sábado, 6 de junho de 2020

Jequitinhonha: De Belmonte, na Bahia, a Diamantina - uma via de conhecimento, arte, design, gente e identidade cultural

De Belmonte a Diamantina, 
do mar ao sertão.
Confira o texto, fotos e o video dos principais momentos da expedição da Casa Vogue ao Vale do Jequitinhonha, 
em 2018.
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·         TEXTO MARIANA CONTE | ESTILO ADRIANA FRATTINI | PRODUÇÃO RAFAEL ALVES | FOTOS RUY TEIXEIRA | PROGRAMAÇÃO VISUAL HARDY DESIGN
06 DEZ 2018 - 06H04 ATUALIZADO EM 02 SET 2019 - 17H46.

Durante dez dias, Casa Vogue percorreu a região do Vale do Jequitinhonha para explorar as expressões culturais da região que influenciam o design brasileiro. Rio acima, de Belmonte, na Bahia, a Diamantina, em Minas Gerais, encontramos beleza, inspiração e pessoas que lutam – e realizam. A seguir, os registros dessa emocionante expedição.
BELMONTE
Em terra de Zanine Caldas

“AS PESSOAS SÃO COMO OS RIOS, SE FORTALECEM QUANDO SE ENCONTRAM”. De autor desconhecido, a frase apareceu no meio da jornada desse primeiro Casa Vogue na Estrada, como que a evidenciar, em palavras, o que vivemos e presenciamos nos inúmeros encontros à beira do Rio Jequitinhonha: força, afeto e identidade.

Museu das Cadeiras de Belmonte chega a São Paulo durante o DW ...
Em frente ao recém-inaugurado Museu das Cadeiras Brasileiras, em Belmonte, BA, da esq. para a dir., as cadeiras: Esqueleto (2012), de Pedro Franco, da A Lot Of; Cobra Coral (2016), de Sérgio Matos; Menna (1978), de Sergio Rodrigues, na Dpot; Sem nome (anos 1950), de José Zanine Caldas; Assimétrica (2017), de Fernando e Humberto Campana para Tok&Stok; Torno (2017), de Gustavo Bittencourt; Guapa (2018), de Inês Schertel; Broto (2008), de Morito Ebine; e Girafa (2018), de Juliana Vasconcellos ( Ruy Teixeira)

A expedição começou num dos endereços mais bonitos que um lugar pode ter: a esquina deste rio com o Oceano Atlântico. Ali está Belmonte, cidadezinha pacata no sul da Bahia, com cerca de 20 mil habitantes, que se alimenta da foz do rio, do cacau, das belas paisagens e da arquitetura histórica. É também cidade natal do mestre José Zanine Caldas (1919-2001), arquiteto, designer e maquetista autodidata cuja memória permanece vivíssima graças ao filho, o designer Zanini de Zanine.
Casa Vogue na Estrada: os melhores momentos da nossa expedição pelo Vale do Jequitinhonha (Foto: Ruy Teixeira)
A casa onde nasceu Zanine Caldas, que hoje abriga o Sindicato Rural de Belmonte, sediará o museu sobre a obra do arquiteto ( Ruy Teixeira).
Belmonte acaba de inaugurar o Museu das Cadeiras Brasileiras, uma iniciativa que nasceu do encontro de Zanininho, como é conhecido, com Daniel Katz, da Katz Construções, e que pretende registrar a cultura nacional e perpetuar o legado do design nacional. “Vai funcionar como um apêndice do museu Zanine Caldas”, explica Zanini, revelando a próxima empreitada: um espaço em homenagem ao pai, com estreia em 2019, ano do centenário do mestre. O local escolhido não poderia ser mais simbólico: a casa onde Zanine Caldas nasceu e viveu até os 17 anos – atual sede do Sindicato Rural de Belmonte. O projeto terá assinatura do arquiteto Marcio Kogan e o museu vai contar com um acervo de móveis, maquetes, croquis, fotos, vídeos e itens pessoais. “É a realização de um sonho, dividir uma obra de extrema importância e brasilidade nessa área cultural com o povo de Belmonte e os amantes de arquitetura, arte e design”, afirma Zanini.

