"Assim descrevo o ápice de minha experiência ao vivenciar os ritos e festejos da Festa de Nossa Senhora dos Homens Pretos de Minas Novas".
"A mais genuína manifestação de sincretismo cultural e religioso que já presenciei".
Texto Tinga Murta - Junho 2019
Ouço ao longe sons de tambores... não é possível precisar
o local exato de onde vem.
É certo que origina na parte baixa da cidade. No vale do Rio Fanado.
Pronto. Rastros de fumaça deixados por foguetórios revelam mais precisamente o local de onde já propagam também, bem baixinho ainda, cantos e louvações.
É certo que origina na parte baixa da cidade. No vale do Rio Fanado.
Pronto. Rastros de fumaça deixados por foguetórios revelam mais precisamente o local de onde já propagam também, bem baixinho ainda, cantos e louvações.
Partindo da casa onde, outrora, Maria do Carmo e Dário Magalhães criaram seus filhos, me vi diante de dois caminhos possíveis.
Escolhi o da esquerda. Uma escadaria me levou à Rua Monsenhor Aiala e depois à Rua Doutor Martiniano.
Mais foguetórios... os tambores são agora mais potentes e dos cânticos já se pode distinguir um desdobrar de vozes masculinas e femininas se sobrepondo em rico arranjo vocal.
Um pouco mais...uma descidazinha de terra batida e o deslumbre...
No leito do Fanado há um barramento natural. Um
travessão... uma lapa de rocha que o cruza ortogonalmente. É lá, sobre esse vau
natural que um grupo se destaca.
Sobrevestidos com um avental em suave amarelo, mulheres e homens, irmãos da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos são cortejados por Tambozeiros e protegidos pela Guarda, com suas fardas ornadas sobre o predomínio de tecidos em azul escuro e vermelho.
Crianças também estão por ali. Correm, agacham, saltam, espalham água, naquele alvoroço próprio e único de seres com corações ainda livres para abrir a porta de suas almas, sem temores...sem reservas.
Sobrevestidos com um avental em suave amarelo, mulheres e homens, irmãos da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos são cortejados por Tambozeiros e protegidos pela Guarda, com suas fardas ornadas sobre o predomínio de tecidos em azul escuro e vermelho.
Crianças também estão por ali. Correm, agacham, saltam, espalham água, naquele alvoroço próprio e único de seres com corações ainda livres para abrir a porta de suas almas, sem temores...sem reservas.
Mais alguns passos e apuro o olhar. Sim, é ela...
Afagada pelas mãos cuidadosas do Rei Velho vejo a Santa.
Foi por ela que todos viemos aqui.
Os Tambozeiros, o Congado de São Benedito, a
Banda de Taquara, a Guarda, os Juízes Maiores, os Irmãos do Rosário e populares
em grande número. Como eu...como a criança de olhos de luz que estava ao meu
lado...como aquela senhora com um lindo lenço estampado sobre a cabeça...como a
moça de cabelo verde...como o cancioneiro que leva o Vale do Jequitinhonha em sua
obra e em seu nome...como o homem de barba e bigodes fartos que transforma
taquaras e couro em tambores...como...
Assim descrevo o ápice de minha experiência ao vivenciar
os ritos e festejos da Festa de Nossa Senhora dos Homens Pretos de Minas
Novas.
A mais genuína manifestação de sincretismo cultural e religioso que já
presenciei.
Confio muito na acurada capacidade que Dayse Magalhães
tem em avaliar e descrever conteúdos culturais, sobretudo as manifestações do
povo do Vale do Jequitinhonha. Não havia dúvidas que os vários convites que me
fez nos últimos dois anos me conduziriam a vivenciar momentos de enorme riqueza
cultural e espiritual.
Contudo, os cinco, seis dias em que participei dos festejos, me levaram
muito...muito mais além.
Minas Novas, passa a simbolizar o lugar geográfico onde vivenciei muitas das
mais intensas emoções de minha vida.
