quinta-feira, 22 de março de 2018

Dia Mundial da Água vê protesto contra privatização da água

Água e energia não são mercadoria!
Com gritos de protestos contra as multinacionais da água 
como a Nestlé e a Coca-cola, participantes
do Fórum Mundial Alternativo da Água protestou pelas ruas de
 Brasília.

Milhares de ativistas protestaram hoje nas ruas de Brasília, que acolhe o Fórum Mundial da
 Água, contra a privatização da água, considerado um dos direitos humanos e um bem público 
por parte das Nações Unidas.
A manifestação, que coincide com a celebração do Dia Internacional da Água, começou no 
Parque da Cidade, uma das zonas verdes da capital brasileira que neste momento acolhe 
um fórum alternativo ao Fórum Mundial da Água (FMA). O FMA reúne em Brasília
 delegações oficiais e empresas de 150 países, bem como representantes de organizações 
multilaterais.
Ainda antes do protesto pelas ruas de Brasília, vários outros movimentos sociais 
realizaram uma outra manifestação em frente ao Congresso brasileiro, a exigir a 
inclusão da água numa "agenda estratégica para o desenvolvimento", que garanta o 
"aceso de todos" a este recurso natural.
Ambas as mobilizações decorreram de forma pacífica, ainda que sob forte 
vigilância da polícia, que destacou centenas de agentes, polícia montada e dois 
helicópteros para controlar de cima os protestos.
A questão da água é particularmente sensível no Brasil. Segundo dados apresentados 
no FMA, pelo menos 35 milhões de pessoas no Brasil não têm acesso direto a água 
e outros 60 milhões não dispõem de saneamento básico, com os consequentes impactos 
na saúde pública.
Antes da manifestação, ativistas de diversos movimentos sociais ocuparam - por umas horas - 
as instalações da multinacional Coca-Cola nos arredores de Brasília, tal como já tinham feito 
esta semana com uma fábrica da Nestlé no estado de Minas Gerais.
Os manifestantes, liderado por ativistas do Movimento dos Sem Terra (MST), acusam as duas 
companhias de estarem a negociar com o Governo brasileiro a possível compra de importantes 
aquíferos. A duas empresas, a gigante norte-americana Coca-Cola e a suíça Nestlé, já 
desmentiram essa acusação.
Em todo o mundo, indicam dados apresentados no Fórum, cerca de 2.000 milhões de pessoas 
não têm água nas suas casas e as crianças dos países mais pobres do planeta dedicam 200 
milhões de horas por ano a encontrar e a transportar água em baldes até às suas residências.
Estes dados foram apresentados pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a 
Ciência e a Cultura (UNESCO).

