domingo, 5 de janeiro de 2020

Pequi: macio, espinhento, afrodisíaco, cheiroso e gostoso

Cheiroso ou fedorento? Depende do roedor de pequi e das narinas atentas.
Pequi, o rei do Cerrado, complementa renda de agricultores familiares em atividade extrativista.
O pequi é um fruto que ninguém tem sentimentos meia-tigela com ele. Ou adora ou detesta. "Ame-o ou deixe-o", se possível num prato à mão, defende os apreciadores. Tem um cheiro muito forte.
Quem não gosta reclama do cheiro, dos espinhos, da falta de educação à mesa, comendo com os dedos lambuzados daquele óleo amarelo avermelhado, brilhante.

Caroços do pequi retirados do fruto, prontos para serem cozidos e consumidos.

Em dezembro/janeiro, as ruas de Montes Claros, cidades do norte de Minas e Vale do Jequitinhonha são perfumadas - pra nós que gostamos-, com o odor embriagante deste amarelão querido e adorado. É uma verdadeira denúncia da intimidade dos lares cheios de cadeados e muros altos. Até nos condomínios fechados o cheiro grita nos nossos narizes.

No Vale do Jequitinhonha e norte de Minas, as feiras são invadidas com os gritos: "Olha o pequi de Montsclaro!". Metido a conhecedor, consumidor ferrenho, roedor assumido, sem medo dos espinhos, questiono: "Não é de daqui perto mesmo, da Chapadão do Lamarão? Tá com pouca carne...". O vendedor arregala o olho e diz:"Deixa pra lá, Banu. Pequi daqui é tudo assim mesmo, magrim, magrim... Mas é gostoso, pode levar!"
Prato de pequi com arroz, a receita de dicumê mais consumida.
E lá vou eu com um saco de pequi, pensando nos carnudos de Lontra, no norte de Minas, terra do meu amigo Luis Carlos Gusmão, o Lunga, morador de Montes Claros, jornalista de sangue no olho. Ou nos pequi carnudos de Campo Azul, Japonvar, também no norte de Minas, a genuína capital mundial do pequi.

Montes Claros ganha no marketing e no comercialização d@ frut@ do cerrado. Igualzinho Teófilo Otoni que vende as pedras preciosas do Vale do Jequitinhonha e leva a fama de solo produtor de belezas raras, e se chama de capital mundial das pedras preciosas.Caroço de pequi cortado. A gema de cor branca vira castanha se deixar o caroço secar por cerca de 5 dias. 
O pequi exerce uma magia no povo do cerrado e da caatinga. Homens e mulheres acreditam que o consumo do pequi e seus derivados os deixam bastante excitados. Daí a fama do fruto ser uma espécie de afrodisíaco.


Frutos do pequi ainda verde. Quando amadurece, o fruto cai e 
é colhido por agricultores familiares.
Conheça o pequi e suas potencialidades
O pequi, fruto do pequizeiro, é nativo do cerrado brasileiro. É muito utilizado na culinária da região nordeste, centro oeste e norte de Minas Gerais. De sabor marcante e peculiar, o pequi é consumido cozido, puro ou misturado com arroz, frango ou carne de sol.
Da polpa pode se extrair também o azeite de pequi, um óleo usado para condimento e na fabricação de licores. 
Na língua indígena, pequi significa “casca espinhenta”.
De cor verde, quando maduro, possui em seu interior um caroço revestido por uma polpa macia e amarela, a parte comestível.
O consumo do pequi requer cuidado, pois a primeira camada do caroço é uma parte pastosa. Logo depois, há outa camada de inúmeros e minúsculos espinhos encontrados debaixo da polpa. Assim, é indicado que se roa o caroço, levemente, com cuidado, ao invés de mordê-lo. Se morder, como o porco-espinho ou ouriço do mar, ele solta um feixe de pequenos espinhos que pregam na língua, na gengiva e garganta. E como é difícil de retirar os espinhos, pois são bem minúsculos.

O pequi pertence à família das cariocáceas. Pode ser encontrado principalmente no norte de Minas e em toda a região Centro Oeste (considerada a capital da fruta), principalmente no estado de Goiás. Mas, também o fruto é encontrado em Rondônia, Pará, Tocantins, Maranhão, Piauí, Bahia e Ceará. Há várias espécies. Somente em Goiás podem ser encontradas todas as diversas espécies. 
A frutificação ocorre entre os meses de setembro e fevereiro, com o pico da safra em Dezembro e janeiro.
O pequi faz parte da culinária norte-mineira e goiana, onde é centenária, desde o início do século XVIII, nas antigas vilas de Meia Ponte (hoje Pirenópolis) e Vila Boa (cidade de Goiás). 
O consumo do pequi previne tumores, problemas cardiovasculares e evitam a formação de radicais livres, por ser rico em óleo insaturado, vitaminas A, C e E; fósforo, potássio, magnésio e carotenóides.
Uma unidade do fruto do pequi (aproximadamente 50 g) possui 40 calorias.


Árvore do pequizeiro.

Pequi, o rei do Cerrado, vaticina o violeiro, cantador e pesquisador da "Universidade da Natura", Téo Azevedo, de Alto Belo, em Bocaiúva, no norte de Minas.

Confira a poesia matuta sobre o pequi:   O+Rei+do+Pequi+Teo+Azevedo

Bandeja de pequi, de 350 g, é vendida a R$ 5 reais, no CEASA Minas.

Colheita do pequi gera renda para agricultores familiares
A "panha" do pequi costuma complementar a renda de agricultores familiares. Os frutos são apanhados no chão quando caem do pé, sinal que já estão maduros e prontos para serem consumidos. Não se colhe o pequi direto da árvore.

É uma cultura nativa que só recentemente a EMBRAPA- Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária conseguiu realizar a produção de mudas.

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A "panha" do pequi dos frutos maduros caídos da árvore.

O pequi tem grande importância para as populações agroextrativistas e para economias locais. Alguns catadores extraem até 80% da renda na cadeia produtiva do pequi. 
Embora seja comercializado e consumido in natura, o município de Japonvar, no norte de Minas, a 100 km de Montes Claros, vem realizando diversificadas formas de processamento do uso do pequi (fruto e casca) como venda em conservas, produção de óleo, doce, xampu e sabonete. Anualmente, realiza a Feira Mundial do Pequi, numa valorização do potencial econômico do pequi. Montes Claros realiza a Festa Nacional do Pequi, a 29 anos, em uma valorização cultural, de identidade do catrumano, do sertanejo norte-mineiro.

A safra movimenta cerca de R$ 3,5 milhões na economia local de Japonvar, somente com a comercialização do fruto "in natura". A venda do produto em casca sai em caminhões com destino a Belo Horizonte, São Paulo, Brasília e Goiânia, além de outras cidades mineiras.
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Cerca de 4 mil pessoas, quase a metade do município, passaram a catar pequi, atividade que envolve homens, mulheres e crianças. O fruto é apanhado no chão, debaixo dos pequizeiros, com os moradores entrando em qualquer fazenda ou sítio, independentemente de quem seja o proprietário da área, para a prática extrativista. Os proprietários não se incomodam com a colheita do fruto nativo.

Um cálculo estimativo da EMATER, de 2017, é de produção de 21,5 mil toneladas do pequi em casca, em Minas, maior produtor do país, com quase toda a produção concentrada no norte de Minas. Goiás fica com a vice-liderança nacional.

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