Sim. Um lugar geográfico como símbolo, pois não saberia adjetivar o encantamento por que fui tomado percorrendo suas ruas e vielas de fascinante casario ou proseando no aprochego de suas cozinhas, de seus bares, de suas praças...
Sim. Um lugar geográfico como símbolo, pois não saberia adjetivar o encantamento por que fui tomado percorrendo suas ruas e vielas de fascinante casario ou proseando no aprochego de suas cozinhas, de seus bares, de suas praças...
Nunca mais me esquecerei. Nunca me esquecerei dos ritos e
das pessoas: das Novenas, da Buscada da Santa, dos Tambozeiros, do Congado de
São Benedito, da Banda de Taquara, da Banda Marcial, da Guarda, da Buscada do
Cofre, dos shows musicais... nunca mais me esquecerei de Minas Novas.
Citar os nomes dos inúmeros amigos que fiz, sem cometer a
provável injustiça que a memória cansada iria impor seria um risco muito
grande.
Mas, risco por risco, com o perdão dos não citados, deixem-me falar só um pouquinho de Dalton Magalhães (meu anfitrião), Deyse Magalhães e Rogério, de Gisélia Coelho (companhia de todas as horas), de Zia (ai... que macarrão delicioso!), de Dalma e Cesinha, de Dária, de Brava, de Arlindo Maciel, Rubão, Altinha e a turma do sítio, de Cardoso, de Marlene, de Jean Freire, Carlos e Felipe Mota, do casal Flávia e Zé Pinheiro, de Lena Neiva, de Serjão...
Mas, risco por risco, com o perdão dos não citados, deixem-me falar só um pouquinho de Dalton Magalhães (meu anfitrião), Deyse Magalhães e Rogério, de Gisélia Coelho (companhia de todas as horas), de Zia (ai... que macarrão delicioso!), de Dalma e Cesinha, de Dária, de Brava, de Arlindo Maciel, Rubão, Altinha e a turma do sítio, de Cardoso, de Marlene, de Jean Freire, Carlos e Felipe Mota, do casal Flávia e Zé Pinheiro, de Lena Neiva, de Serjão...
Não sou fotógrafo. Apenas tenho uma máquina com alguns
recursos a mais e um monte de cartões de memória para fazer muitas fotos e
“salvar” algumas.
Procurei documentar os festejos e proponho agora divulgar algumas imagens.
Acredito não desagradar àqueles que “emprestaram” suas imagens. Caso haja algum inconveniente, peço que notifiquem para que retire o conteúdo inadequado.
Cópias são livres.
Procurei documentar os festejos e proponho agora divulgar algumas imagens.
Acredito não desagradar àqueles que “emprestaram” suas imagens. Caso haja algum inconveniente, peço que notifiquem para que retire o conteúdo inadequado.
Cópias são livres.
Apenas peço que, caso uma imagem venha
integrar algum trabalho acadêmico ou artigo jornalístico, creditem a Tinga
Murta.
Muito obrigado a todos.
Eu, Tinga Murta, recebendo o livro "Dicionário Fanadês, Jequitinhonhês, Mineirês" do escritor minasnovense Carlos Mota.
Eu, Tinga Murta, recebendo o livro "Dicionário Fanadês, Jequitinhonhês, Mineirês" do escritor minasnovense Carlos Mota.
Texto do Tinga Murta, de Coronel Murta, Médio Jequitinhonha, registrando suas impressões emocionais na vivência da Festa do Rosário dos Homens e Mulheres Pretas de Minas Novas, no Alto Jequitinhonha, nordeste de Minas.
Fotos de Tinga Murta e Deyse Magalhães.
3 comentários:
Texto lindo, comovente, inspirado e inspirador! Tinha, vc nos levou junto. Banú, obrigada pelo canal! E viva as gentes iluminadas do Jequitinhonha!
Que gentileza Banu!
Não imaginei que tivesse qualidade para repercutir em seu Blog.
Obrigado.
Tinga Murta
Texto muito bonito, Tinga!
Vivido, sentido, poético!
Eu que ousei publicar, sem mesmo pedir a autorização ao autor.
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