REQUIÃO CALA O SENADO COM DISCURSO HISTÓRICO SOBRE ENTREGA DO PRÉ-SAL.
O primeiro discurso do senador Roberto Requião no senado logo após a eleição do extremista Jair Bolsonaro chamou a atenção pelo conteúdo emocional e pela contundência política.
Os relatos são de que após a fala, houve um grande silêncio na tribuna.
Em um dado momento, Requião fala sobre a Petrobrás e sobre a indiferença que tomou conta do zelo pelas riquezas naturais do país:
"Um trilhão de isenções graciosamente cedidas às maiores e mais ricas empresas do planeta Terra. Injustificadamente. Sem qualquer amparo em dados econômicos, em projeções de investimentos, em retorno de investimentos. Sem o apoio de estudos sérios, confiáveis"
O
primeiro discurso do senador Roberto Requião no senado logo após a
eleição do extremista Jair Bolsonaro chamou a atenção pelo
conteúdo emocional e pela contundência política.
Os relatos são
de que após a fala, houve um grande silêncio na tribuna.
Em um dado
momento, Requião fala sobre a Petrobrás e sobre a indiferença que
tomou conta do zelo pelas riquezas naturais do país:
"Um
trilhão de isenções graciosamente cedidas às maiores e mais ricas
empresas do planeta Terra. Injustificadamente. Sem qualquer amparo em
dados econômicos, em projeções de investimentos, em retorno de
investimentos. Sem o apoio de estudos sérios, confiáveis".
Abaixo,
leia a íntegra do discurso de Requião:
Lava
Jato, trair a Pátria não é crime?
Vender o país não é
corrupção?
O
juiz Sérgio Moro sabe; o procurador Deltan Dallagnol tem plena
ciência. Fui, neste plenário, o primeiro senador a apoiar e a
conclamar o apoio à Operação Lava Jato. Assim como fui o primeiro
a fazer reparos aos seus equívocos e excessos.
Mas,
sobretudo, desde o início, apontei a falta de compromisso da
Operação, de seus principais operadores, com o país. Dizia que o
combate à corrupção descolado da realidade dos fatos da política
e da economia do país era inútil e enganoso.
E
por que a Lava Jato se apartou, distanciou-se dos fatos da política
e da economia do Brasil?
Porque
a Lava Jato acabou presa, imobilizada por sua própria obsessão;
obsessão que toldou, empanou os olhos e a compreensão dos heróis
da operação ao ponto de eles não despertarem e nem reagirem à
pilhagem criminosa, desavergonhada do país.
Querem
um exemplo assombroso, sinistro dessa fuga da realidade?
Nunca
aconteceu na história do Brasil de um presidente ser denunciado por
corrupção durante o exercício do mandato. Não apenas ele. Todo o
entorno foi indigitado e denunciado. Mas nunca um presidente da
República desbaratou o patrimônio nacional de forma tão açodada,
irresponsável e suspeita, como essa Presidência denunciada por
corrupção.
Vejam.
Só no último o leilão do petróleo, esse governo de denunciado
como corrupto, abriu mão de um trilhão de reais de receitas.
Um
trilhão, Moro!
Um trilhão, Dallagnoll!
Um trilhão, Polícia Federal!
Um trilhão, PGR!
Um trilhão, Supremo, STJ, Tribunais Federais, Conselhos do Ministério Público e da Justiça.
Um trilhão, brava gente da OAB!
Um trilhão, Dallagnoll!
Um trilhão, Polícia Federal!
Um trilhão, PGR!
Um trilhão, Supremo, STJ, Tribunais Federais, Conselhos do Ministério Público e da Justiça.
Um trilhão, brava gente da OAB!
Um
trilhão de isenções graciosamente cedidas às maiores e mais ricas
empresas do planeta Terra. Injustificadamente. Sem qualquer amparo em
dados econômicos, em projeções de investimentos, em retorno de
investimentos. Sem o apoio de estudos sérios, confiáveis.
Nada!
