A
Água é um elemento essencial à vida humana e à de todas as
espécies.
Nos Vales do Jequitinhonha, Mucuri e norte de Minas, centenas de comunidades são abastecidas com caminhões pipas.
A
Água é o recurso mais importante para garantir a vida na Terra. Sem
ela, nada sobrevive.
Por esse motivo, desde 1992, comemora-se, no dia
22 de março, o Dia Mundial da Água.
Essa
data é marcada por eventos que visam conscientizar a população, o
poder público e as empresas da necessidade de economizar e tratar
adequadamente este precioso bem.
Nosso
corpo humano é formado por cerca de 70% de água. Diversas plantas têm mais de 90% de água em sua estrutura física.
Ela
é essencial para a vida de todas as espécies, sendo responsável
pelo transporte de nutrientes em nosso organismo, regulador da
temperatura corporal, participa de todas as reações químicas no
nosso organismo.
No
entanto, mesmo sabendo de todos esses benefícios proporcionados por
esse recurso natural, nós, humanos, através de atividades
econômicas, industriais, na silvicultura, mineração e agropecuária, alteramos
drasticamente a quantidade e, principalmente, a qualidade da água
disponível na Terra.
A
poluição das águas é causada por lançamento de efluentes
industriais, agrícolas, esgoto doméstico e resíduos sólidos nos
cursos d´água, atingindo não só ás águas superficiais como a
subterrânea, o lençol freático.
A
água potável é um direito humano que é desrespeitado, todos os
dias, principalmente em regiões semiáridas como o Vale do Jequitinhonha, Mucuri e norte de
Minas.
Como diz Frei Betto,
“Falar
em direitos humanos na América Latina é luxo. Aqui, ainda lutamos
por direitos animais, pois comer, beber,
abrigar-se
das intempéries, educar a cria, são coisas de bicho”.
As
causas são diversas. Tanto advindas das atividades econômicas, da
deficiente gestão pública e privada dos recursos hídricos e de abastecimento humano,
quanto da falta de consciência ambiental.
Segundo dados da ONU (Organização das Nações Unidas), cerca de um bilhão de pessoas em todo o mundo não têm acesso a um abastecimento adequado.
Ou seja, não têm à disposição pelo menos 20 litros diários de água a uma distância de até um quilômetro.
Os
usos e abusos da água são feitos por grandes corporações
financeiras, industriais e agronegócios. Cerca de 94% da água é
consumida por indústrias e agronegócios. A financeirização dos serviços básicos de abastecimento de água e esgoto levam à privatização das concessionárias desses serviços. Somente 6% sobram para o
consumo doméstico, comercial e serviços, setores que mais pagam
pelo consumo de água potável e saneamento básico.
Alguns indicadores da região semiárida mineira:
-
Cada vez mais comunidades
são abastecidas por caminhões-pipa. Como as políticas públicas
não atendem a todas as necessidades os moradores da região norte
e nordeste de Minas fretam
esses caminhões ao preço de R$ 200 a R$ 250, mesmo tendo direito à
água fornecida pela Copanor ou Copasa. Ou apelam para a solução
imediatista de abertura de poços artesianos que afetam diretamente o
lençol freático;
-
Em Chapada do Norte, no Médio Jequitinhonha, na
cabeceira do rio Capivari, há uma barragem para irrigar plantação
de eucalipto, impedindo que a água chegue à cidade para abastecer
uma população de mais de 3 mil pessoas;
-
Em Itinga, no Médio Jequitinhonha, o rio Jequitinhonha corta a cidade, mas ainda há problemas de
abastecimento de água nas
residências dos dois lados. A Copanor é responsável pelos serviços;
-
O rio Salinas, no norte de Minas, afluente da
Bacia do Jequitinhonha, está definhando com um sistema de
abastecimento de água retirando mais volume do que é permitido e
suportável, com um tratamento de água de esgoto deficiente. A Copasa justifica, mas não pede desculpas: cobra por serviços não prestados. Ações judiciais populares exigem ressarcimento por cobranças indevidas;
-
O Rio Jequitinhonha, desde a construção da Barragem de Irapé, vem
apresentando uma contaminação de suas águas,
com o aparecimento de peixe boiando ou com apresentação de
tumores, segundo denúncia de pescadores do Baixo Jequitinhonha;
- Centenas famílias de atingidos pela Barragem de Irapé e Setúbal ainda lutam para ver reconhecidos seus direitos, embora tenham passado mais de 10 nos, após a construção das obras. Mais ainda: as populações ribeirinhas à jusante, ou abaixo, da Barragem de Irapé cobram investimentos para minimizar os grandes impactos causados no desparecimento de praias e vazantes, contaminação de peixes;
Populações
ribeirinhas denunciam a ocorrência de doenças derivadas da contaminação da água
com sintomas de coceiras e alterações na pele de famílias
moradores à beira-rio, devido à grande quantidade de agrotóxicos
utilizados nas plantações de café, banana e eucalipto, carreados
para as águas dos córregos e rios;
-
Os rios dos
Vales
do Jequitinhonha e Mucuri, e as populações que dependem deles,
direta ou indiretamente, vêem em sua volta aviões das
empresas de plantio de eucalipto espalhando produtos agrotóxicos,
contaminando as águas, o solo
e as plantações dos agricultores familiares e vazanteiros;
-
o projeto de mineração Vale
do Rio Pardo, da empresa Sul Americana de Metais S.A (SAM), pretende
construir um Mineroduto, da região de Grão Mogol, até
o porto de Ilhéus, com uma extensão de 482 km, utilizando 14% do
volume da água da Barragem de Irapé, no rio Jequitinhonha.
