domingo, 5 de janeiro de 2020

Pequi tem cheiro de festa e renda

Para superar a seca e a falta de trabalho, comunidades rurais do Norte de Minas apostam no pequi, um fruto do cerrado, que ganha cada vez mais consumidores pelo país. A fruta retirada do quintal gera renda e auxilia na preservação do meio ambiente.


Foto: Dione Afonso
Na comunidade rural Sambaíba, em Januária, os produtores rurais aliam o extrativismo com a consciência ambiental. Proteger córregos e rios e preservar as árvores frutíferas do cerrado são algumas das medidas adotadas pelas 300 famílias que participam do projeto de divulgação do pequi no Estado.
No pequeno centro de beneficiamento, mulheres da comunidade são responsáveis pelo manuseio do fruto, que vai desde a retirada da polpa até a venda do pequi beneficiado. “Fazemos a retirada do fruto da cabaça, higienizamos e cozinhamos. Daqui o pequi vai direto para a mesa do consumidor”, disse a produtora rural Sercina Lopes de Araújo, de 53 anos.
A receita tradicional de “arroz com pequi” deu espaço a novas iguarias. Farinha, conservas, licores, óleo e até sabão são alguns dos itens vendidos pelos cooperados. “Descobrimos que do pequi podemos extrair várias coisas”, disse o presidente da Associação dos Usuários da Sub-bacia do Rio dos Pochos, José Geraldo Ribeiro Matos.
As comunidades também apostam em novas receitas, como tortas, doces e bolos. “Ainda estamos em fase de teste”, completou a produtora rural Jucelina da Mota Almeida, de 57 anos.
Há nove anos, 186 famílias de Japonvar são responsáveis pela comercialização do pequi em Minas e em São Paulo e Goiás. “Até na merenda escolar nosso pequi está presente. A criançada gosta porque está acostumada a comer em casa”, disse o presidente da Cooperativa de Produtores Rurais e Catadores de Pequi, Josué Barbosa de Araújo.
A produção de pequi movimenta a economia da cidade de 8.822 habitantes. “O pequi gera trabalho, movimenta o turismo e auxilia na preservação da tradição do Norte de Minas”, disse o secretário municipal de Agropecuária, José Afonso Pereira de Aquino.
Para se ter uma ideia da dimensão da produção, no ano passado, apenas a cidade de Japonvar escoou uma média de 10 toneladas do fruto. Neste ano, no auge da produção, a prefeitura contabiliza 15 toneladas do fruto in natura.
Castanha será subproduto da fruta
Um desafio dos produtores rurais é tornar o pequi atrativo para todos os paladares. O fruto, que é conhecido pelo forte aroma, chega de forma tímida a regiões em que é pouco conhecido.
Para conquistar mais apreciadores, o Departamento de Biologia da Unimontes está criando a castanha do pequi. Assim como a castanha de caju, o produto beneficiado do pequi possui alto valor nutricional e maior volume de óleo, conforme estudos da universidade.
De acordo com o professor Sérgio Avelino Nobre, para que a castanha ganhe mercado é preciso garantir maior durabilidade dela. “Estudamos a melhor forma de extrair a água da castanha. Com isso, o produto poderá ser fornecido para outras localidades”, disse. A castanha do pequi é extraída do embrião do fruto presente na semente.
Visibilidade
A capacitação por meio de parcerias com universidades e entidades de classe está auxiliando as comunidades no aperfeiçoamento da produção e na ampliação nas vendas do pequi. “Assim, o produto ganha uma visibilidade maior, o que ultrapassa as fronteiras de Minas”, disse o professor.
E, para isso, membros do Conselho Pró-Pequi, uma entidade civil que auxilia os produtores rurais, querem conquistar uma espécie de selo geográfico. Com ele, o pequi terá uma identificação de origem que comprova a qualidade do produto. A ideia é a de que o fruto seja conhecido como “Pequi do Norte de Minas”, assim como acontece com o queijo Canastra ou a cachaça de Salinas.
Safra de dezembro a março garante farra
O início da safra, entre dezembro e março, é marcado também por festejos e trabalhos nas comunidades do Norte de Minas. Em Montes Claros, a Festa Nacional do Pequi reúne uma média de 35 mil pessoas durante os cinco dias do evento, conforme a Secretaria Municipal de Cultura.
O principal atrativo está nos pratos que valorizam o sabor do pequi. “É, na verdade, uma oportunidade para o produtor rural colocar em evidência as receitas tradicionais de família. É uma forma de manter a tradição viva no Norte de Minas”, disse o secretário Carlos Roberto Borges Muniz.
E foi de uma brincadeira entre amigos durante o festival que surgiu outro evento que tem o mais famoso fruto do cerrado como prato principal. “Após participar de um concurso culinário em que foi premiada, a receita ganhou tanta repercussão entre amigos e parentes que acabou virando festa”, contou a jornalista Felicidade Tupinambá.
Há 14 anos, a Festa do Pequi, como é conhecida na região, preserva o sabor tradicional da iguaria, com o diferencial de trazer a polpa fora da semente. “Quem não é do Norte de Minas não sabe roer o pequi. Acho que isso torna a receita mais gostosa”, brincou a jornalista.
Fonte: Jornal Hoje em Dia

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