Do campo à narração: a história de Isabelly Morais,
a primeira mulher a narrar futebol em Minas Gerais.
Repórter da VAVEL Brasil faz história no rádio mineiro ao narrar América e ABC, pela Série B; veja a trajetória de superação da locutora.
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Dia 7 de novembro é comemorado o 'Dia do Radialista' em diversos países na América do Sul. No Brasil, não é exceção. Mas a radiofonia nacional ganhou um capítulo importante no que diz respeito à sua história. Na noite desta terça (7), coube a Isabelly Morais, repórter do portal VAVEL Brasil e da Rádio Inconfidência, narrar a partida entre América-MG e ABC, às 19h15, pelo Campeonato Brasileiro Série B, tornando-se a primeira mulher a narrar uma partida de futebol na história do rádio mineiro.
"Hoje não tenho a dimensão do quanto isso é importante, talvez tenha lá na frente quando ver outras mulheres fazendo isso. O que eu tenho é uma sensação prazerosa de ter essa coragem, de enfrentar um meio muito machista, de levantar a cabeça. O que eu quero é focar no meu sucesso profissional", disse Isabelly, quando perguntada sobre a sensação de estar vivendo sua primeira narração.
Pioneira em Minas Gerais, ela se junta a ícones como Renata Silveira, a primeira mulher a narrar uma partida de Copa do Mundo, pela Rádio Globo/RJ, e Mayra Lemos, que participa de transmissões na Rádio Globo/SP. Outra destaque é Glenda Kozlowski, que narrou modalidades olímpicas na Rede Globo, mas não chegou ao futebol. E para fazer um apanhado geral, a NFL teve a primeira mulher narradora da história: Beth Mowins, no Monday Night Football.
No domingo, 12.11, Isabelly enfrentou mais um desafio ao narrar a primeira partida de Série A do Brasileirão: Atlético e Bahia, que terminou com o placar de 2 x 2.
Aos 20 anos, o caso de Isabelly é mais um entre as histórias de quem deixou sua terra natal para crescer na cidade grande. Natural da cidade de Itamarandiba, município de 34 mil habitantes, no Vale do Jequitinhonha, no nordeste de Minas, deixou sua terra e a companhia de sua mãe, Dona Marilene, para estudar na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
"Sou apaixonada por jornalismo esportivo. Entrei na graduação pensando em canalizar todos os meus esforços para a área esportiva. Poder fazer tantas funções na área que me encanta é uma motivação. Me motiva descobrir que posso lidar com tantas funções no jornalismo", conclui ao se lembrar dos vários cargos, matérias e conteúdos que produziu até então.
"Sou apaixonada por jornalismo esportivo. Entrei na graduação pensando em canalizar todos os meus esforços para a área esportiva. Poder fazer tantas funções na área que me encanta é uma motivação. Me motiva descobrir que posso lidar com tantas funções no jornalismo", conclui ao se lembrar dos vários cargos, matérias e conteúdos que produziu até então.
Seu início na VAVEL Brasil foi em 2016. Na ocasião, Isabelly era uma das responsáveis pela cobertura do Cruzeiro. Pouco tempo depois, passou a fazer parte da editoria de vôlei e fez várias coberturas de jogos das Superligas Masculina e Feminina, além do Mundial de Clubes, sediado em Betim. Neste ano, tornou-se setorista da Raposa e uma das coordenadoras da editoria de Minas Gerais.
Confira a narração de Isabelly Morais
Isabelly, no entanto, não ficou apenas na mídia online. Também neste ano, mais especificamente em junho, ela iniciou estágio na Rádio Inconfidência, uma das mais tradicionais de Minas Gerais. Chegou ao veículo como uma típica mineira, 'quietinha', mas logo ocupou espaço nos microfones. Passou a apresentar o programa 'Esportes Pelo Ar', 'Primeira Esportivas' (escute abaixo), e as reportagens de campo em partidas de América, Atlético e Cruzeiro.
Dona de sorriso largo, não costuma se acomodar perante às dificuldades. No fim de março, por exemplo, Isabelly estava à caminho da Arena do Minas, para acompanhar Minas Tênis Clube x Rio de Janeiro, pela semifinal da Superliga Feminina de Vôlei. Quando aguardava pelo segundo ônibus, foi surpreendida por um assaltante, que levou, além do seu telefone celular, sua mochila contendo o notebook, com todas as matérias de faculdade, do site, e sonhos. Sonho de crescer profissionalmente, como conta.
Isabelly se abateu naquele instante, pois viu tudo se ruir em questão de segundos. O telefone celular e o notebook foram repostos, mas, muito além disso, ela viu como nunca o apoio dos familiares, amigos e colegas de profissão, que se uniram para trazer a alegria da narradora desta noite de volta. A transmissão pela Rádio Inconfidência começa às 19h, durante a Jornada Esportiva. Na VAVEL Brasil, a partida será narrada em tempo real através do site.
"Não sei a dimensão disso tudo"
Os efeitos da ansiedade já mostravam sinais em Isabelly. Inquieta como sempre, passou a madrugada no telefone e pouco conseguiu dormir. Quando acordou, teve dificuldades para se alimentar. "Comi apenas uma banana de manhã", diz ela, correndo também no horário de almoço pois tinha que estudar. Deixou a UFMG após ter aula sobre tática (sim), disciplina eletiva. Escolha da própria por gostar do assunto, mesmo não sendo obrigatória para conclusão.
"Não sei a dimensão disso tudo" - Isabelly Morais
Já em casa, pouco teve tempo para descansar. Recebeu ligações de parabenização de pessoas conhecidas, desconhecidas e de quem jamais imaginaria que entrariam em contato. Na sua rede social, as mensagens bombavam, perdendo a conta de quantas vezes teve que atualizar para responder todo mundo. Educação que ganhou de berço é uma de suas características pessoais.
