Segundo estudo, taxa de emprego é maior entre os que recebem o benefício do programa
A vendedora de doces Maria Silvani tem quatro filhos, mora em uma região pobre do Distrito Federal e recebe todo mês R$ 106 do programa Bolsa Família, que completa dez anos no próximo domingo (20). Ela recebe o benefício desde 2003, quando ele foi criado, ainda no governo Lula. O marido dela também trabalha fora: é auxiliar de serviços gerais em uma grande empresa de Brasília.
A família de Maria integra o grupo de 72% de beneficiários adultos do programa de transferência de renda que, de acordo o MDS (Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome), trabalham tanto no mercado formal quanto no informal.
Maria Silvani encara o benefício como uma ajuda e, para ela, não dá para “se escorar” no Bolsa Família.
— Eu faço “biquinhos”, trabalho de vez em quando para ajudar na renda e, na porta de casa, tenho uma lojinha para vender salgadinhos e doces, é um dinheirinho que entra para comprar um pão, uma coisinha. [O Bolsa Família] ajuda demais, principalmente para comprar coisas que faltam do colégio, caderno, lanche. Ajuda na alimentação também, fruta, verdura. Minha vida melhorou porque [o benefício] sempre sai no final do mês, quando a gente não tem mais dinheiro, ai é sempre na época que tá faltando alguma coisa, quando recebo o dinheiro é um alívio, porque dá pra comprar o que falta.
Segundo a pesquisadora do Cedepla (Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional) da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) Ana Maria Hermeto, há uma maior taxa de ocupação e menor taxa de desemprego entre os beneficiários da transferência de renda, quando comparados com aqueles que estão fora do programa. A constatação está em um estudo apresentado durante o ciclo de debates que comemora os dez anos do Bolsa Família.
O levantamento mostra que na faixa etária entre 25 e 59 anos, na área rural, 62,6% dos beneficiários trabalham, contra 56,3% dos não beneficiários que não trabalham. Nas áreas urbanas não metropolitanas, os beneficiários que têm ocupação além do Bolsa Família são 55,5% ante 48,6% que não trabalham. A diferença é ainda maior nas áreas urbanas metropolitanas (52,3% trabalham e 42,7% não trabalham).
Para a ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, o “efeito preguiça” é um mito que precisa ser derrubado. Segundo a ministra, mais de 700 mil matrículas foram feitas em cursos de qualificação profissional.
— Durante muito tempo, no País, os empregos eram para trabalhadores que tinham nível médio. Com o Pronatec, conseguimos direcionar pessoas de baixa escolaridade aos cursos e grande parte são mulheres e negros.
Recentemente o marido de Silvani, a vendedora de doces do início da reportagem, concluiu o curso de vigilante. Segundo a beneficiária, “não dá para parar no tempo”.
— O salário de vigilante é melhor, a gente tem que evoluir. Eu não tenho trabalho fixo, tem as crianças para cuidar, mas meu marido já está procurando um trabalho melhor.
Pai da casa
No caso da gari Maria das Graças, o Bolsa Família é o “pai” da casa. Com quatro filhos em idades entre 10 e 16 anos, ela se vira como pode para garantir o sustento. O marido parou de trabalhar depois de ficar doente. Como até agora não conseguiu aposentadoria, também depende do salário da mulher.
Moradora do Recanto das Emas, cidade a 30 km de Brasília, Maria das Graças diz que os R$ 180 que recebe do programa de transferência de renda banca os gastos da família todo mês.
— Aí, eu compro lápis, borracha, caderno para os meninos, alimentação. Minha vida melhorou bastante mesmo, posso dar uma vida melhor para meus quatro filhos. É um programa que me ajuda bastante. Quando eu estava desempregada, me ajudou a tirar a fome dos meus filhos várias vezes e agora continua. Eu guardo mais para material escolar, guardo o dinheiro só para eles. Meu marido está doente e a barra agora é minha. Sou pai e mãe, até ajudo a comprar os medicamentos dele também.
Outra beneficiada com o programa, a dona de casa Eleni de Alves Rodrigues mora em Águas Lindas, no Entorno do Distrito Federal. Mãe de uma criança com síndrome de Down, Eleni conta que pediu o benefício depois de se ver sem dinheiro para comprar fraldas para o filho.
— Consegui [o Bolsa Família] por causa do meu filho que é especial. Me ajuda muito porque tinha dia que eu não tinha nem dinheiro para comprar fralda para ele. Quando vou receber o benefício de R$ 64, já passo no mercado e compro o leite, a fralda dele, as frutas. Eu só cuido dele, não tenho como trabalhar, porque ele é especial. Levo para a escolinha, terapia ocupacional, vivo por conta dele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário