quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

É falsa a renúncia de Tirirca, Diz que vai, mas fica.

O deputado Francisco Everardo Oliveira Silva, o Tiririca (PR-SP), usou a tribuna do plenário pela primeira vez, na quarta-feira (06.12.17), nos quase sete anos em que ocupou uma das 513 cadeiras da Câmara, para anunciar o fim da sua carreira parlamentar e falar da sua decepção com a política. 

Em oito minutos de fala, ele se referiu às promessas que fez nas campanhas, que o ajudaram a receber mais de um milhão de votos em 2010 e 2014. 

Beneficiado pelo desgaste de imagem que já atingia parte da classe política brasileira naquela época, o palhaço e cantor foi eleito e reeleito usando frases como “pior do que tá não fica” e “o que é que faz um deputado federal? Na realidade eu não sei, mas depois eu te conto”. O deboche, explicado como um “voto de protesto”, levou o estreante à Câmara. 

Ele escolheu como partido o PR, comandado por nomes da política tradicional como Valdemar Costa Neto. Político paulista e deputado por seis mandatos, Costa Neto foi um dos 25 condenados no julgamento do mensalão em 2012 e é investigado por suspeitas de receber propinas do esquema revelado pela Lava Jato. 

Tiririca diz que vai sair do Congresso, ao final de 2018, de “cabeça erguida”, embora não tenha feito “nada”. “Mas o pouco que eu fiz eu fiz muito”, discursou. ‘Votei de acordo com o povo’ Tiririca encerra seu mandato com um projeto de lei aprovado, que inclui a atividade circense na Lei Rouanet – a proposta ainda aguarda aprovação no Senado. 

Ele reconhece que sua participação foi pouca, mas pondera que, “pelo menos”, votou de “acordo com o povo”. Ele afirmou que foi um dos deputados mais assíduos nas sessões e que nunca fez “nada de errado”. 

Em ao menos duas ocasiões durante seus mandatos, porém, o deputado foi questionado a respeito do uso do dinheiro da cota parlamentar (recurso para custear despesas do mandato): uma por pagar diárias de um resort e outra por passagens aéreas para fazer shows – o que é irregular. Por meio de sua assessoria, ele declarou que fez tudo de acordo com as regras da Câmara. 

“Não fiz muita coisa, mas pelo menos fiz o que sou pago para fazer, estar aqui e votar de acordo com o povo. (...) Tem gente boa [na Câmara], mas não dá para fazer muita coisa, porque a mecânica daqui é louca” Tiririca (PR) deputado federal, em discurso na tribuna da Câmara, na quarta-feira (6) 

Entre 2010 e 2017, Lava Jato e crises nacionais 

A primeira campanha de Tiririca foi em 2010, ano em que a Lei da Ficha Limpa foi aprovada. O mensalão havia estourado cinco anos antes. E no ano anterior, outros escândalos atingiram parlamentares e nomes tradicionais da política. 

Para citar alguns exemplos, em 2009 veio à tona o “mensalão do DEM”, esquema de corrupção que levou à prisão o então governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda. Na TV apareciam imagens de políticos guardando dinheiro em bolsos, bolsas e nas meias. Também em 2009 foi revelada a “farra das passagens”, uso indevido do dinheiro público para deslocamentos feito por deputados e senadores – caso ainda sem desfecho judicial. 

Um contexto negativo que em parte contribuiu para a eleição de Tiririca, com 1,35 milhão de votos em São Paulo, o mais votado no estado.
 “Oi, eu sou o Tiririca da televisão. Sou candidato a deputado federal. O que é que faz um deputado federal? Na realidade eu não sei, mas depois, eu te conto” Tiririca (PR-SP) em propaganda eleitoral na campanha de 2010 

Graças ao desempenho de Tiririca, outros três deputados foram eleitos aproveitando-se dos votos recebidos pelo humorista. O desempenho de 2010 fez Valdemar Costa Neto repetir a aposta no humorista, que em 2014 protagonizou as propagandas eleitorais do PR em São Paulo. 

