domingo, 31 de março de 2019

Ditadura Nunca Mais! Brasileiros protestam contra a opressão










Manifestações "descomemoram" golpe e homenageiam vítimas da ditadura


Caminhadas, manifestações, aulas-públicas e atividades culturais foram realizadas em várias cidades do país para marcar os 55 anos do golpe de 1964 e para homenagear as vítimas da ditadura militar que dele resultou.




Foto: Rebeca Belchior/ Cuca da UNE
  
No Rio de Janeiro, a manifestação reuniu 4 mil pessoas para "descomemorar" golpe de 64. Os manifestantes se encontram na Cinelândia, no Centro do Rio, para repudiar torturas e mortes ocorridas durante a ditadura militar / Flora Castro / Brasil de Fato

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), presente ao ato, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) viola a Constituição de 1988 ao provocar as Forças Militares a celebrarem o golpe de 1964. “Estamos de preto, não por acaso, porque esse dia rompeu com o que havia de democrático no Brasil. Fez democratas, socialistas e comunistas desaparecerem, pessoas que simplesmente queriam liberdade para lutar, pensar e noticiar. Isso tudo foi cerceado. Até hoje famílias procuram seus filhos, maridos, irmãos e companheiras”, destacou. Ela lembrou que o Partido Comunista do Brasil foi o que mais perdeu, proporcionalmente, militantes, sobretudo durante a Guerrilha do Araguaia.

Deputada Jandira Feghali (Foto: Rebeca Belchior)

Uma das primeiras medidas do golpe militar, assim que foi instalado no país, foi queimar a sede da União Nacional dos Estudantes (UNE), localizada na Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro. Também presente à manifestação, Leonardo Guimarães, diretor de universidades públicas da UNE e aluno de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirmou “os ditadores já entendiam que das universidades viria uma forte resistência ao autoritarismo e à escalada do fascismo”. Ele enxerga com preocupação o fato do presidente eleito indicar que os quartéis deveriam comemorar esta data e explicou que para a entidade o 31 de março é sinônimo de “repressão, perseguição e tortura”. 

O historiador Paulo César Pinheiro atuou na clandestinidade contra o regime liderado pelos militares na organização VAR-Palmares. Preso e torturado durante a ditadura, Pinheiro destacou que em todos os países existem lutas por verdade, memória e justiça. “Infelizmente não conseguimos ter julgamentos e condenações daqueles que mataram, torturaram e exploraram o nosso povo de maneira atroz. Não só os que foram assassinados ou desaparecidos, mas também milhares de indígenas, camponeses e todo o povo que teve arrocho salarial e seus direitos cassados.” Na sua avaliação, é necessário que haja uma grande unidade popular dos setores progressistas, além da esquerda, no sentido de recuperar as conquistas do povo brasileiro, antes e depois de 1964.
Militantes se encontram na Cinelândia, no Centro do Rio, para repudiar torturas e mortes ocorridas durante a ditadura militar / Flora Castro / Brasil de Fato

A professa aposentada Sandra Chaves tinha dez anos quando a ditadura foi instaurada e teve atuação na resistência ao regime enquanto estava na Universidade. “Esse ano nós vivemos um governo muito ruim, com perspectiva de volta da ditadura. Ouvir dizer que não houve ditadura é cruel para quem viveu”, desabafa.

A estudante Raíssa Nascimento, de 26 anos, também participou do protesto. Ela vestia uma camiseta em homenagem à militante Helenira Rezende, vice-presidenta da UNE que foi torturada e morta pelos militares. “Os jovens da zona oeste e da Baixada Fluminense vivem à mercê da milícia, por isso a gente luta contra essas formas de organização que querem reprimir os jovens, da mesma forma que aconteceu na ditadura, no passado, quando os estudantes começaram a ser perseguidos”, comparou Raíssa que é diretora do Diretório Central dos Estudantes (DCE) do Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (UEZO) e aluna de Biotecnologia.

O ato foi convocado por MST, Levante, MPJ, FBP, FPSM, ABDRJ, AJDRJ, OAB, PCdoB, PT, CTB e CUT.

