quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Romeiros e mascates fazem a festa de Virgem da Lapa

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Uma vez por ano, durante pelo menos 15 dias do mês de agosto, a Avenida Castelo Branco, no Centro da cidade de Virgem da Lapa, no Vale do Jequitinhonha, se transforma em passarela para o maior shopping popular a céu aberto da região. Mascates de todos os cantos do país, principalmente da Bahia e Espírito Santo, se misturam com romeiros, turistas e moradores do lugar, para compor o mosaico de uma das mais tradicionais festas do Vale do Jequitinhonha: a festa de Nossa Senhora da Lapa.
Conhecida também como Festa de Agosto, o evento tem seu ponto alto no dia 15, quando ocorre uma grande procissão que sai do santuário às margens do Córrego São Domingos, na parte baixa da cidade, ate à matriz, na parte alta.

Missa é rezada ao ar livre para milhares de devotos católicos (Gazeta de Araçuaí)

Durante a procissão, muitos fiéis aproveitam para pagar promessas, como Marli Sousa Pereira, de 55 anos, natural da cidade e atualmente residente em Caraguatatuba, litoral de São Paulo. “Viajo mais de mil quilômetros para chegar até aqui, mas não me importo. Venho pagar minha promessa todos os anos. É muito bom”, garante a dona de casa.

Barracas já fazem parte da tradição da festa de Agosto (Gazeta de Araçuaí)

Romaria


Missa no local onde apareceu a imagem de Nossa Senhora da Lapa (Gazeta de Araçuaí)

As lembranças permanecem vivas e percorrem até os dias de hoje, a memória do aposentado Valdir de Almeida Jardim, de 96 anos.
Ainda criança, ele se encantava com a procissão: “muitos iam descalços, como forma de pagar as promessas e outros andavam de joelhos como forma de penitência e remissão dos pecados. O andor da santa, aos meus olhos de menino, era de uma beleza extraordinária que me tocava o coração”, conta o aposentado.

Casarão onde eram realizados bailes (Divulgação)

De lá para cá, ele acompanha a evolução dos festejos, sem esquecer o lado religioso, que para Seu Valdir, é o principal motivo da realização do evento.
Misturado à festa religiosa, das missas e procissão, as moças e rapazes, naqueles dias, colocavam seus melhores vestidos e chapéus para circular pela praça, mais felizes do que nos melhores domingos.

Valdir de Almeida Jardim, de 96 anos (Gazeta de Araçuaí)

“Não havia luz elétrica. Os bailes que iam até por volta da meia-noite, aconteciam no sobrado do Inacinho Murta, à luz dos candeeiros e ao som das sanfonas. O sobrado, na praça da Matriz, foi demolido para dar lugar a um supermercado . A estrada entre Virgem da Lapa e Araçuaí era muito ruim. Os romeiros viajavam à pé, à cavalo ou nas carrocerias dos poucos caminhões que existiam. Eles armavam barracas às margens do córrego São Domingos, perto da gruta onde apareceu a santa e ficavam por lá, de dois a três dias”, lembra o aposentado.

Celebração no passado (Divulgação)


Festa religiosa é realizada há mais de 200 anos (Divulgação)

Ainda hoje, para muitos, assistir as missas e novenas que ocorrem ao longo da programação da festa, é motivo para confirmar a fé, evangelizar novas gerações e ratificar a devoção à Nossa Senhora da Lapa.

História


Devotos assistem missa e pagam promessas (Gazeta de Araçuaí)

Segundo relatos históricos, a peregrinação de romeiros à Virgem da Lapa começou ainda no princípio do século 18. Por volta de 1728, um garimpeiro teria encontrado a imagem da santa às margens do córrego São Domingos.
Mas, também existe uma lenda segundo a qual a imagem foi encontrada por um menino, que saiu para juntar burros, a mando de seu pai, um tropeiro. Depois, a criança teria perseguido um coelho, indo parar dentro de uma gruta iluminada, com altar natural.

Gruta onde menino teria encontrado imagem da santa (Gazeta de Araçuaí)

Passado o tempo, a Festa ganhou ares de modernidade. Lá estão as famílias, com seus carrinhos de bebês, o povo da roça que chega para rezar e passear, as adolescentes com suas melhores microssaias e miniblusas, os jovens com piercings, camisas de bandas de rock ou de funk, o encontro de amigos no calçadão onde tudo pode ocorrer, como as comilanças e bebelanças.
As sanfonas e os bailes iluminados pelos fifós à querosene no sobrado do Inacinho, nos anos 40, 50, foram substituídos pelo samba- pop- percussão arrocha e axé das bandas que levam milhares a amanhecer o dia na Baixinha e curtir a ressaca dos exageros.

Visitantes curtem shows durante a noite (Gazeta de Araçuaí)

As missas agora, são transmitidas pela rádio local, facilitando a vida de muitos que, por uma ou outra razão não podem assisti-la ao vivo.
Na festa de Virgem da Lapa -a gosto de todos-, observam-se as coexistências de modos de vida tradicionais e contemporâneos, do sagrado e profano, da ruralidade e da urbanidade… Nela os pares dialéticos se mostram e se relacionam. A festa evoluiu, como o retrato de nossa sociedade.

Mascates transformam avenida em shopping popular (Gazeta de Araçuaí)
Fonte: Gazeta de Araçuaí/Sérgio Vasconcelos

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