Absolutamente nada!
Foi
um a doação escandalosa. Uma negociata impudica.
Abrimos mão de dinheiro suficiente para cobrir todos os alegados déficits orçamentários, todos os rombos nas tais contas públicas.
Abrimos mão de dinheiro suficiente para cobrir todos os alegados déficits orçamentários, todos os rombos nas tais contas públicas.
Abrimos
mão do dinheiro essencial, vital para a previdência, a saúde, a
educação, a segurança, a habitação e o saneamento, as estradas,
ferrovias, aeroportos, portos e hidrovias, para os próximos anos.
Mas
suas excelentíssimas excelências acima citadas não estão nem aí.
Por que, entendem, não vem ao caso…
Na
década de 80, quando as montadoras de automóveis, depois de
saturados os mercados do Ocidente desenvolvido, voltaram os olhos
para o Sul do mundo, os governantes da América Latina, da África,
da Ásia entraram em guerra para ver quem fazia mais concessões,
quem dava mais vantagens para “atrair” as fábricas de
automóveis.
Lester
Turow, um dos papas da globalização, vendo aquele espetáculo
deprimente de presidentes, governadores, prefeitos a oferecer até
suas progenitoras para atrair uma montadora de automóvel,
censurou-os, chamando-os de ignorantes por desperdiçarem o suado
dinheiro dos impostos de seus concidadãos para premiarem empresas
biliardárias.
Turow
dizia o seguinte: qualquer primeiroanista de economia, minimamente
dotado, que examinasse um mapa do mundo, veria que a alternativa para
as montadoras se expandirem e sobreviverem estava no Sul do Planeta
Terra. Logo, elas não precisavam de qualquer incentivo para se
instalarem na América Latina, Ásia ou África. Forçosamente viriam
para cá.
No
entanto, governantes estúpidos, bocós, provincianos, além de
corruptos e gananciosos deram às montadoras mundos e fundos.
Conto
aqui uma experiência pessoal: eu era governador do Paraná e a
fábrica de colheitadeiras New Holland, do Grupo Fiat, pretendia
instalar-se no Brasil, que vivia à época o boom da produção de
grãos.
A
Fiat balançava entre se instalar no Paraná ou Minas Gerais. Recebo
no palácio um dirigente da fábrica italiana, que vai logo fazendo
numerosas exigências para montar a fábrica em meu estado. Queria
tudo: isenções de impostos, terreno, infraestrutura, berço
especial no porto de Paranaguá, e mais algumas benesses.
Como
resposta, pedi ao meu chefe de gabinete uma ligação para o então
governador de Minas Gerais, o Hélio Garcia. Feito o contanto,
cumprimento o governador: “Parabéns, Hélio, você acaba de ganhar
a fábrica da New Holland”. Ele fica intrigado e me pergunta o que
havia acontecido.
Explico
a ele que o Paraná não aceitava nenhuma das exigências da Fiat
para atrair a fábrica, e já que Minas aceitava, a fábrica iria
para lá.
O
diretor da Fiat ficou pasmo e se retirou. Dias depois, ele reaparece
e comunica que a New Holland iria se instalar no Paraná.
Por
que?
Pela
obviedade dos fatos: o Paraná à época, era o maior produtor de
grãos do Brasil e, logo, o maior consumidor de colheitadeiras do
país; a fábrica ficaria a apenas cem quilômetros do porto de
Paranaguá; tínhamos mão-de-obra altamente especializada e assim
por diante.
Enfim,
o grande incentivo que o Paraná oferecia era o mercado.
O
que me inspirou trucar a Fiat? O conselho de Lester Turow e o exemplo
de meu antecessor no governo, que atraiu a Renault, a Wolks e a
Chrysler a peso de ouro e às custas dos salários dos metalúrgicos
paranaenses, pois o governador de então chegou até mesmo negociar
os vencimentos dos operários, fixando-os a uma fração do que
recebiam os trabalhadores paulistas.
Mundos
e fundos, e um retorno pífio.
