quarta-feira, 27 de maio de 2009

Jequitinhonha, o Vale dos Esquecidos


Rodrigo Vianna e o Vale do Jequitinhonha
Meu colega Rodrigo Vianna foi ao Vale do Jequitinhonha fazer uma série de reportagens. Assisti no You Tube. Excelente. Jornalismo de primeiríssima qualidade.
A certa altura o Rodrigo lembra que os moradores do Vale melhoraram de vida graças aos programas sociais do governo mas que isso não basta para dar sustentação ao crescimento econômico da região.
De fato, e é isso o que me preocupa nos programas sociais de transferência de renda: como promover a independência de quem se inscreve no Bolsa Família, por exemplo. Nada contra a que essas famílias passem duas décadas recebendo dinheiro público. Ora, se os empresários recebem dinheiro do BNDES a perder de vista, por que o cidadão que precisa não pode receber ajuda?
Mas, como projeto de país de longo prazo, não bastam os programas assistenciais. É preciso investir na educação. E na infraestrutura. No vale do Jequitinhonha, no entanto, a grande atividade econômica é o plantio de eucaliptos para fazer papel e madeira. O tal do deserto verde. Uma atividade que degrada a ecologia e dá pequeno retorno econômico para a população como um todo.
É o tipo de atividade que os europeus, por exemplo, não querem mais. O "deserto verde" concentra a propriedade de terra, suga os recursos hídricos e detona o solo. É através desse tipo de atividade econômica que o Brasil se transforma, aos poucos, num grande exportador de água para a Europa, o Japão e os Estados Unidos. E não recebemos por isso. Em resumo, é uma atividade econômica em que alguns poucos ganham e o Brasil, como um todo, perde.
É aí que enxergo o nó para o projeto de país do PT e de Lula. Os programas de transferência de renda deveriam ser apenas o primeiro passo. O Prouni oferece oportunidade de ensino universitário para milhões de brasileiros que, caso contrário, não teriam acesso à educação superior. Mas acaba funcionando mais como transferência de dinheiro público para universidades de qualidade duvidosa. O Brasil ainda forma mais advogados que engenheiros.
O governo Lula avançou, mas não conseguiu romper com a lógica segundo a qual, na divisão internacional do trabalho, o papel do Brasil acima de tudo é de fornecedor de mão-de-obra, matérias primas, solo, sol e água.
Para quem não assistiu a série do Rodrigo, está aqui. Em minha modesta opinião, nesse momento ele é o melhor telejornalista brasileiro, pela sensibilidade com que lida com as pessoas e os temas.
Este Post está no Blog do jornalista Luiz Carlos Azenha.
Você, que não viu a série de reportagens, aproveite e dê sua opinião.
Quando assistimos certas reportagens sobre o Vale, assustamos com os olhares vesgos e preconceituosos de repórteres e cientistas "neutros".
Eles inda vão ver o que é bom pra difruço!
Quem não pode com formiga, não atiça o formigueiro!!

Um comentário:

Álbano Silveira Machado disse...

Esta reportagem foi mais sensível, mas peca na abordagem de cada personagem. Ao entrevistar o garimpeiro o repórter apenas descreve romanticamente sua atividade. O garimpeiro do Jequitinhonha vende tudo que tem pra comer. O "sócio-capitalista" paga a feira para seu sustento e leva 50% de qualquer apuração de pedra que tiver. Os outros 50% são divididos para os "sócio-trabalhador", ou seja, os garimpeiros que sempre trabalham em dupla. Portanto, cad um tem apenas 25% do que produzir. Ele costuma vender parte dos 25% ou toda sua participação para dar de comer à família. Ou seja, quando tira pedra, bamburra, muitas vezes fica sem nada. Alías, continua sem nada, o tempo todo.
Mais outrõ olhar não abordado: todas as grandes reservas de minérios e pedras preciosas do Vale já têm dono. Pela lei, os donos são os que fazem pesquisa do sub-solo e registram na CPRM Companhia de Pesquisa de Recurso Minerais. Há muitos latifúndios no sub-solo do Vale, com grandes empresas multinacionais proprietárias das nossas riquezas. Pela lei, o proprietário de qualquer imóvel tem uma percentagem ínfima em caso de exploração mineradora em sua propriedade.

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