Casa Vogue na Estrada: os melhores momentos da nossa expedição pelo Vale do Jequitinhonha (Foto: Ruy Teixeira)
Da esq. para a dir., Lissa Carmona, CEO da Etel, o designer Zanini de Zanine e Etel Carmona, com os protótipos dos móveis de Zanine Caldas que serão reeditados pela Etel em 2019. ( Ruy Teixeira)

Além da atuação como maquetista de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, e de projetar com extremo respeito aos contornos da natureza, Zanine Caldas foi um notável designer. Pioneiro da indústria moveleira moderna, amante das madeiras nacionais, na década de 1970, ele se dedicou ao design artesanal e às formas brutas, essenciais. Todo esse repertório foi estudado e esmiuçado pela Etel, marca que valoriza o traço brasileiro e mantém em produção peças de grandes nomes, e que lançará, também no próximo ano, uma coleção com poltrona, cadeira, espreguiçadeira, mesa lateral, escrivaninha, estante, revisteiro e outras peças de Zanine Caldas. “Serão entre 12 e 15 móveis reeditados e realizados em intensa parceria com a família Caldas, com total supervisão do seu filho”, diz Lissa Carmona, CEO da Etel. Esse trabalho de reviver ícones do mobiliário nacional, preservando suas identidades e usando a tecnologia atual, é uma especialidade da empresa, que tem no portfólio criações de Oscar Niemeyer, Lina Bo Bardi, Sergio Rodrigues, Jorge Zalszupin, entre outros. “Para nós, é como um resgate da história, do legado desses profissionais. Queremos dar vida ao universo de Zanine Caldas e preservar sua herança”, conclui.
Casa Vogue na Estrada: os melhores momentos da nossa expedição pelo Vale do Jequitinhonha (Foto: Ruy Teixeira)
A artesã Dagmar Muniz esculpe um de seus vasos de 2 metros ( Ruy Teixeira)
Completando nossa passagem por Belmonte, outra descoberta notável foi dona Dagmar. Aos 76 anos e com 1,60 m de altura, a artesã produz, num vai e vem e sobe e desce constantes, peças de cerâmica que incluem vasos de 2 m. “Deus me deu saber e me deu o poder de subir nos bancos para ir a dois metros de altura”, fala, enquanto demonstra sua arte e sua energia incansável. E tudo isso sem usar torno: são as próprias mãos e o auxílio de cartões de plástico e galhos que dão forma e autenticidade às suas obras.
Casa Vogue na Estrada: os melhores momentos da nossa expedição pelo Vale do Jequitinhonha (Foto: Ruy Teixeira)
Manuelle Ferraz, cozinheira e idealizadora do restaurante A Baianeira ( Ruy Teixeira)
ALMENARA
A Baianeira

Seguindo em direção à nascente do Rio Jequitinhonha, paramos em Almenara, MG, cidade natal de Manuelle Ferraz (acima), cozinheira e idealizadora do restaurante A Baianeira, em São Paulo. Ela nos recebeu com sua família na casa onde passou boa parte da infância, e preparou uma refeição recheada das raízes e da alma do Vale do Jequitinhonha. No cardápio, abóbora com quiabo, maxixe e mamão verde com carne-de-sol, receitas típicas de um almoço de domingo da região. A energia de Manu, do seu fazer com simplicidade e da essência que mistura Minas e Bahia, transparece quando ela fala da comida, das suas influências e do poder das mulheres de sua vida. E todas essas forças somadas estão no sabor de sua culinária. Com Manu, passeamos pelo Mercado Municipal de Almenara, de onde ela importa boa parte dos ingredientes que usa no restaurante paulistano, fortalecendo e valorizando a rede de produtores da região.

