"Minha esperança é vê-lo descer na Estação Paulista e que a mesma se torne na nossa Estação Finlândia. Espero vê-lo livremente dizer que está ali - em carne e osso - na defesa do povo, da nossa soberania e contra essa camarilha fascista que tomou conta do país... algo que na cadeia é impossível de se fazer...", diz o colunista Carlos d'Incao
Aqueles que possuem um pouco de conhecimento sobre a grande Revolução de Outubro já ouviu falar sobre a importância da chegada de Lênin em abril de 1917 na Rússia, na famosa “Estação Finlândia”. Poucos sabem, porém, que as circunstâncias para que Lênin chegasse até ali não foram apenas difíceis... foram dramáticas e extremamente arriscadas.
Lênin estava vivendo no exílio há anos. Acompanhava as condições da Europa e da Rússia com atenção, diligência e sagacidade. Onde quer que estava residindo era vigiado pela polícia e por espiões. Vivia com as “tornozeleiras eletrônicas” da época. Quando saiu de Zurique rumo a Petrogrado não o fez sem negociar diversas garantias - algumas delas que o reduziam à humilhante condição de um delinquente comum - para chegar em seu destino final.
Seria muito fácil para Lênin ficar no exílio da neutra e pacata Zurique e dizer que apenas retornaria para a Rússia com sua “liberdade plena”, uma parada militar para recebê-lo e com os juízes que o condenaram na cadeia ou no exílio.
Afinal, Lênin já era internacionalmente reconhecido como grande intelectual e revolucionário marxista... e a História bem sabe que ele não era culpado de nenhuma das acusações feitas pelo czarismo e muito menos pelo governo provisório (das acusações mais vulgares estava a de que ele era um espião alemão que conspirava contra a Rússia na primeira guerra).
Mas Lênin sabia da gravidade política da Rússia e seu retorno estava muito além de seus desejos pessoais. Tratava-se de seu dever revolucionário. Quando conseguiu finalmente descer na Estação Finlândia se apressou em organizar forte resistência ao governo provisório e organizou o processo revolucionário que, sem o qual, hoje inexistiria a estrela vermelha do PT, o próprio Lula, o PC do B, o PCB, o PSOL e toda a esquerda como a concebemos.
Na Rússia, Lênin continuou com sua “tornozeleira eletrônica”, tendo diversos espiões no seu encalço, até ser informado de que sua prisão estava decretada novamente... mas ele não se entregou... foi para a clandestinidade e ali permaneceu até a vitória da Revolução.
É importante frisar: Lênin percebeu que em determinados momentos da História cabe a 1 ou poucos indivíduos representarem interesses de suma importância para toda uma coletividade. Ao ter essa percepção assumiu o enorme fardo de abrir mão de sua vida como indivíduo para abraçar uma nova vida como liderança política, onde seria o protagonista central de um período de guerra e revolução.
Na primeira vida (como indivíduo) o que ele fez ou deixou de fazer cabia a apenas a ele; na segunda é o dever histórico que dominou a sua vida.
Da “Estação Finlândia” caminhemos agora para a “Estação Paulista”, avenida que é o palco central dos grandes protestos nacionais - sejam da esquerda ou da direita. Nessa Estação vivemos a necessidade da presença de uma liderança que, por circunstâncias históricas determinadas, se tornou em um símbolo de resistência a um projeto neoliberal que está trucidando a esperança de toda uma nação e que ameaça não apenas a soberania nacional, mas a soberania de toda a América Latina.
Essa liderança é o Lula.
Lula não foi preso como indivíduo, mas por ser justamente essa liderança política. Sua vida como indivíduo nada representa no mundo jurídico. Apenas sua pessoa política, o seu símbolo, o seu significado... apenas isso é o que importa.
Circunstâncias muito particulares abriram a possibilidade de ele ser libertado da prisão em breve. Em regime com vigília e talvez tornozeleira eletrônica. Pouco importa. Tenho a certeza de que Lênin não pensaria duas vezes em aceitar a liberdade e que em seu primeiro discurso quebraria essa tornozeleira e diria: “Nunca mais nenhum bandido fascista me colocará na cadeia!”
Há um jogo nebuloso que envolve essa questão de regime semi-aberto que não interessa à esquerda. Há aqueles que acham que existe uma armadilha para o Lula, que se ele aceitar o semi-aberto de alguma forma aceita sua culpa...
São especulações...
Pode ser que a armadilha seja o reverso, ou seja, tudo está armado para que Lula não aceite o semi-aberto e, desta forma, a justiça poderá desacelerar a análise de sua liberdade plena e julgá-la só sabe quando... afinal o seu gesto pode ser interpretado como soberba...
Mais uma vez: especulações...
Estou certo de que Lula deveria aceitar sem pestanejar qualquer liberdade. Afinal, se está tão “magoado” como indivíduo por ser vítima de uma injustiça, poderia ter se rebelado antes e não se entregado à polícia... ou poderia ter pedido asilo político... Mas ele não é mais um indivíduo. Ele é um símbolo do qual o Brasil e a América Latina necessita.
Espero apenas que o espírito do grande Lênin inspire Lula a fazer o que é certo. Minha esperança é vê-lo descer na Estação Paulista e que a mesma se torne na nossa Estação Finlândia. Espero vê-lo livremente dizer que está ali - em carne e osso - na defesa do povo, da nossa soberania e contra essa camarilha fascista que tomou conta do país... algo que na cadeia é impossível de se fazer...
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