Pois
bem, voltemos aos dias de hoje, retornemos à história, que agora se
reproduz como um pastelão.
O
pré-sal, pelos custos de sua extração, coisa de sete dólares o
barril, é moranguinho com nata, uma mamata só!
A
extração do óleo xisto, nos Estados Unidos, o shale oil , chegou a
custar até 50 dólares o barril; o petróleo extraído pelos canadensesdas areias betuminosas sai por
20 a 30 dólares o barril; as petrolíferas, as mesmas que vieram
aqui tomar o nosso pré-sal, fecharam vários projetos de extração
de petróleo no Alasca porque os custos ultrapassavam os 40 dólares
o barril.
Quer
dizer: como no caso das montadoras, era natural, favas contadas que
as petrolíferas enxameassem, como abelhas no mel, o pré-sal. Com
esse custo, quem não seria atraído?
Por
que então, imbecis, por que então, entreguistas de uma figa,
oferecer mais vantagens ainda que a já enorme, incomparável e
indisputável vantagem do custo da extração?
Mais
um dado, senhoras e senhores da Lava Jato, atrizes e atores daquele
malfadado filme:
vocês sabem quanto o governo arrecadou com o último
leilão?
Arrecadou o correspondente a um centavo de real por litro
leiloado.
Um
centavo, Moro!
Um centavo, Dallagnoll!
Um centavo, Carmem Lúcia!
Um centavo, Raquel Dodge!
Um centavo, ínclitos delegados da Policia Federal!
Um centavo, Dallagnoll!
Um centavo, Carmem Lúcia!
Um centavo, Raquel Dodge!
Um centavo, ínclitos delegados da Policia Federal!
Esse
governo de meliantes faz isso e vocês fazem cara de paisagem, viram
o rosto para o outro lado.
Já
sei, uma das razões para essa omissão indecente certamente é, foi
e haverá de ser a opinião da mídia.
Com
toda a mídia comercial, monopolizada por seis famílias, todas a
favor desse leilão rapinante, como os senhores e as senhoras iriam
falar qualquer coisa, não é?
Não
pegava bem contrariar a imprensa amiga, não é, lavajatinos?
Renovo a pergunta:
Renovo a pergunta:
desbaratar o suado dinheiro que é esfolado dos
brasileiros via impostos e dar isenção às empresas mais ricas do
planeta é um ou não é corrupção?
Entregar
o preciosíssimo pré-sal, o nosso passaporte para romper com o
subdesenvolvimento, é ou não é suprema, absoluta, imperdoável
corrupção?
É
ou não uma corrupção inominável reduzir o salário mínimo e
isentar as petroleiras?
Será,
juízes, procuradores, policiais federais, defensores públicos, será
que as senhoras e os senhores são tão limitados, tão fronteiriços,
tão pouco dotados de perspicácia e patriotismo ao ponto de
engolirem essa roubalheira toda sem piscar?
Bom,
eu não acredito, como alguns chegam a acusar, que os senhores e as
senhoras são quintas-colunas, agentes estrangeiros, calabares,
joaquins silvérios ou, então, cabos anselmos.
Não,
não acredito.
Não
acredito, mas a passividade das senhoras e dos senhores diante da
destruição da soberania nacional, diante da submissão do Brasil às
transnacionais, diante da liquidação dos direitos trabalhistas e
sociais, diante da reintrodução da escravatura no país…. essa
passividade incomoda e desperta desconfianças, levanta suspeitas.
Pergunto,
renovo a pergunta:
como pode um país ser comandado por uma
quadrilha, clara e explicitamente uma quadrilha, e tudo continuar
como se nada estivesse acontecendo?
Responda,
Moro.
Responda, Dallagnoll.
Responda, Carmem Lúcia.
Responda, Raquel Dodge.
Responda, Dallagnoll.
Responda, Carmem Lúcia.
Responda, Raquel Dodge.
Respondam,
oh, ínclitos e severos ministros do Tribunal de Contas da União que
ajudaram a derrubar uma presidente honesta.