A
empresa SAM já tem a outorga, ou seja, o direito de uso,
de 6.200 mm³/hora de água da Barragem de Irapé.
Mineroduto
é um
método tecnológico de transporte de minério que deveria ser abolido.
Em
regiões semiáridas, principalmente, pois não tem como tirar
água, onde ela já falta, onde todos os anos milhares de famílias
sofrem com a seca, não tendo água nem sequer para beber.
-
Grandes
projetos sempre geram grandes impactos ambientais, mas não podemos
deixar de registrar o Projeto de Transposição do Rio São Francisco
que foi pensado por Pedro II e somente realizado pelo Presidente Luis
Inácio Lula da Silva que foi muito contestado pelo movimento ambientalista.
Hoje, o grande debate gira em torno da barragens de rejeitos dos projetos de mineração, após a tragédia de Mariana e Brumadinho que deixou centenas de mortos e matou as Bacias do Rio Paraopeba e Rio Doce. Mas, a barragem é só um dos quesitos da produção minerária.
Algumas propostas dos movimentos em defesa da água:
-
Que o Estado e municípios invistam na educação ambiental,
envolvendo as escolas e toda a sociedade, para que a água seja
tratada como bem essencial à vida e não como mercadoria para dar
lucros a uns poucos;
-
Efetuar um grande projeto de recuperação de nascentes, capões,
grotas e minas d´água, investindo principalmente em microbacias
como a experiência exitosa do Movimento SOS Fanado, na região de
Minas Novas, Turmalina, Capelinha e Angelândia, no Alto
Jequitinhonha.
-
Obrigar as grandes empresas de mineração e da silvicultura, que são
as que mais utilizam da água para a produção, a fazerem
investimentos em um programa para o plantio de 30 milhões de árvores
e recuperação de 50 mil nascentes, em Minas, como propõe o
Programa Plantando o Futuro, da CODEMIG;
-
Proibição de instalação de qualquer mineroduto em Minas Gerais;
- Proibição de fato das barragens de rejeitos industriais – a legislação estadual já foi aprovada - punindo rigorosamente as empresas que descumprirem normas de segurança e de qualidade de vida das comunidades.
- Precisamos evitar tragédias pequenas, médias ou grandes como a de Mariana e a de Brumadinho que ceifou a vida diretamente de centenas muitas pessoas e famílias, e indiretamente de centenas de milhares de habitantes, da Bacia do Rio Paraopeba e do Rio Doce.
- Mais ainda: o uso e abuso da água como insumo da mineração deve ser regulado com legislação, licenciamento e fiscalização ambiental rígidos e sob controle social;
- Estabelecer políticas públicas para usos e reusos da água;
- Estabelecer políticas públicas para usos e reusos da água;
-
Os órgãos de serviços de abastecimento de água e esgoto ( Copasa,
COPANOR e SEMAEs devem fornecer serviços de tratamento de esgoto
sanitário, ofertando água potável, de boa qualidade e baixas
tarifas, cobrando somente aqueles serviços efetivamente realizados;
- Os municípios precisam tomar posições de cobranças rigorosas das concessionárias de água e esgoto, denunciando desrespeito às cláusulas contratuais à ARSAE - Agência Reguladora de Serviços de Água e Esgoto Sanitário de Minas Gerais;
-
Apoiar iniciativas como a da população de Salinas que se organiza e
se une em torno do Projeto de Justiça Sócio-Ambiental em que cobra
da Copasa aquilo a que tem direito.
-
Adotar tecnologias de baixo impacto ambiental para preservar fontes na captação de água é fundamental. As barraginhas, pequenas barragens de terra permitem a infiltração e retenção das águas de chuvas, tornando o solo agricultável. É a tecnologia mais apropriada para abastecer o lençol freático. Poço artesiano é o lado inverso: caro, anti-ambiental, provisório, detonador do lenço freático.
-
Desenvolver um programa do produtor de água, incentivando aos
produtores rurais e agricultores familiares a preservarem áreas de
nascentes, de recarga.
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