Emir Sader*
O
golpe montou um cerco em torno da esquerda e do movimento popular. O
cerco do preconceito monstruosamente forjado pela velha mídia, o
cerco institucional pela judicialização da política, o cerco
político pela ofensiva antipopular da maioria direitista no
Congresso – montaram um dique de contenção contra os interesses
populares, que precisa ser desmontado.
Lula
fez algo similar com Moro no depoimento do dia 10, fazendo com que o
feitiço virasse contra o feiticeiro. As perguntas de Lula foram
sumamente incômodas para Moro. Lula retomou a iniciativa, desmontou
as acusações contra ele, deixou Moro sem ação, sem nem sequer o
poder de interromper o Lula.
Antes
de tudo, portanto, como fez Lula com Moro, responder a tudo,
esclarece a tudo, com exaustão, porque a razão que temos é o nosso
argumento mais forte. O convencimento, a persuasão, a consciência
dos problemas e das soluções é o instrumento decisivo para darmos
volta à situação politica do pais.
O
movimento popular está na defensiva desde a ofensiva que levou ao
golpe. O governo passou a ditar a agenda, a tomar iniciativas,
valendo-se da sua enorme maioria parlamentar e do poder da velha
mídia, para deslocar a pauta para seus projetos de desmonte de tudo
o que foi construído desde 2003. Mesmo isolado e desgastado, o
governo tem a iniciativa, porque pode contar com o beneplácito da
mídia e com maioria no Congresso. Enquanto contar com isso, pode
sobreviver e prestar serviços à direita e ao capital financeiro.
Precisamos
sair do cerco e passar a cercar o governo. As mobilizações
convocadas para Brasília podem ser o momento de virada da situação
estratégica da defensiva para a de ofensiva, pelo menos para
promover um empate estratégico com o governo. Atacar no cenário
decisivo e simbólico. A reforma da Previdência tornou-se o embate
de virada. Valer-nos da vitória que temos na opinião publica, com
dados arrasadores contra a iniciativa do governo – e a própria
declaração do MT de que a aprovação da reforma da Previdência
não é decisiva, ao contrario do afirmou Meirelles todos os dias –
para levar o governo à sua primeira grande derrota politica, é o
caminho. Uma derrota que tem se configurado não apenas nas
concessões que o governo tem feito, mas principalmente nos
adiamentos que tem promovido, forma típica de recuo desse governo
fraco e covarde.
Temos
que cortar a capacidade de ação do governo, que residiu na certeza
do apoio da velha mídia e da maioria no Congresso. Que ele tenha
cada vez menos certeza nesses dois instrumentos de apoio,
principalmente em que pode aprovar seus projetos, mesmo quando passou
a ter reprovado na opinião pública. Precisamos amputar a capacidade
de iniciativa do governo, reduzi-lo à impotência, cercado pelo
movimento popular, condenado pela opinião publica, contando cada vez
com menos apoio parlamentar e politico, criticado cada vez mais pela
velha mídia.
Estamos,
depois da greve geral e das manifestações de Curitiba, em um
momento de virada na correlação de forcas entre a oposição e o
governo, entre as forcas democráticas e as forcas golpistas.
Precisamos consubstanciar isso em iniciativas politicas nossas,
diante das quais o governo e a mídia tenham que se pronunciar,
recuperando a iniciativa por parte do campo popular.
A
reivindicação das diretas já é um tema, mas podemos faze-la
acompanhar da criação de um consenso da necessidade de convocação
de uma Assembleia Constituinte, para reformar o sistema politico.
Podemos apresentar propostas no Congresso, lutar para colocar em
pauta esse tema essencial, que nos faz recuperar iniciativa na grande
agenda nacional, provocar a que os outros tenham que e pronunciar
sobre ela.
Podemos
também manter a iniciativa no plano das mobilizações de massa, nas
quais a defesa do Lula – como se viu em Curitiba – é uma
reivindicação que unifica a todos os movimentos populares, porque
se identifica com a restauração da democracia. O lançamento da
pré-candidatura do Lula no Congresso Nacional do PT, pode ser o marco
para grandes atividades de discussão e proposição das plataformas
que deve ter um novo governo de esquerda no Brasil.
Precisamos
repor a centralidade da questão social – da desigualdade, da
pobreza, da exclusão social –, condição das nossas vitórias
eleitorais, que se perdendo, conforme a direita foi impondo a
centralidade da questão da corrupção no Brasil. Assim como
precisamos recuperar a confiança na potencialidade do Brasil – que
o Lula tanto realça -, que a direita foi debilitando, desmontando o
modelo de desenvolvimento econômico com distribuição de renda,
recuperar o prestigio do Estado, como prestador de serviços à
população, mas também como comando da retomada do projeto
estratégico do Brasil como potencia democrática, econômica e
social.
O
Brasil vai decidir daqui até o fim de 2018, no espaço curto de 18
meses – 18! - o seu futuro, projetado em toda a primeira metade do
século. Ou a direita ter força para dar outro golpe e se consolidar
no poder ou as forças democráticas e populares conseguem retomar o
governo e realizar as profundas transformações que o país requer e
desenhar um Brasil democrático, solidário, soberano, com o que
aprendemos a sonhar com o Lula.
Emir Sader é cientista político e professor da UERJ.
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