Respondam,
oh guardiões da moral, da ética, da honestidade, dos bons costumes,
da família, da propriedade e da civilização cristã ocidental.
Respondam
porque denunciaram, mandaram prender, processaram e condenaram tantos
lobistas, corruptores de parlamentares e de dirigentes de estatais,
mas pouco se dão se, por exemplo, lobistas da Shell, da Exxon e de
outras petroleiras estrangeiras circulem pelo Congresso obscenamente,
a pressionar, a constranger parlamentares em defesa da entrega do
pré-sal, e do desmantelamento indústria nacional do óleo e do gás?
Eu
vi, senhoras e senhores. Eu vi com que liberdade e desfaçatez o
lobista da Shell, semanas atrás, buscava angarias votos para aprovar
a maldita, indecorosa MP franqueando todo o setor industrial nacional
do petróleo à predação das multinacionais.
Já
sei, já sei…. isso não vem, ao caso.
Fico
cá pensando o que esses rapazes e essas moças, brilhantíssimos
campeões de concursos públicos, fico pensando…..o que eles e elas
conhecem de economia, da história e dos impasses históricos do
desenvolvimento brasileiro?
Será
que eles são tão tapados ao ponto de não saberem que sem energia,
sem indústria, sem mercado consumidor, sem sistema financeiro
público, para alavancar a economia, sem infraestrutura não há
futuro para qualquer país que seja?
Esses são os ativos
imprescindíveis para o desenvolvimento, para a remissão do atraso,
para o bem-estar social e para a paz social.
Sem
esses ativos, vamos nos escorar no quê? Na produção e exportação
de commodities? Ora…
Mas,
os nossos bravos e bravas lavajatinos não consideram o
desbaratamento dos ativos nacionais uma forma de corrupção.
Senhoras,
senhores, estamos falando da venda subfaturada –ou melhor, da
doação- do país todo! Todo!
E
quem o vende?
Um
governo atolado, completamente submerso na corrupção.
E
para que vende?
Para
comprar parlamentares e assim escapar de ser julgado por corrupção.
Depois
de jogar o petróleo pela janela, preparando assim o terreno para a
nossa perpetuação no subdesenvolvimento, o governo aproveita a
distração de um feriado prolongado e coloca em hasta pública o
Banco do Brasil, a Caixa Econômica, a Eletrobrás, a Petrobrás e
que mais seja de estatal.
Ladrões
de dinheiro público vendendo o patrimônio público.
Pode
isso, Moro?
Pode isso, Dallagnoll?
Pode isso, Carmem Lúcia?
Pode isso, Raquel Dodge?
Ou devo perguntar para o Arnaldo?
Pode isso, Dallagnoll?
Pode isso, Carmem Lúcia?
Pode isso, Raquel Dodge?
Ou devo perguntar para o Arnaldo?
À
véspera do leilão do pré-sal, semana passada, tive a esperança de
que algum juiz intrépido ou algum procurador audacioso, iluminados
pelos feéricos, espetaculosos exemplos da Lava Jato, impedissem esse
supremo ato de corrupção praticado por um governo corrupto.
Mas,
como isso não vinha ao caso, nada tinha com os pedalinhos, o
tríplex, as palestras, o aluguel do apartamento, nenhum juiz, nenhum
procurador, nenhum delegado da polícia federal, e nem aquele rapaz
do TCU, tão rigoroso com a presidente Dilma, ninguém enfim, se
lixou para o esbulho.
Ah,
sim, não estava também no power point….
É com desencanto e o mais profundo desânimo que pergunto: por que Deus está sendo tão duro assim com o Brasil.
*Roberto
Requião é senador da República no segundo mandato. Foi governador
de estado por 3 mandatos, 12 anos, prefeito de Curitiba, secretário
de estado, deputado, industrial, agricultor, oficial do exército
brasileiro e advogado de movimento sociais. É graduado em direito e
jornalismo com pós graduação em urbanismo e comunicação.