Manifestações pelo país

João Vicente Goulart participou da manifestação em Brasília (Foto: Orlando Brito)

Em todo o Brasil foram registradas manifestações que repudiaram o golpes e a ditadura. 
Manifestantes protestam contra a ditadura militar em Brasília — Foto: Sergio Lima/G1

Brasilia
Pela manhã, cerca de mil manifestantes ocuparam parte do Eixão Norte, em Brasília, para protestar contra os 55 anos do golpe militar de 1964. Os manifestantes foram ao local vestidos de branco, com flores nas mãos e fotos de presos políticos mortos ou desaparecidos durante a ditadura. O protesto foi marcado por discursos de representantes de partidos políticos e organizações do movimentos popular, uma caminha e performances artísticas que representavam os métodos de tortura aplicados nos porões dos órgãos de repressão. 

Entre os presentes, destacavam-se João Vicente Goulart, filho do ex-presidente João Goulart, deposto pelo golpe, e Ana Maria Prestes, neta do histórico líder comunista, Luis Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança. 

Frente pela Democracia mobilizou manifestação em Porto Alegre

Porto Alegre
Em Porto Alegre (RS), 700 militantes políticos se reuniram no Parque da Redenção. O ato unitário teve como mote a denúncia da ditadura e a repulsa a governos autoritários como o instaurado em 1964. 
Na ocasião foi inaugurada uma escultura em memória aos mortos e desaparecidos gaúchos e de todo Brasil. 

Também na região sul, um ato em Curitiba (PR) percorreu as ruas da capital.

Aula sobre a ditadura reuniu centenas de pessoas em Fortaleza (Foto: Bernadete Souza)

Fortaleza
No Ceará, uma aula pública sobre ditadura reuniu cerca de 500 pessoas na praia de Iracema, em Fortaleza. Entoando palavras de ordem, manifestantes gritavam “Silêncio nunca mais”, em referência à censura da época. O evento contou com depoimentos dos professores José Machado, Paulo Emílio e Nelson Campos, perseguidos pela ditadura. 
Ato na Praia de Iracema em memória das vítimas da ditadura militar em Fortaleza — Foto: Kid Júnior/ SVM

A manifestação teve ainda a participação de professores como Anna Karina Cavalcante, André Vinícius, Fabiano Sousa, Zilfran Varela e Nilo Sérgio, que contextualizaram desde a concepção do golpe até a volta da democracia no País. Presente à atividade, a professora universitária Bernadete Sousa afirmou em suas redes sociais: 

“A ideia da aula-ato é espetacular. Sim, professores reinventam tempo e espaço.E hoje vi a reinvenção de nossas resistência. Foi bom ouvir cada relato, cada canção, cada nome ali citado e honrado. Senti vontade de ir sempre encontrar essa gente que luta com honra e gratidão, que grita, canta e silencia”. 

Por outro lado, segundo o jornal O Povo, apoiadores do golpe tentaram organizar um ato, mas apenas duas pessoas compareceram.

Milhares de pessoas se reuniram em Belo Horizonte para protestas contra o golpe (Foto: Anderson Pereira)

Belo Horizonte
Em Minas Gerais, uma manifestação reuniu 5 mil
pessoas contra a ditadura militar e em protesto contra o presidente Bolsonaro por ter convocado uma comemoração do golpe de 64. 

Manifestantes protestam contra a ditadura militar em Belo Horizonte — Foto: Washington Alves/Reuters

Os manifestante vestiram roupas pretas para expressar o luto pelos assassinatos praticado pela repressão política. Os manifestantes se concentraram na Praça da Liberdade, centro da capital mineira, e seguiram para a antiga sede do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), na Avenida Afonso Pena, que deverá ser transformado em Casa da Liberdade. Os manifestantes também se posicionaram contra a Reforma da Previdência, contra o golpe de 2016 e ainda pediram a liberdade do ex-presidente Lula.
Em Uberlândia, centenas de pessoas vestidas de luto saíram em passeata pelas ruas da cidade. 

Caminhada em São Paulo homenageou as vítimas da ditadura

São Paulo
Em São Paulo, o ato aconteceu na Praça da Paz, no Parque do Ibirapuera. Com velas, flores e fotos das vítimas da violência estatal, os manifestantes fizeram uma caminhada silenciosa em direção ao Monumento pelos Mortos e Desaparecidos Políticos.

Curitiba
Manifestação contra a ditadura militar em Curitiba, neste domingo (31) — Foto: Filipe Rosa/RPC


Um grupo fez um ato contra a ditadura militar na Praça 19 de Dezembro, em Curitiba. 
Segundo a organização o ato reuniu mil pessoas.