Casa Vogue na Estrada: os melhores momentos da nossa expedição pelo Vale do Jequitinhonha (Foto: Ruy Teixeira)
O artesão seu Paulo, de 83 anos, usa pedaços de madeira achados soltos pela natureza para construir brinquedos ( Ruy Teixeira)
ARAÇUAÍ
Madeira lúdica

No caminho para a comunidade rural de Córrego da Velha, no município de Araçuaí, MG, estradas de terra e um cenário com cactos descortinava o sertão mineiro. Casinhas comuns, dessas que desenhamos quando criança, margeavam nossa travessia. Apesar do clima árido da região, a chuva veio forte naqueles dias, a poeira baixou e a vegetação acendeu: um lindo contraste de cores.
Casa Vogue na Estrada: os melhores momentos da nossa expedição pelo Vale do Jequitinhonha (Foto: Ruy Teixeira)
Brinquedos feitos pelo seu Paulo ( Ruy Teixeira)

À direita da estrada, uma árvore potente e um portãozinho feito de lascas de madeira dão as boas-vindas ao universo do seu Paulo (mais acima), um senhor de 83 anos que usa pedaços de madeira achados soltos pela natureza para construir brinquedos. Vacas e bezerrinhos, cavalos, meninos, meninas, mulheres e homens fazem parte do repertório do artesão – são referências presentes no seu dia a dia. A criatividade vai longe, encanta crianças e adultos, mas a energia para produzir já não é a mesma de alguns anos atrás. “A gente vai seguindo. Tem gente que fala que vou fechar os 90, mas 100 acho que não fecho não. É só Deus que sabe. Nós não sabe de nada” [sic], reflete.
Casa Vogue na Estrada: os melhores momentos da nossa expedição pelo Vale do Jequitinhonha (Foto: Ruy Teixeira)
A tecelã dona Ana e a diretora criativa da Coven, Liliane Rebehy, no Curtume, com as bolsas da grife feitas a partir das mantas tecidas por dona Ana ( Ruy Teixeira)
JENIPAPO DE MINAS
Unidas pelo bordado

Por onde passávamos, a recepção combinava abraços apertados, uma felicidade guardada em sorrisos ora tímidos ora escancarados, e um cafezinho com biscoitos e queijo. Ao chegarmos na Associação Jenipapense de Assistência à Infância (Ajenai), na cidade de Jenipapo de Minas, não foi diferente. Elisângela Pedroso Lopes, coordenadora da associação, guiou-nos rumo a um dos encontros mais preciosos da expedição, na comunidade do Curtume. Lá, vivem mulheres fortes. Muito mais fortes e resistentes depois de terem se conhecido e formado o grupo das Bordadeiras do Curtume.

Casa Vogue na Estrada: os melhores momentos da nossa expedição pelo Vale do Jequitinhonha (Foto: Ruy Teixeira)
As bordadeiras, com Ana Vaz ao centro, e seus estandartes, que estão à venda na loja Marcas Mineiras, em Tiradentes, MG, pelo instagram @tecelas_ bordadeiras e, a partir de fevereiro, nas lojas da Coven
( Ruy Teixeira)
Com a coordenação da consultora de projetos sociais Viviane Fortes e o apoio da Ajenai, essas mulheres foram estimuladas a fazer companhia umas às outras e a resgatarem sua autoestima e cultura. “O dia a dia delas é muito duro. Os maridos saem para procurar trabalho, normalmente no corte de cana ou em plantações de café, e ficam meses, às vezes anos, fora de casa. Elas vivem um abandono, adoecem, ficam deprimidas e, ainda assim, precisam dar conta de sustentar a família, trabalhando na roça e plantando o que comem”, relata Viviane.
Foi durante essas reuniões que manifestou-se o conhecimento do bordado. Quem sabia ensinou para quem não sabia e o filho de uma delas, Diogo, fez os desenhos, que são imagens que ele vê na comunidade: as mulheres, os bichos, as plantas. As bordadeiras preenchem e dão vida a esses contornos com a técnica do ponto cheio. O resultado é um bordado com muita identidade. “A gente conversa, ri, canta, brinca e se distrai. Bordar ajuda não só financeiramente, mas psicologicamente. É um prazer ver a nossa arte agradar outras pessoas”, orgulha-se Marli, umas das artesãs.

