sábado, 28 de setembro de 2019

Vales do Jequitinhonha e Mucuri perdem mais de R$ 1 bilhão e 40 mil empregos com a saída de rochas ornamentais da região.

Granito, mármore, pedra-sabão e quartzito são as rochas mais extraídas na região, quase toda beneficiada por indústrias do Espírito Santo.

Maiores jazidas estão nos municípios de Datas, Diamantina, Itinga, Medina e São Gonçalo do Rio Preto, no Vale do Jequitinhonha, e Franciscópolis, no Vale do Mucuri.




Foto: Gazeta de AraçuaiVale do Jequitinhonha perde bilhões com a saída de granito bruto da região
Carretas transportam granito extraído em Coronel Murta. Pedreiras geram poucos empregos no município.
Nem só de minério de ferro são feitas as montanhas de Minas Gerais. Entre granito, mármore, pedra-sabão, quartzito e vários outros tipos, o Estado é o segundo maior produtor de rochas ornamentais do país.
Das 9 milhões de toneladas extraídas nacionalmente em 2018, Minas produziu 21%, mas ficou com apenas 10% do faturamento das exportações brasileiras. É que, apesar da grande quantidade de jazidas – concentradas na região Norte e nos vales do Jequitinhonha e do Mucuri, de onde saem os blocos brutos –, o Estado não beneficia a matéria prima.
Essa etapa industrial, que agrega valor, é feita pelo Espírito Santo. O vizinho produz cerca de 60% a mais, mas tem ganhos 555% maiores com a exportação.
Isso acontece porque, embora tenha a maior diversidade de rochas do Brasil, Minas praticamente não tem indústrias. São aproximadamente dez plantas, contra 1.600 no Espírito Santo, que recebe as rochas mineiras em estado bruto, beneficia e exporta.
É o caso do Avocatus, um quartzito esverdeado abundante em São Gonçalo do Rio Preto, na região do Alto Jequitinhonha, onde a capixaba Magban tem uma pedreira. De lá, os blocos são retirados e seguem de caminhão, por cerca de 400 km, até Cachoeiro do Itapemirim, no Sul do Espírito Santo, onde fica a planta de beneficiamento da empresa.
A Magban transforma esse material bruto em chapas que, a partir do porto de Tubarão, em Vitória, são colocadas em navios com destino a países como Estados Unidos, China, Itália e Emirados Árabes. Os preços das rochas variam de acordo com o tipo do material, mas, segundo estimativas feitas por empresários do setor, entre a forma bruta e o produto acabado, o valor pode subir de 50% a 400%.
Extração de granito gera impactos ambientais que nem sempre são compensados pelas empresas.
Extração de granito gera impactos ambientais que nem sempre são compensados pelas empresas.

“Um bloco bruto de quartzito branco, por exemplo, custa US$ 26,4 mil. Ele é transformado em 56 chapas, somando US$ 60 mil. Tirando o gasto com frete e a parte da industrialização, que inclui serrar, resinar e polir, o valor agregado é de 30% a 50%. Esse é o dinheiro que Minas deixa de ganhar porque, como não tem indústria, manda as rochas para o Espírito Santo”, explica o vice-presidente do Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Beneficiamento de Mármores, Granitos e Rochas Ornamentais do Estado de Minas Gerais (Sinrochas-MG), Eduardo Félix.
Já o empresário Evandro Sena, da cidade de Medina, no Médio Jequitinhonha,  calcula que, em média, cada metro quadrado bruto de rocha ornamental custa US$ 30. Depois de beneficiado, o metro quadrado da chapa custa de US$ 100 a US$ 150.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Rochas Ornamentais (Abirochas), o país exportou US$ 992 milhões em 2018. Desse total, US$ 791 milhões (80%) são do Espírito Santo.
Ao todo, Minas exporta US$ 121 milhões, sendo metade de rochas como ardósia, que já saem na forma de chapas, pois o processo industrial é mais simples. Já granito e feldspato, que são pedras mais duras e precisam de teares de diamante para o processamento, foram praticamente todos exportados como matéria prima.
“Considerando os blocos, Minas exportou US$ 60 milhões. Se fossem produtos acabados, poderia exportar US$ 140 milhões”, afirma o geólogo Cid Chiodi, consultor da Abirochas.
Mas o potencial de ganho é ainda maior. “Dos US$ 791 milhões exportados pelo Espírito Santo, US$ 205 milhões são proporcionados por rochas que Minas manda para serem beneficiadas pelas indústrias capixabas.
Se exportasse os produtos acabados e tivesse indústria capaz de beneficiar tudo que o Estado manda para o Espírito Santo, o faturamento (considerando blocos e chapas processadas) praticamente triplicaria, chegando a US$ 345 milhões”, acrescenta Chiodi.
Ou seja, nessa conta, só em blocos que poderiam ser processados aqui, dos US$ 60 milhões para os US$ 345 milhões, são US$ 285 milhões que ficam pelo caminho – aproximadamente R$ 1,1 bilhão.
Espírito Santo concentra maioria das industrias de beneficiamento. Rochas são exportadas para os Estados Unidos, China, Itália e Emirados Árabes
Espírito Santo concentra maioria das industrias de beneficiamento. Rochas são exportadas para os Estados Unidos, China, Itália e Emirados Árabes