"Nunca recebi tanta mensagem assim, não sei como responder, é tudo novo. Eu atualizo a página e surgem mais 60, 70 novas mensagens, tudo de pessoas desejando boa sorte e dando parabéns. Nunca imaginei que teria tanta gente torcendo por mim dessa forma, gente famosa, jornalistas, jogadores, é tudo muito novo", disse ela após mais uma atualizada em sua conta.
Isabelly sempre foi elogiada pelo seu estudo antes das partidas. É o que destaca José Augusto Toscano e Marcello Neves, editores da Rádio Inconfidência e da VAVEL Brasil, respectivamente. Para ambos, o seu trabalho de campo sempre se destacou pelo conteúdo que leva às partidas. Ela desligaria a ligação horas depois pois precisava estudar e se concentrar, como de costume.
"Eu estou ansiosa, estou andando pela casa toda. Estou calma, mas estou inquieta. Até o Juninho Pernambucano entrou em contato comigo, o pessoal do Redação SporTV entrou em contato para eu participar ao vivo com eles, o repórter do UOL quer falar comigo. Eu não sei a dimensão disso tudo", comentou enquanto se preparava para o jogo.
E o dia de Isabelly até a hora do jogo foi esse: desligava a internet, estudava, tocava o telefone, respondia as mensagens, respondia, voltava a estudar, voltava a atender o telefone. Famosa do dia para a noite, não gosta de ser chamada de estrela. Prefere a palavra inspiração, seu desejo para as gerações de mulheres que virão depois dela. Reuniu seus papéis, respirou fundo, pegou suas coisas e saiu de casa.
Quando chegou na Arena Independência, foi surpreendida pela equipe do portal Superesportes, que entrevistaria-a antes da partida. Foi a primeira de muitas novidades que viveria naquele dia. Se despediu após uma mensagem no WhatsApp, que lhe arrancaria um grande sorriso. Pelo momento e pela situação, era a maior experiência de sua vida. Ligou o microfone.
Tudo que veio depois é história.
"Imagina você narrando rápido assim"
"Mãe, acho que vou narrar um jogo". Essa foi a mensagem que piscou no celular de Dona Marilene, no horário de almoço, semanas antes da escala da partida ser definida. Para ela, confidenciou as conversas com seu editor sobre estar sendo preparada para o momento. Melhor amiga, claro, sua mãe a apoiou.
Isabelly lembra das brincadeiras com a própria mãe quando era pequena. A maior de todas era a mesma de sempre: seu ritmo de fala, característica que carrega até hoje. "Dê uma palavra que ela monta um programa inteiro em cima disso", brincam seus amigos na Rádio Inconfidência. Ela lembra dos comentários e do quanto sua mãe falava sobre isso quando era uma criança.
"Minha mãe sempre me apoiou muito, ela brincavam comigo sobre como eu falava rápido. Falava: 'Já pensou você narrando falando rápido desse jeito? Precisa falar mais devagar'. É algo que levo até hoje e algo que tenho me corrigido bastante. Mas, mesmo com as brincadeiras, ela sempre me apoiou bastante", destacou ao enviar uma mensagem para Dona Marilene, que estava em horário de serviço naquele momento.
O abraço de Marilene está a 467 quilômetros de distância, ou seis horas de viagem de Isabelly, mas a relação entre elas permanece a mesma. Os sorrisos que duram horas nas chamadas telefônicos marcam os dias atuais, porém a despedida foi dolorida. Quando contou que deixaria Itamarandiba para estudar na capital, as lágrimas vieram. A filha virou passarinho e voou.
"Nunca fui jornalista e me tornei"
Mulher no esporte é, infelizmente, em pleno 2017, ainda um tabu. Por isso as conquistas são comemoradas, para lembrarmos da importância que elas têm em nossa sociedade. E a oportunidade não caiu do céu para Isabelly. Pelo menos é o que indica o jornalista José Augusto Toscano, editor da Rádio Inconfidência, que promoveu tal oportunidade.
"Já tivemos muitas repórteres na Rádio Inconfidência. Todas fazem um pouco, as meninas comentam, fazem reportagem, editam, apresentam, isso faz uma bagagem legal. Eu já tinha amadurecido a ideia com a Isabelly, deixei claro a ela que a queria como narradora. É uma das qualidades dela, é uma pessoa firme naquilo que quer. Ela disse que nunca foi narradora, eu respondi que nunca tinha sido jornalista e me tornei. É assim que as coisas funcionam", declarou.
E seu sucesso chegou à Espanha. É o que acontece quando Javier Robles, editor-chefe e CEO do portal VAVEL, comenta sobre a jornalista. Longe do Brasil, acompanha a evolução de sua produção através de relatórios enviados pelo editor nacional. No entanto, o reconhecimento pelo trabalho da mineira alcançou fronteiras internacionais.
"Isabelly é uma das repórteres mais talentosas que acompanhei pelo site. Sempre esteve citada nos relatórios feitos pelo editor-chefe do Brasil como destaque e exemplo de potencial a ser explorado. Cresceu bastante em pouco tempo e ganhou um espaço que não é comum nem mesmo no jornalismo espanhol. No Brasil, teve feitos que surpreenderam a todos. Recebo e-mails dos editores brasileiro falando sobre suas conquistas", diz Javier Robles, CEO do portal VAVEL, residente em Madri.
*Colaborou Andrey Mattos e Matheus Adler
Publicado no https://www.vavel.com, no dia 07.11.2017
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