Em outubro de 2014, a Lava Jato já estava em atuação, mas ainda sem efeitos visíveis naquela eleição. 

Tiririca foi reeleito, com pouco mais de 1 milhão de votos, o segundo mais votado em São Paulo (o primeiro foi Celso Russomanno, pelo PRB). 
“Eu falei para vocês que eu ia dizer o que um deputado federal faz. Deputado federal trabalha muito e produz pouco” Tiririca (PR-SP) em propaganda eleitoral na campanha de 2014 

De 2014 para cá, a Lava Jato ampliou seus efeitos e o número de investigados. O humorista não teve o nome mencionado nas apurações. Em 2010, quando Tiririca foi eleito, havia 168 parlamentares (de um total de 594) investigados ou respondendo a processos no Supremo Tribunal Federal. Sete anos depois, era 238 o número de deputados e senadores com pendências no Supremo, segundo levantamento feito em julho pelo site Congresso em Foco. Daquele total, 91 deles têm ligação com a Lava Jato. Na esteira da operação, a política nacional passou por sua crise mais longa, com o impeachment de Dilma Rousseff em 2016 e com o sucessor, Michel Temer, duas vezes denunciado criminalmente em 2017. 

Atuação de Tiririca NO IMPEACHMENT
 O deputado votou a favor da autorização de abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff em abril de 2016. O processo foi de fato aberto e a petista perdeu o cargo. 

NAS DENÚNCIAS
Em 2017, a Câmara rejeitou as duas denúncias criminais contra Temer. Mas Tiririca votou pela abertura do processo contra o presidente, contrariando a orientação do PR. 

NA REFORMA TRABALHISTA 
O deputado também contrariou o partido e não apoiou a reforma trabalhista, aprovada em abril de 2017 e que está em vigor desde 11 de novembro. 

NA CRIAÇÃO DO FUNDO DE CAMPANHA 
Em outubro de 2017, Tiririca votou contra a criação do fundo público exclusivo para campanha, que acabou aprovado. 

NO PROJETO DO PRÉ-SAL 
Em outubro de 2016, Tiririca votou a favor do projeto de lei que retirou da Petrobras a obrigatoriedade de participar da exploração em campos do pré-sal (reserva de petróleo mais profunda). A trajetória da rejeição ao Congresso Após momentos de tamanho desgaste, o Congresso Nacional hoje é o pior avaliado, segundo pesquisa do Instituto Datafolha divulgada na  quarta-feira (6). 

A rejeição ao trabalho dos parlamentares atingiu 60%, o índice mais alto desde 1993, quando teve início o levantamento.  

Fim do ‘puxador de voto’ 
Parte do interesse do PR por um candidato com o perfil de Tiririca justificava-se pelo sistema eleitoral em vigor no país, que estimula a figura do “puxador de voto”. Por conta do sistema proporcional para eleição de vereadores e deputados, nem sempre o mais votado é eleito. Leva-se em consideração a somatória dos votos recebida por um partido ou coligação (aliança entre legendas). Logo, se um candidato consegue muitos votos, ele beneficia sua sigla e quem mais estiver coligada a ela. Graças ao desempenho de Tiririca, outros três deputados foram eleitos em 2010 e dois, em 2014.

 A partir de 2022 o efeito do puxador de voto na Câmara tende a diminuir em razão da reforma política aprovada pelo Congresso, em outubro. 

Já em 2018, vai começar a valer a cláusula de desempenho, que exige um percentual mínimo de votos para um partido ter acesso ao fundo partidário (recurso público destinado a legendas) e a tempo de TV. 

A partir de 2020, as coligações serão proibidas nas campanhas para deputados e vereadores, o que vai exigir que os partidos conquistem votos próprios, não podendo mais contar com o desempenho de candidatos de siglas aliadas.


Fonte: Nexo Jornal

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