Conversa franca, escuta e diagnóstico correto de depressão são defendidos por especialistas em debate público na Assembléia Legislativa.
Enquanto países desenvolvidos conseguiram reduzir em até 20% a mortalidade por suicídio nos últimos dez anos, por meio de campanhas de prevenção, no Brasil os casos de suicídio aumentaram em 20% no mesmo período. Esse cenário pode ser ainda mais grave porque haveria uma subnotificação de casos no País, estimada em 40%, conforme alertou nesta segunda-feira (25/9/17) o psiquiatra Humberto Correa da Silva Filho.
Ele foi um dos palestrantes do Debate Público Suicídio: Como Prevenir, realizado pela Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) dentro da campanha Setembro Amarelo.
Para reverter esse quadro, Humberto Filho (confira documento da apresentação feita pelo palestrante) e demais convidados ressaltaram a importância de campanhas de conscientização, de saber escutar o outro e de profissionais de saúde serem capacitados para lidar com o assunto.
"No Brasil o suicídio ainda é tratado com tabu, como um estigma ou uma vergonha que se tem que esconder. Por isso não temos uma campanha pública de prevenção até hoje, mesmo sendo um problema de saúde pública", afirmou o especialista, que é vice-presidente da Associação Mineira de Psiquiatria e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Para o psiquiatra, é preciso que a sociedade entenda que 100% dos suicídios envolvem uma doença mental e que, portanto, não ocorre por vontade própria, para chamar atenção ou por fraqueza, como ainda preconizaria o senso comum.
“Hoje, morre-se mais por suicídio do que por HIV, mas há uma desproporção no que se investe, se ensina e se fala de um e outro”, exemplificou Humberto Filho, ao defender que a prevenção do suicídio entre de fato na agenda do País, com investimentos em pesquisas, formação de profissionais para lidar com a questão e campanhas de conscientização.
Exemplos - Apesar do quadro que expôs, o especialista apontou como positivas no Brasil iniciativas como a campanha Setembro Amarelo, que vem sendo realizada nos últimos três anos, e trouxe ao debate ações de sucesso em outros países, sobretudo aquelas que atuaram para restringir o acesso a métodos letais mais usados para o suicídio.
Escuta e formação em saúde podem prevenir casos
O deputado Antônio Jorge (PPS), que solicitou o debate, frisou que o suicídio é a terceira causa de morte evitável no mundo, como também mostrou estudo feito em Minas. "Não existe depressivo que não pense na morte, mas não há um protocolo sobre essa investigação do risco. É nosso papel repensar isso e ter a coragem de falar de morte", defendeu o parlamentar.
Sobre o papel da mídia na questão, o jornalista Carlos Viana afirmou que, ao contrário do que se fala, não há restrição legal a que a imprensa aborde o suicídio, e sim uma cultura que ainda trata o assunto como algo individual ou restrito ao âmbito da família.
Defendendo que o suicídio seja abordado pela mídia do ponto de vista da saúde pública, Carlos Vianna disse que o mesmo deveria ser feito sobretudo pelos jornalistas governamentais, assim como em campanhas públicas.
O publicitário Maurilo Andreas, por sua vez, sugeriu que as pessoas usem as redes sociais de forma mais solidária e prestando atenção ao outro. "As redes sociais são amplificadoras da voz que já existe. Mas não há escuta. Por que não usá-las para também ouvir o que o outro está dizendo e no privado procurar saber se está tudo bem", destacou.
Diagnóstico de depressão reduziria casos
A professora da UFMG, Maila de Castro Lourenço das Neves (apresentação), alertou, por sua vez, que o pensamento sobre o suicídio é de duas a três vezes mais prevalente em pacientes com doenças graves não psiquiátricas, a exemplo do câncer.
Maila afirmou que estudar essa população ajuda a delimitar fatores de riscos, assim como investir em formação profissional. Segundo ela, metade dos doentes graves que morrem por suicídio foi a um médico de família no mês anterior, sem que o assunto tivesse sido abordado na consulta, o que mostraria a importância da formação.
"Os médicos alegam que perguntar estimula, mas no fundo não sabem o que fazer com a resposta", avaliou. De acordo com Maila, até um quarto dos pacientes com doenças graves não psiquiátricas desenvolve quadros de depressão, agravando os riscos de suicídio.
Da mesma forma, o geriatra Gustavo Nogueira Cardoso (apresentação), do Hospital das Clínicas da UFMG, afirmou que 90% dos 120 suicídios envolvendo idosos em Belo Horizonte e na Região Metropolitana entre 2009 e 2012 envolveram algum grau de depressão subtratada ou subdiagnosticada. "É preciso ter maior atenção à sintomatologia e oferecer um tratamento correto do idoso", destacou.
Drogas - O uso de drogas eleva em quase dez vezes a chance de suicídio, mas esse dado ainda é negligenciado. Com essa fala, o coordenador do Centro Regional de Referência em Drogas da UFMG, Frederico Duarte Garcia (apresentação), se mostrou preocupado com o fato de que o consumo de drogas, lícitas ou ilícitas, causar modificações no cérebro em formação dos adolescentes.
"É preciso reverter esse papel de exposição ao risco em vez de um papel preventivo da família", defendeu ele, que abordou o suicídio em populações especiais.
Fonte: ASCOM da Assembléia Legislativa de Minas Gerais
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