segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Encontro de Convivência com o Semiárido denuncia latifúndio e expulsão de agricultores familiares


Por Antônio Inácio Correa*, de Januária, norte de Minas.
Participamos do IX Festival de Convivência com o Semiárido do Norte de Minas, em São Francisco, no norte de Minas,  no dia 03/09/2017. O evento foi  promovido pela Diocese de Januária.
Estiveram presentes representantes de várias comunidades da região. Houve apresentações folclóricas dos quilombolas, tribo Xackriabás e outros, como também oficina de debates sobre as lutas e sobrevivência do povo da região do Norte de Minas.
O que mais me marcou foi a luta dos quilombolas, posseiros, geraizeiros, vazanteiros e outros povos típicos da região que ainda resistem à seca e à expulsão do camponês de seu torrão.
Quem viaja às margens do rio São Francisco, e onde ainda existe água, percebe que as melhores terras estão debaixo da cerca do latifúndio improdutivo, onde se vê os cancelões com cadeados e uma grande placa com os dizeres: “Proibido a entrada”.
Será porque ? Estas terras estão totalmente documentadas e cumprindo a função social ? Claro que não, pois a maioria de seus pretensos donos moram em outras regiões, muitos nas capitais. Quando muito fazem grandes desmates com correntes para semear o capim ou plantar eucalipto, destruindo a fauna e a flora.
Nas décadas de 70 e 80, houve uma grande invasão de empresas de reflorestamentos, carvoeiras e agropecuárias incentivadas e financiadas pela Sudene e Ruralminas. Até o Gerais que já era povoado e produzia muito foi invadido e logo depois abandonado.
A população foi expulsa da terra. Hoje, estamos importando até farinha de mandioca que era a fartura da região. Este produto está vindo do Paraná.
E muito mais. Nossa região, de exportadora, hoje importa de tudo justamente por causa do latifúndio improdutivo que expulsou o homem do campo.

Antônio Inácio Corrêa é trabalhador rural aposentado, tendo sido Presidente do Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Januária por vários mandatos, fundador da CUT Norte de Minas e MST. É membro da Comissão dos Direitos Humanos de Januária. Antônio Inácio sempre escreveu e registrou as lutas do povo trabalhador. Por muitos anos, publicou artigo semanal, no extinto jornal Folha de Januária. Publicou, pela Editora Vozes, o livro Um Lavrador no Reino do Latifúndio - a luta secular de David contra Golias, em 1988.
Para aquirir, link do livro :
https://www.estantevirtual.com.br/sebocyber/antonio-inacio-correa-um-lavrador-no-reino-do-latifundio-503681705

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