quarta-feira, 1 de abril de 2020

Líder indígena é assassinado no Maranhão, na Amazônia Real


A Secretaria de Direitos Humanos do Maranhão deslocou a Força Tarefa de Proteção a Vida Indígena (FT-Vida) para a proteção da Terra Indígena Arariboia (Foto arquivo pessoal)

Zezico Guajajara é assassinado no Maranhão

Por:  31/03/2020 às 15:53


Segundo informações apuradas pela Amazônia Real, Zezico Guajajara retornava à aldeia, em uma motocicleta quando foi alvejado por um tiro de espingarda. Ainda não há informação sobre o motivo do crime e quem é o assassino. Professor e diretor do Centro de Educação Escolar Indígena Azuru (também conhecida como Escola Zezinho Rodrigues), o líder Guajajara era também líder da Coordenação da Comissão dos Caciques e Lideranças da TI Arariboia (CCOCALITIA). Zezico assumiu a CCOCALITIA justamente nesta segunda-feira (30).
Zezico Rodrigues é o quinto indígena Guajajara assassinado em apenas quatro meses. No dia 1º de novembro, o Guardião da Floresta Paulo Paulino Guajajara foi assassinado também dentro da TI Arariboia. No dia 7 de dezembro, foram mortos os caciques Firmino Prexede Guajajara, da aldeia Silvino, da TI Cana Brava, e Raimundo Benício Guajajara, da aldeia Descendência, da TI Lagoa Comprida. No dia 13 de dezembro, o jovem Erisvan Guajajara, de 15 anos de idade, foi encontrado esquartejado na sede do município de Amarante.

Zezico Guajajara
Em novembro de 2019, Zezico Guajajara foi entrevistado pela agência Amazônia Real por ocasião do assassinato de Paulo Paulino Guajajara. Na reportagem, ele faz um relato sobre o histórico de ameaças e lembrou de outras lideranças Guajajara assassinadas nos últimos anos. Também destacou a respeito das várias denúncias feitas aos governos estadual e federal e solicitações de punições, nos últimos anos, sem obterem respostas.
“Ao longo desse período perdemos os guerreiros sem punições dos matadores. A Funai sabe toda a história, mas também sempre acobertou os casos, ou seja, não pediu maior investigação. Assim, os madeireiros foram pegando fôlego, devido não existir punições dos crimes”, afirmou a liderança na reportagem.
“As ameaças são quase contra todos nós, lideranças e caciques. O governo nunca tomou providências”, destacou Zezico.
A Coordenação da Fundação Nacional do Índio (Funai) do município de Arame, no Maranhão, solicitou no início da tarde desta terça-feira apoio urgente da Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP) para investigar o assassinato. A Funai no Maranhão também pediu apoio da Polícia Federal e da Força Nacional de Segurança. No entanto, a atuação da Força Nacional, conforme portaria do Ministério da Justiça do final do ano passado, restringe-se apenas a outro território indígena do Maranhão, a TI Cana Brava.

Sepultamento de Erisvan Soares Guajajara em Amarante do Maranhão no dia 13 de dezembro (Foto cedida pela família)

A Secretaria de Estado Direitos Humanos e Participação Popular do Maranhão (Sedihpop) disse, em nota à imprensa, que “lamenta o fato” e que já foram adotadas as providências legalmente possíveis para a esfera estadual. A Sedihpopo informou que acionou a Força Tarefa de Proteção a Vida Indígena (FT-Vida), órgão do governo do Maranhão, com o imediato deslocamento de equipes para a terra indígena. “Ao mesmo tempo, a Polícia Federal está sendo contatada para que assuma a investigação, em face de sua competência legal”, diz a nota.
Os indígenas Guajajara, autodenominados Tenetehára, habitam mais de 11 territórios indígenas na margem oriental do Maranhão; o maior deles é Arariboia. Eles têm uma história de contato com a sociedade não indígena de quase 400 anos marcada por revolta e tragédias. Possuem uma língua que faz parte do tronco Tupi-Guarani e sua população atual é estimada em mais de 27 mil pessoas.
Procurada, a assessoria de imprensa da Polícia Federal no Maranhão enviou nota à reportagem dizendo que “a respeito da morte do indígena Zezico Rodrigues Guajajara, a Polícia Federal foi acionada e irá apurar os fatos por meio da abertura de um Inquérito Policial”.
A assessoria de imprensa do Ministério da Justiça também foi procurada para saber se o órgão ou o ministro Sérgio Moro iriam comentar sobre o caso. A assessoria não fez enviou respostas a respeito. Sobre o pedido da Força Nacional de Segurança Pública, a assessoria do MJ disse que “não chegou nenhuma solicitação de apoio”.
Em nota divulgada em seu site na internet, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) lamentou o assassinato e diz que “com o assassinato de Zezico Rodrigues, o número de homicídios registrados contra indígenas do povo Guajajara desde o ano 2000 chega a 49 – sendo 48 deles no Maranhão e um no Pará.”
“A situação vivenciada pelo povo Guajajara é trágica e exemplar em relação ao contexto de vulnerabilidade a que muitas comunidades indígenas estão expostas em todo o Brasil – mesmo as que vivem em terras já demarcadas e, em tese, contam com a proteção do Estado”, diz o CIMI. (Colaboraram Erisvan Guajajara e Kátia Brasil).

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