Contra a privatização da água

Movimentos sociais se mobilizam no Fórum 
Alternativo Mundial da Água
por Adriana Castro (texto e fotos), especial para os Jornalistas Livres
Durante a abertura do 8º Fórum Mundial da Água, na manhã desta segunda-feira (19/3), Michel
 Temer informou que o governo trabalha em um projeto de lei cujo objetivo é “modernizar” o 
marco regulatório do saneamento básico. Sem mais detalhes, a proposta causou reações 
imediatas.
A informação não é novidade, mas acende o alerta vermelho. Sindicatos ligados à Central 
Única dos Trabalhadores (CUT) adiantam que a proposta temerosa nada mais é do que Medida 
Provisória do Saneamento, que abre as portas do setor para a privatização nos municípios 
superavitários e o sucateamento ainda maior dos municípios deficitários, onde os serviços já 
são ruins. Esse é o futuro “moderno” do saneamento no país, caso seja aprovada a Medida 
Provisória.
Água não é mercadoria
Com visões de mundo diametralmente opostas e divergentes, dois grandes eventos – o 8º 
Fórum Mundial da Água e o Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA) – acontecem 
simultaneamente em Brasília. O primeiro, conta com patrocínio da Petrobras e Nestle, do 
combalido Sistema Único da Saúde/Funasa, da Sabesp, da Eletrobras e custo, não confirmado, 
de 120 milhões. De euros… São mais de 40 mil participantes, o que esgotou a capacidade 
da rede hoteleira na cidade. Cada participante tem que desembolsar algo em torno de dois 
mil reais para a inscrição.
Já o FAMA, promovido pelos movimentos sociais, sindicatos e organizações da sociedade se
 pagou por meio de doações, a entrada é gratuita e reúne seis mil participantes no Parque da 
Cidade, com 38 delegações estrangeiras e representantes de todas as regiões brasileiras.
A discussão central é uma só: a privatização da água. “Água é direito não mercadoria” é a 
bandeira do Fórum Alternativo Mundial da Água que até quinta-feira irá debater e propor 
políticas públicas e mobilização nacional contra a privatização da água.
A ideia é enfrentar a onda de privatização empreendida pelo governo golpista, que atualmente 
mira o saneamento básico e os setores de água e energia, este expresso na venda da Eletrobras 
e no desmonte da Petrobras.
Mas os ataques não são apenas do Executivo. Aberto à consulta pública, o projeto de lei 
nº 495/2017, do senador tucano Tasso Jereissati cria “o mercado da água”.
No FAMA há o consenso de lutar por um modelo público e de qualidade. E argumentos não 
faltam para embasar a proposta. Nos últimos anos vários serviços de água foram 
municipalizados. Na França, por exemplo, já são 106 municípios que retomaram da
 iniciativa privada os serviços de abastecimento d’agua. No mundo todo são 267 casos nos 
Estados Unidos, Alemanha, Argentina e Canadá.
Água para matar a fome
Rosmari Malheiros, diretora da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura 
(Contag), reafirmou a importância da água na produção de alimentos. Levar alimentos a 
mesa dos brasileiros é algo feito por pequenos e médios agricultores, responsáveis por plantar 
em torno de 70% de tudo que comemos.
Ela adiantou que os movimentos sociais do campo e da cidade estão unidos. “Vamos lutar 
ela não-mercantilização da água”, garantiu. Não só os agricultores. Os indígenas, quilombolas, 
comunidades tradicionais, estão representados no FAMA. Nesta terça-feira, por exemplo, os 
jovens Krenak participam de debates sobre o impacto do crime da Samarco na terra indígena
 em Resplendor (Minas Gerais). Passados dois anos do “acidente”, os Krenak dependem de 
caminhões-pipa para o abastecimento. Os peixes do rio Doce desapareceram há dois anos, 
anteriormente base da alimentação da população indígena.
No último final de semana, mais de 200 atividades foram realizadas na Universidade de 
Brasília (UnB). A programação continua até quinta-feira, desta vez no Parque da Cidade. 
Caravanas de todo canto do país ainda estão chegando. Serão mesas de debate, atividades 
culturais e a plenária final com a redação e votação do documento final.
A luta pela água em Correntina, Bahia
Na Bahia, a luta popular contra a privatização da água no município de Correntina, a 
920 km de Salvador, tem sido um dos destaques da atualidade.
O geraizeiro Jamilton Santos de Magalhães, da comunidade Fundo e Fecho de Pasto, 
conhece de perto o drama de quem precisa concorrer com a força política e econômica 
do agronegócio.
Para se ter uma ideia, os ruralistas respondem por cerca de 75% da captação de água de 
toda a Bacia do Rio São Francisco, responsável pelos afluentes que deságuam na região.
 A atividade compromete diretamente o acesso ao recurso por parte dos segmentos populares.
“Todo mundo sabe que, quando o agronegócio chega, muda tudo num local, aí a comunidade 
precisa lutar muito pra poder consumir água e pra manter o cerrado de pé. É uma luta dura, 
mas nós somos guardiões do cerrado e vamos continuar, porque ninguém pode morrer de 
sede estando na margem de um rio”, desabafa o geraizeiro.
A privatização e a contaminação dos recursos hídricos comprometem diretamente a 
manutenção dos biomas. No caso do cerrado, mais de 50% da área já foram destruídos. 
Segundo pesquisadores que atuam na região Centro-Oeste, todos os anos cerca de dez 
córregos ou rios desaparecem por conta do desequilíbrio ambiental. “Se a gente não
aprender a preservar isso, as consequências serão ainda mais graves no futuro”, sublinha 
Isolete Nichinieski.
O bioma tem um valor central para o meio ambiente e é responsável pela distribuição de 
boa parte da água que abastece o Brasil e a América do Sul. É dele que nascem os principais 
rios brasileiros, com destaque para as Bacias Amazônica, do São Francisco e do Prata.
Água pode significar morte!
“Em decorrência do sistema capitalista que exclui a maioria da população do direito
 à cidadania e do acesso às fontes essenciais, o quadro mundial de distribuição do 
consumo de água é aterrador.
De acordo com o Relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Fundo das 
Nações Unidas para a Infância (Unicef), divulgado em julho de 2017, mais de dois 
bilhões de pessoas, que representa cerca de 30% da população mundial, não têm 
acesso à água potável.
Além disso, mais de 60% não são atendidas por serviços seguros de saneamento – 
dessas, 160 milhões tem como única alternativa o consumo de água não tratada de 
fontes superficiais, como córregos e lagos. Como resultado, 361 mil crianças morrem 
com menos de 5 anos devido à diarreia.
Há também o alarmante número de 263 milhões de pessoas que se deslocam mais de 
30 minutos para ter acesso a uma fonte segura de água. Nesse caso, é importante 
risar a questão de gênero, já que a maioria desse montante é de mulheres, 
historicamente responsabilizadas pelos serviços domésticos e de cuidados. 
São diversos os exemplos ao redor do mundo de mulheres que caminham 
quilômetros com recipientes de água na cabeça para abastecer as necessidades 
para a reprodução da vida.
Precisamos utilizar esta semana para expor todos esses casos de violação dos
direitos fundamentais do ser humano, mas, sobretudo, reunir forças para continuar
 na luta em defesa da água e da vida.”
(Da Assessoria de imprensa / FAMA – http://fama2018.org/2018/03/19/
agua-e-direito-nao-mercadoria/ – por Guilherme Weimann, jornalista e 
militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB);
 integra a equipe de comunicação do FAMA.)
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