Casa Vogue na Estrada: os melhores momentos da nossa expedição pelo Vale do Jequitinhonha (Foto: Ruy Teixeira)
As camisas da Coven assinadas pelas Bordadeiras do Curtume (Foto: Ruy Teixeira)
Uma vez engrenado o trabalho, veio a ideia de torná-lo fonte de renda. Para dar suporte, Viviane convidou a designer têxtil Ana Vaz, que auxiliou a estruturar o processo e, em conjunto com as bordadeiras, deu luz a uma coleção de estandartes com bordados de desenhos autorais e tecidos tingidos com cascas e plantas nativas, tudo feito por elas. “É como se a gente estivesse levantando uma bandeira.  A bandeira do afeto, do amor, porque mesmo com tantas dificuldades, é incrível a generosidade dessas mulheres”, diz Ana.

A rede de colaboração foi aumentando, e Ana contatou Liliane Rebehy, diretora criativa da Coven, que doou tecidos e fios para o projeto. Mais do que isso, Liliane foi conhecer de perto o Curtume. Da sua imersão, nasceu a coleção inverno/2019 da marca mineira, referência fashion em todo o Brasil. “A moda precisa ser movida por uma paixão. A Coven está fazendo 25 anos e eu estava me sentindo muito desmotivada. Quando voltei do Vale e comecei a mexer nas coisas que eu trouxe, relembrar o que vi e vivi, percebi que estava tudo ali”, conta Liliane. 

Lá, ela também conheceu outras duas figuras fundamentais, dona Ana e dona Cena, que trabalham com teares pequeninos e tecem lindas mantas com uma noção estética genuína. Essas tramas estão nas novas bolsas da grife, e os bordados aparecem em camisas que terão todo o lucro revertido para as bordadeiras. 
“Me entreguei ao desafio de criar a coleção com uma temática regionalista, para direcionar atenção para essas pessoas, mas sem deixá-la literal, caricata, acrescentando meu olhar e a identidade da Coven. É muito mais prazeroso e faz muito mais sentido quando você tem esse envolvimento com pessoas, quando essa inspiração não é só material ou estética, ela é afetiva, humana”, completa Liliane, com a preocupação de manter esse compromisso social após a temporada chegar ao fim. 
“Pretendo expor e vender as peças da comunidade tanto nas lojas em Belo Horizonte e São Paulo quanto no e-commerce, que está quase pronto”.

Casa Vogue na Estrada: os melhores momentos da nossa expedição pelo Vale do Jequitinhonha (Foto: Ruy Teixeira)
Zé do Ponto, o famoso artesão de Chapada do Norte ( Foto: Ruy Teixeira)

CHAPADA DO NORTE
Design naif

A caminho de Turmalina, paramos na cidade de Chapada do Norte, MG, para encontrar o famoso Zé do Ponto (acima). Filho de tropeiro, aos 12 anos ele já produzia caixas de couro para ajudar no transporte de secos e molhados. Hoje, é famoso por seus itens de madeira, com tramas em couro e palha de milho. São bancos, cadeiras, baús, tamboretes e bolsas com marca registrada. “O trabalho dele tem puro estilo rural, campestre. É genuíno, como arte naïf. Ele produz de forma espontânea, mas com muito senso estético, peças que estão no imaginário coletivo”, resume Adriana Frattini, diretora de estilo da Casa Vogue, que se encantou pelo seu Zé do Ponto.

