domingo, 14 de julho de 2019

Vivência da Festa do Rosário dos Homens e Mulheres Pretas de Minas Novas.

"Assim descrevo o ápice de minha experiência ao vivenciar os ritos e festejos da Festa de Nossa Senhora dos Homens Pretos de Minas Novas".
 "A mais genuína manifestação de sincretismo cultural e religioso que já presenciei".
Texto Tinga Murta - Junho 2019
Ouço ao longe sons de tambores... não é possível precisar o local exato de onde vem.
É certo que origina na parte baixa da cidade. No vale do Rio Fanado.
Pronto. Rastros de fumaça deixados por foguetórios revelam mais precisamente o local de onde já propagam também, bem baixinho ainda, cantos e louvações.

Partindo da casa onde, outrora, Maria do Carmo e Dário Magalhães criaram seus filhos, me vi diante de dois caminhos possíveis.
Escolhi o da esquerda. Uma escadaria me levou à Rua Monsenhor Aiala e depois à Rua Doutor Martiniano.

Mais foguetórios... os tambores são agora mais potentes e dos cânticos já se pode distinguir um desdobrar de vozes masculinas e femininas se sobrepondo em rico arranjo vocal.
Um pouco mais...uma descidazinha de terra batida e o deslumbre...

No leito do Fanado há um barramento natural. Um travessão... uma lapa de rocha que o cruza ortogonalmente. É lá, sobre esse vau natural que um grupo se destaca.
Sobrevestidos com um avental em suave amarelo, mulheres e homens, irmãos da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos são cortejados por Tambozeiros e protegidos pela Guarda, com suas fardas ornadas sobre o predomínio de tecidos em azul escuro e vermelho.
Crianças também estão por ali. Correm, agacham, saltam, espalham água, naquele alvoroço próprio e único de seres com corações ainda livres para abrir a porta de suas almas, sem temores...sem reservas.

Mais alguns passos e apuro o olhar. Sim, é ela...
Afagada pelas mãos cuidadosas do Rei Velho vejo a Santa.
Foi por ela que todos viemos aqui. 

Os Tambozeiros, o Congado de São Benedito, a Banda de Taquara, a Guarda, os Juízes Maiores, os Irmãos do Rosário e populares em grande número. Como eu...como a criança de olhos de luz que estava ao meu lado...como aquela senhora com um lindo lenço estampado sobre a cabeça...como a moça de cabelo verde...como o cancioneiro que leva o Vale do Jequitinhonha em sua obra e em seu nome...como o homem de barba e bigodes fartos que transforma taquaras e couro em tambores...como...
Assim descrevo o ápice de minha experiência ao vivenciar os ritos e festejos da Festa de Nossa Senhora dos Homens Pretos de Minas Novas. 
A mais genuína manifestação de sincretismo cultural e religioso que já presenciei.
Confio muito na acurada capacidade que Dayse Magalhães tem em avaliar e descrever conteúdos culturais, sobretudo as manifestações do povo do Vale do Jequitinhonha. Não havia dúvidas que os vários convites que me fez nos últimos dois anos me conduziriam a vivenciar momentos de enorme riqueza cultural e espiritual.
Contudo, os cinco, seis dias em que participei dos festejos, me levaram muito...muito mais além.
Minas Novas, passa a simbolizar o lugar geográfico onde vivenciei muitas das mais intensas emoções de minha vida.
Sim. Um lugar geográfico como símbolo, pois não saberia adjetivar o encantamento por que fui tomado percorrendo suas ruas e vielas de fascinante casario ou proseando no aprochego de suas cozinhas, de seus bares, de suas praças...
Nunca mais me esquecerei. Nunca me esquecerei dos ritos e das pessoas: das Novenas, da Buscada da Santa, dos Tambozeiros, do Congado de São Benedito, da Banda de Taquara, da Banda Marcial, da Guarda, da Buscada do Cofre, dos shows musicais... nunca mais me esquecerei de Minas Novas.

Citar os nomes dos inúmeros amigos que fiz, sem cometer a provável injustiça que a memória cansada iria impor seria um risco muito grande.



Mas, risco por risco, com o perdão dos não citados, deixem-me falar só um pouquinho de Dalton Magalhães (meu anfitrião), Deyse Magalhães e Rogério, de Gisélia Coelho (companhia de todas as horas), de Zia (ai... que macarrão delicioso!), de Dalma e Cesinha, de Dária, de Brava, de Arlindo Maciel, Rubão, Altinha e a turma do sítio, de Cardoso, de Marlene, de Jean Freire, Carlos e Felipe Mota, do casal Flávia e Zé Pinheiro, de Lena Neiva, de Serjão...

Não sou fotógrafo. Apenas tenho uma máquina com alguns recursos a mais e um monte de cartões de memória para fazer muitas fotos e “salvar” algumas.



Procurei documentar os festejos e proponho agora divulgar algumas imagens.
Acredito não desagradar àqueles que “emprestaram” suas imagens. Caso haja algum inconveniente, peço que notifiquem para que retire o conteúdo inadequado.
Cópias são livres.
 Apenas peço que, caso uma imagem venha integrar algum trabalho acadêmico ou artigo jornalístico, creditem a Tinga Murta.
Muito obrigado a todos.
Eu, Tinga Murta, recebendo o livro "Dicionário Fanadês, Jequitinhonhês, Mineirês" do escritor minasnovense Carlos Mota.

Texto do Tinga Murta, de Coronel Murta, Médio Jequitinhonha, registrando suas impressões emocionais na vivência da Festa do Rosário dos Homens e  Mulheres Pretas de Minas Novas, no Alto Jequitinhonha, nordeste de Minas.
Fotos de Tinga Murta e Deyse Magalhães.

3 comentários:

Rosélia disse...

Texto lindo, comovente, inspirado e inspirador! Tinha, vc nos levou junto. Banú, obrigada pelo canal! E viva as gentes iluminadas do Jequitinhonha!

Tinga Murta disse...

Que gentileza Banu!
Não imaginei que tivesse qualidade para repercutir em seu Blog.
Obrigado.
Tinga Murta

Álbano Silveira Machado disse...

Texto muito bonito, Tinga!

Vivido, sentido, poético!
Eu que ousei publicar, sem mesmo pedir a autorização ao autor.

Postar um comentário