaycon Franco, mais votado em municípios da Região Central, teve 93,4% da votação vinda de lá.
Campeão que veio do Norte
Paulo Guedes foi o mais votado em Minas e agora pretende lutar pela Presidência da Assembleia (Danilo Evangelista/Esp.EM/D.A Press)
Paulo Guedes foi o mais votado em Minas e agora pretende lutar pela Presidência da Assembleia
O deputado estadual Paulo Guedes (PT), que teve 164.831 votos, o mais votado entre os 77 eleitos para a Assembleia Legislativa de Minas Gerais, já traça seus projetos para o próximo mandato. O campeão das urnas neste ano agora vislumbra conquistar o cargo máximo da casa: “Eu tenho interesse em ser candidato presidência da Assembleia. Gostaria muito. É um sonho que tenho. Mas, (a minha candidatura) não depende apenas da minha vontade. A votação que eu tive me credencia, mas não quer dizer que eu já seja candidato”.
Por outro lado, Guedes diz que a eleição da mesa da Assembléia também vai depender do próprio posicionamento do governador eleito Fernando Pimentel (PT). “Tudo passa por uma conversa com o Fernando. Não conversei com ele ainda. Mas sei que o apoio dele é fundamental”, assegurou. Lembrado que o deputado Durval Ângelo (PT) também lançou o seu nome para o comando do Legislativo estadual, Paulo Guedes reagiu: “Eu não sabia disso. Mas, a minha ideia é buscar o diálogo e o consenso. Acho que o caminho é este”.
Paulo Guedes assegura que tem uma boa relação com outros deputados estaduais e quer aproveitar essa condição para auxiliar o novo governador a buscar maioria na Assembleia. “Acho que posso ajudar o Pimentel nessa conjuntura. Eu estou disposto a cumprir o papel de ajuda-lo a negociar para ter maioria no Parlamento”, anuncia.
Paulo Guedes assegura que a grande votação que recebeu não vai mudar o seu estilo. “Eu vou continuar do mesmo jeito. O meu trabalho é (realizado) com os pés no chão”, afirmou o parlamentar, de 44 anos, que nasceu na zona rural de São João das Missões. Ele também garante que nunca vai se e nunca vai se afastar de suas bases. O deputado conta que foi alfabetizado aos 11 anos de idade e, aos 16, participou de sua primeira disputa, de líder da sala de aula na Escola Estadual Olegário Maciel, em Manga (Norte de Minas). “Ganhei a eleição pela diferença de um voto”, diz, acrescentando, que, logo em seguida, foi eleito presidente da associação de estudantes da escola.
Em 1987, fundou o PT em Manga. Em 1992, com 21 anos, foi eleito vereador no município, exercendo o cargo por três mandatos – em dois deles, foi presidente da Câmara Municipal. Em 2003, depois de presidir a Associação dos Vereadores da Área Mineira da Sudene (Amams), Guedes foi indicado para a chefia regional do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs). Com o trabalho no órgão, que perfura poços e distribui canos e caixas d’água para comunidades atingidas pela estiagem prolongada, ganhou projeção e foi eleito deputado estadual em 2006, com 46 mil votos. Em 2010, foi reeleito com o dobro da votação do primeiro mandato.
Enquanto em outras regiões do estado, o PT teve diversos candidatos a deputado estadual, no Norte de Minas, Paulo Guedes acabou “reinando” como praticamente o único candidato petista para a vaga. Ele garante, no entanto, que o fato ser o único nome do PT apresentado como candidato a deputado na maioria dos municípios do Norte de Minas, essa não foi uma estratégia pensada. “Não foi nada provocado. O que aconteceu foi que outras lideranças do PT colocaram seus nomes à disposição para disputar a eleição, mas as candidaturas não vingaram”, garante.
O petista disse que a partir de agora vai reforçar esse trabalho de articulação com o Governo Federal, na busca de obras estruturais para a região como a barragem de Congonhas (voltada para o abastecimento de Montes Claros), a barragem de Berizal (município homônimo) e a duplicação da BR 251 (Montes Claros/Salinas). Ele diz que também vai lutar por mais investimentos do governo do estado na região, sobretudo, na área de saúde, destacando a construção do Hospital do Trauma, em Montes Claros.
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