sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

: “Lula não será candidato”, afirma cientista político

Wanderley Guilherme dos Santos acredita que Lula deveria indicar quem apoia, desde já.

Escrito por , Postado em Eleições 2018Theo Rodrigues
Em mais um brilhante artigo publicado no blog Segunda Opinião, o professor Wanderley 
Guilherme dos Santos critica a narrativa de parcela da esquerda brasileira de que uma eleição 
sem Lula seria uma fraude.
Como Lula não poderá ser candidato na eleição de outubro, Wanderley defende que o 
ex-presidente aponte logo quem será seu candidato ou sua candidata presidencial.
De acordo com Wanderley Guilherme, “a vitória de um candidato ou uma candidata indicado/a 
por Lula, tendo abortado a festa conservadora ao exclui-lo das eleições, reduziria a estrume 
cavalar os votos fúteis de juízes boquirrotos”.
Entre os nomes que surgem como possíveis candidatos de Lula, figuram Manuela D´Ávila
 (PCdoB), Fernando Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT).
Leia abaixo o texto na íntegra.
Opiniões de um pequeno burguês
Por Wanderley Guilherme dos Santos
Lula não será candidato. Apesar da cristalina excepcionalidade de interpretações da lei e
evidentes arranhões em sua aplicação discricionária, só há fraude eleitoral quando o eleitor é
coagido, as urnas violadas ou o resultado adulterado. São mais de cento e quarenta milhões de
eleitores já registrados. A ausência de Lula castra a liberdade de escolha de cerca de um terço
deles, havendo sólido fundamento para a passionalidade com que reagem ao estupro.
Fraude eleitoral, porém, não será.
Quanto mais cedo as legendas populares perceberem a extensão da materialidade do que
elas próprias denunciam – comportamento seletivo de instâncias do Judiciário – mais clara
se tornará a ineficácia de pressões externas para alterar decisões recentes. Os últimos fracassos
se repetirão, com o risco nada desprezível de que a militância tenda a crescente desânimo.
As tempestades bíblicas têm faltado ao compromisso de inundar as instituições coatoras e
seria penoso, além de fatal, assistir ao raquítico desenlace de manifestações brancaleônicas.
Um líder da estatura de Lula, indestrutível encarnação da livre escolha de milhões de brasileiros,
não deve permitir a figuras subalternas expropriarem-no de autonomia para decidir.
Sair da disputa por acachapante submissão à sentença que o expulsa, seria desastroso.
Rebelar-se, tolo e infrutífero. O fantástico cabedal de confiança de que dispõe acabaria
balado, pois não existe derrota vencedora senão na esfarrapada desculpa de perdedores
crônicos. Não é próprio de líderes populares transferirem ao empenho dos liderados a
responsabilidade pelo sucesso de uma causa; no caso, garantia legal da candidatura Lula
à presidência. Especialmente quando se tem por certo que a derrota jurídica é inevitável.
O desbloqueio das candidaturas populares ocorrerá, quer por decisão antecipada de Lula,
quer por insuperável imposição legal: Lula não será candidato. O amargo de uma causa
perdida arrisca atropelar o entusiasmo dos responsabilizados, abandonando aos adversários
a arena que mais temem: a competição por votos. E o infeliz refrão de que eleição sem Lula
 é fraude acompanharia o féretro de uma campanha esquizofrênica, intrinsecamente
contraditória.
Ao contrário, a vitória de um candidato ou uma candidata indicado/a por Lula, tendo
 abortado a festa conservadora ao exclui-lo das eleições, reduziria a estrume cavalar os
votos fúteis de juízes boquirrotos. O jogo pede uma intervenção decisiva na estratégia:
superar o cerco de bispos dogmáticos e submeter um rei faz-de-conta, quase tísico,
a constante ameaça de cheque mate. Preso ou solto, vivo ou morto, Lula, sua rouquidão
e surpreendentes analogias, apavoram os grandes.
Embora conquistando degraus na escala de renda e prestígio, Lula manteve-se atado ao
fio terra que o conecta ao insubornável faro político dos desvalidos. Não se justifica
reduzi-lo a intérprete de um dos segmentos do seu eleitorado. Mais do que os conselhos de
uma classe média ilustrada e brava, a arriscar apenas o voto, é a expectativa de emprego,
comida, saúde, educação, segurança e habitação que orienta a escolha dos grupos vulneráveis.
e os benefícios da vitória são imponderáveis, o custo da derrota é certo e bruto.
Não há conciliação digna com o adversário nem é conveniente alimentar um radicalismo
encurralado pela legislação.
Interromper a catástrofe social impondo indiscutível derrota eleitoral à reação aponta para
objetivo constitucional e razoável. Contudo, é indispensável inaugurar, sem tergiversação,
 persistente propaganda em favor de eleições conforme a legislação em vigor, sem casuísmos
urgidos pela oscilação das pesquisas. Nem antes e nem, definitivamente, depois da votação.
A lei está a favor das expectativas dos desvalidos. Opor-se a ela, difamando as eleições, não
passa de grosseria contra a totalidade do eleitorado brasileiro.
Fonte: OCafezinho

Nenhum comentário:

Postar um comentário