Casa Vogue na Estrada: os melhores momentos da nossa expedição pelo Vale do Jequitinhonha (Foto: Ruy Teixeira)
Fábrica Divina Terra, em Turmalina, MG (Ruy Teixeira).
TURMALINA
Artesanato industrial

Chegando em Turmalina, MG, uma mudança de perspectiva: das microproduções para uma escala maior. Era a fábrica da Divina Terra, onde o fazer artesanal ainda prevalece na produção industrial de revestimentos, tornando únicas as mercadorias saídas dali – que são, em sua grande maioria, prensadas, cortadas e esmaltadas à mão.

Casa Vogue na Estrada: os melhores momentos da nossa expedição pelo Vale do Jequitinhonha (Foto: Ruy Teixeira)
Cobogó Mão, assinado pelos irmãos Campana em parceria com a Divina Terra (Foto: Ruy Teixeira).
Foi essa prática manual e cuidadosa que atraiu o Instituto Campana, dos irmãos Fernando e Humberto, para desenvolver, em parceria com a Divina Terra, o cobogó Mão (acima), peça que celebra o design autoral brasileiro e chama atenção para o desastre ambiental ocorrido em Mariana, MG, em 2015. Aproximar o design de técnicas ancestrais de diferentes regiões do Brasil e, com isso causar uma transformação na sociedade, é a bandeira levantada pelo Instituto Campana.

Casa Vogue na Estrada: os melhores momentos da nossa expedição pelo Vale do Jequitinhonha (Foto: Ruy Teixeira)
O banco Trio, de Juliana Vasconcellos, feito com mogno africano do Grupo Khaya Woods .
(Foto: Ruy Teixeira)
CAPELINHA
Mogno africano

Seguindo pelo Vale do Jequitinhonha, a paisagem começa a mudar quando plantações de café despontam no horizonte. O destino da vez era a Fazenda Primavera, no município de Capelinha, MG. Por lá, junto à produção cafeeira, árvores altas roubam a cena. São os mognos africanos, plantas de uma madeira nobre com excelentes propriedades físicas e mecânicas para a indústria moveleira, e uma opção ao mogno brasileiro, que teve seu corte proibido pelo Ibama devido ao desmatamento ilegal e à quase extinção da espécie. “É uma árvore de crescimento relativamente rápido em comparação com outras madeiras de lei”, conta Patricia Fonseca, diretora executiva da Associação Brasileira dos Produtores de Mogno Africano.

Casa Vogue na Estrada: os melhores momentos da nossa expedição pelo Vale do Jequitinhonha (Foto: Ruy Teixeira)
Plantação de mogno africano na Fazenda Primavera e estátuas esculpidas nessa madeira por Ricardo das Artes, de Prados, MG. (Foto: Ruy Teixeira)
Segundo ela, ao unirem as plantações, os produtores perceberam que o café se beneficiava do sombreamento das árvores de mogno. A associação tem se encarregado de estimular testes com a matéria-prima e criou o Mahog Project, que incentiva o uso do material em peças de design, como o banco Trio, da arquiteta e designer mineira Juliana Vasconcellos.

Casa Vogue na Estrada: os melhores momentos da nossa expedição pelo Vale do Jequitinhonha (Foto: Ruy Teixeira)
Uma das salas da Pousada Relíquias do Tempo, sediada em um casarão do século 19 no centro de Diamantina, que guarda preciosidades como fotografias do renomado retratista Chichico Alkmim, boneca de Durvalina Gomes Francisco e arraiolo de Maria Tadeu (sobre o sofá). (Foto: Ruy Teixeira)
DIAMANTINA
Design final