Falta de incentivo gera fuga de indústrias
O Espírito Santo é o maior exportador de rochas ornamentais do Brasil, mas cerca de um terço do que é vendido de lá para outros países sai das jazidas mineiras.
“No geral, 30% das rochas beneficiadas no Espírito Santo são fornecidas por Minas. Se formos considerar só os materiais mais exóticos, sobe para 50%”, explica o presidente do sindicato do setor (Sinrochas-MG), José Balbino.
Se Minas Gerais tem tanta matéria prima, por que não tem indústrias? “Para mim, isso é uma interrogação. Talvez não tenha respostas. Minas é o segundo maior produtor de rochas, é uma economia potente e tem uma infraestrutura logística que muitos Estados invejam. O que falta é estratégia e diálogo entre o poder público e o setor produtivo”, responde o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria das Rochas Ornamentais (Abirochas), Reinaldo Sampaio.
Segundo Balbino, não há uma política pública eficiente por aqui. “Minas perdeu o timing da industrialização do setor. Há 40 anos, o governo perdeu a oportunidade de incentivar as empresas que estavam extraindo. Essa falta de incentivo significou a ida das indústrias para o Espírito Santo e fez com que elas crescessem na parte do beneficiamento. Tudo isso, junto da falta de apoio em relação à agilidade nos licenciamentos ambientais, à falta de incentivos tributários e de linhas de financiamento em Minas, acabou com a possibilidade de crescimento da indústria no Estado”, avalia Balbino.
Segundo o representante do setor, a combinação de falhas também tirou do Norte de Minas, do Vale do Jequitinhonha e Mucuri a chance de diversificar a economia da região. Hoje, só de granito, das 91 cidades que têm lavras registradas na Agência Nacional de Mineração (ANM), 34 ficam nessas regiões.
Fonte: OTEMPO
Comentário do Blog
O setor de beneficiamento de rochas ornamentais do Espírito Santo gera em torno de 135 mil empregos. Considerando que Minas contribui com 30% da matéria prima para o setor, o beneficiamento realizado em Minas e a posterior exportação poderia gerar cerca de 40 mil empregos diretos e indiretos no Estado.
E toda essa produção estadual poderia contribuir com o desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha, Mucuri e norte de Minas, regiões de maior incidência da produção natural desses minerais.

As principais jazidas de rochas ornamentais estão em municípios como Coronel Murta, Datas, Diamantina, Itinga, Medina, Serro e São Gonçalo do Rio Preto, no Vale do Jequitinhonha e Franciscópolis, no Vale do Mucuri.  

Um comentário:

Marcelo Ramos disse...

No vale do Jequitinhonha não pode contar com governo do estado, nunca poderá vivem de respingos do que sobram. Se tivéssemos um governo essa região teria se desenvolvido e não precisava apenas das sobras quando chega.mais para raspar os minerais da região e levar a troca de merrecas sempre tiveram.

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