Recife
O ato deste domingo (31.03) foi realizado ao redor do Monumento 
Tortura Nunca Mais, o primeiro construído em todo o Brasil 
para homenagear e guardar a memória daqueles que lutaram 
contra o regime militar. 500 manifestantes , vestidos de 
preto, os participantes depositaram flores no monumento e nas
lápides que simbolizam os desaparecidos durante a ditadura.
Ato lembra vítimas da ditadura militar no Recife — Foto: Pedro Alves/G1
Um dos organizadores do evento, Welber Galdino, 
participante do movimento Nova Esquerda Pernambucana, 
afirma que cerca de 350 pessoas participaram do ato. Na ocasião, 
foi feita uma chamada dos nomes de vítimas pernambucanas 
registradas. 
A leitura de cada nome era sucedida por um grito de "presente" e 
uma salva de palmas.
"Nosso objetivo é prestar memória às vítimas da ditadura e
fortalecer o sentimento de democracia e livre expressão no
Brasil. Fomos motivados pela fala do presidente Jair Bolsonaro
(PSL), que quis comemorar festivamente o golpe que deu início a
tudo isso. Estamos, então, numa contracomemoração", afirma
Galdino.
Aos 79 anos de idade, o professor aposentado Roberto de Araújo
Faria lembra vividamente do período conhecido como "anos de 
chumbo". Ele, que era seminarista e estudava na Universidade 
Federal de Pernambuco (UFPE), foi espancado durante uma 
investida dos militares a uma igreja católica onde membros de 
movimentos estudantis estavam refugiados.
Santa Catarina

Florianópolis, Joinville e Balneário Camboriú registraram manifestações contra a ditadura militar. Em Joinville, a organização do protesto afirmou que havia 150 pessoas. Em Balneário Camboriú, os organizadores também informaram que o número de participantes era de 150. Em Florianópolis, o ato reuniu cerca de 30 pessoas.
Balneário Camboriú tem manifestação neste domingo (31) contra a ditadura militar — Foto: Beto Espercot/NSC TV

Novas atividades estão programadas para esta semana. Veja abaixo:

Segunda-feira 1o de abril

Salvador - BA
14h - Praça da Piedade
Marcha do Silêncio

Fortaleza - CE
16h Secretaria de Cultura
Rua Pereira Filgueras, 4
Marcha do Silêncio

Vitória - ES
18h Praça Costa Pereira
Ato Ditadura Nunca Mais

São Luis - MA
17h Auditório da Faculdade de Arquitetura da Universidade Estadual
Diálogos Insurgentes: 55 anos do Golpe de 1964

Dourados - MS
19:30 Auditório 1 Fadir-UFGD
Ditadura Militar: 55 anos do golpe no Brasil 

Belém - PA
14h - Auditório ICJ da Universidade Federal do Pará
Audiência Publica: 1964 nada a comemorar

Recife - PE
55 anos de impunidade do golpe
9h - Praça Padre Henrique
Caminhada
18:30 - Auditório Unicap
Ato político-cultural

Rio de Janeiro - RJ
16h - Rua da Relação com Rua dos Inválidos
Descomemorar os 55 anos do golpe
17:30 Capela Ecumênica da UERJ
Entrega da Medalha Chico Mendes de Resistência

Porto Alegre - RS
12h - Esquina Democrática
Apresentação “Onde? Ação No 2, pelo grupo Óinóis Aqui Traveiz

Campo Grande - MS
17h, em frente ao Ministério Público Federal - Avenida Afonso Pena, 4.444.
Ato Ditadura Nunca Mais

Cuiabá - MT
12h - Restaurante da Universidade Federal do MT
(Des)comemorando a ditadura militar

19h - Saguão do IL-UFMT

Ato Ditadura Nunca Mais





Terça-feira, 2 de abril


Fortaleza - CE
14h - Auditório Luiz Gonzaga (UFC)
Disputas de Memórias
Lançamento do livro Pavilhão Sete: presos políticos da ditadura cicil-militar, de Airton Farias

Brasília - DF
9h - Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados
Audiência sobre a situação dos anistiados políticas no Brasil

Fontes: Portal Vermelho, Brasil de Fato, G1, Brasil247 e OTEMPO.

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