"Antes, era a fome. Agora, é a pandemia que ameaça nossa nação", afirma antropóloga e líder indígena, Célia Xakriabá.
Antropóloga e doutoranda pela UFMG, Célia Xakriabá, líder indígena, teme extermínio de seu povo pela pandemia do coronavírus.
Os povos indígenas Xakriabás, única nação indígena do Norte de Minas, teme que a Pandemia Coronavírus provoque o extermínio da raça. Em entrevista ao Portal G1, a antropóloga, doutoranda pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e líder indígena, Célia Xakriabá, afirmou que. “Somos um povo de costumes coletivos. Estamos fazendo todo esforço possível para que o primeiro caso não chegue. Se chegar, será um extermínio”. Ela cobra políticas públicas destinadas às aldeias no combate à pandemia do novo coronavírus, principalmente recursos para a sobrevivência dos povos. "Antes do vírus, o que preocupa é a fome. Os povos que vivem no estado têm relação com a vida urbana. Com o comércio fechado e aldeias isoladas, muita gente está tendo problemas com alimentação”, disse Célia.
As plantações não são suficientes para abastecer toda a aldeia, segundo ela. Há cerca de 11 mil xakriabás em Minas Gerais. Grande parte do território fica no município de São João das Missões, no norte do estado. “É um desafio para aqueles que querem acessar mercadoria. Foi proibido a entrega de produtos na aldeia”, disse ela.
A pandemia também afetou hábitos do povo Xakriabá. “Quando venho aqui, a primeira coisa é ir na casa das minhas tias mais velhas. É difícil para os anciões entenderem este afastamento”, contou Célia que se divide entre a aldeia e Belo Horizonte onde está concluindo o doutorado.
De acordo com ela, há costume que os índios sempre visitem a casa de seus vizinhos. Mas isso teve de mudar por causa do novo coronavírus. “Meu avô de 80 anos mora com a gente. Ele caminha todo dia. Ia na casa dos outros e agora conversamos com ele. É um desafio não poder se movimentar”, disse. Apenas equipes de saúde são permitidas dentro da aldeia. “Essa doença pode se alastrar muito rapidamente”, disse Célia.
O balanço divulgado pelo Distrito Sanitário Especial Indígena Minas Gerais/Espírito Santo (DSEI-MG/ES), no dia 01.04, apontou um caso suspeito de COVID-19 em uma das aldeias da região. Ainda não há informações sobre o local ou tribo atingida. No Amazonas, um caso em indígena de 20 anos foi confirmado. “Precisamos de uma política pública destinada aos povos indígenas. Compra de Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s), insumos, vacinação contra gripe. É urgente”, disse Célia. Um plano emergencial tramita no Congresso Nacional, em Brasília. Ele determina medidas específicas de vigilância sanitária e epidemiológica para prevenção do contágio e da disseminação do novo coronavírus. Ainda há prazo para que ele entre em votação.
A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) informou que mantém diálogo com as lideranças indígenas e orientações de isolamento social estão sendo feitas. “Por conta da nossa situação de vulnerabilidade, da invisibilidade e cegueira social, essa pandemia pode significar o nosso extermínio”, disse Célia.
Por Girleno Alencar, no Gazeta Norte Mineira, de Montes Claros, em 03.04.2020.
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