Próxima à nascente do Rio Jequitinhonha, que fica em Serro, Diamantina, MG, foi a parada final do primeiro Casa Vogue na Estrada. Pelas ruelas de pedra, íngremes e sinuosas, estão casarões históricos de arquitetura colonial, que enchem de charme a cidade. A beleza de suas construções e de seu povo foi amplamente admirada e registrada pelo fotógrafo Chichico Alkmim (1886-1978) entre as décadas de 1910 e 1950. Chichico tinha uma sensibilidade única para retratar pessoas. Mulheres, homens e crianças, negros e brancos, ganhavam vida e um registro na história através de suas lentes. Em busca destes retratos, chegamos à Pousada Relíquias do Tempo, com obras raras do fotógrafo e um patrimônio cultural da história diamantinense. Fomos apresentados a cada cantinho do local, que conserva pequenos “museus” sobre a cidade, por Carmen, nascida em um daqueles quartos, e Leonardo, seu marido.

Casa Vogue na Estrada: os melhores momentos da nossa expedição pelo Vale do Jequitinhonha (Foto: Ruy Teixeira)
Clube Social, obra de Oscar Niemeyer no centro histórico de Diamantina, MG, hoje completamente abandonado (Foto: Ruy Teixeira).
Em meio aos prédios históricos, é possível achar obras modernas de Oscar Niemeyer, como o Hotel Tijuco, ainda em operação, e o Clube Social, que teve importante papel na cidade e, hoje, encontra-se totalmente abandonado. Os edifícios fazem parte da modernização do município, iniciada um pouco antes de um de seus cidadãos mais ilustres assumir o governo de Minas Gerais: Juscelino Kubistchek.

Casa Vogue na Estrada: os melhores momentos da nossa expedição pelo Vale do Jequitinhonha (Foto: Ruy Teixeira)
A pequena capela da Pousada Relíquias do Tempo (Foto: Ruy Teixeira).
Outra riqueza local é a música. Todos os anos, entre abril e outubro, Diamantina recebe as Vesperatas. Em dias específicos, a partir das 20 h, músicos diversos se apresentam por mais de duas horas das sacadas dos casarões seculares enquanto os maestros regem do meio da rua. Em 2016, o evento foi considerado Patrimônio Cultural de Minas Gerais. A música diamantinense, no entanto, já aparecia em crônica de Carlos Drummond de Andrade, em 1972: 
“Quem, conhecendo Diamantina, será capaz de não gostar de Diamantina? Mesmo não conhecendo: ouvindo falar. Pois, entre outras excelências, o povo de Diamantina é povo que canta, e isto significa riqueza de coração.” 
Impossível discordar do poeta!

Confira a publicação original e o bonito video da expedição Casa Vogue:
casavogue.globo.com/LazerCultura/Viagem/noticia/2018/12/os-melhores-momentos-da-nossa-expedicao-pelo-vale-do-jequitinhonha.html

Fonte: Revista Vogue, 06.12.2018

Outras informações do Blog:
O Vale do Jequitinhonha é retalhado em muitas partes e microrregiões pelos técnicos planejadores do Estado. Isso cria desinformações sobre o território da Bacia Hidrográfica do Rio Jequitinhonha. 
A Bacia do Rio Jequitinhonha forma o Vale do Jequitinhonha que ocupa um vasto território em Minas, parte da região central, nordeste e norte de Minas, e também no sul da Bahia. 
O rio Jequitinhonha nasce na Serra do Espinhaço, na região de Milho Verde, no município de Serro, região Central de Minas, percorre 1.090 km até chegar na sua foz no município de Belmonte, na Bahia. A bacia do rio Jequitinhonha compreende uma área de 70.315 km², sendo que 66.319 km² situam-se em Minas Gerais, enquanto 3.996 km² pertencem à Bahia representando 11,3% da área do estado mineiro e apenas 0,8% do baiano.
Confira o Mapa do IBGE:
Vale do Jequitinhonha - Blog do Banu: Mapa do Vale do ...

Um comentário:

Herena disse...

Estranho não passarem em Pasmadinho

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