Sem hospitais, pacientes fazem via-sacra rumo a atendimento
Com a contínua onda de fechamento de hospitais em Minas nos últimos anos, a população que depende de unidades públicas tem arcado com as consequências. No interior, não é difícil encontrar casos de pacientes que precisam se deslocar centenas de quilômetros em ambulâncias para ter acesso a atendimento, mesmo em casos simples. Na outra ponta do problema, os hospitais “sobreviventes” acabam sobrecarregados, comprometendo a qualidade do serviço.
Segundo a Associação de Hospitais de Minas Gerais, 130 instituições médicas fecharam as portas em Minas nos últimos cinco anos, em muitos casos, devido à má gestão e à escassez de recursos.
A última “vítima” desse processo de encolhimento da rede hospitalar é o Nossa Senhora da Saúde, unidade que atende Diamantina e municípios da região Central e Alto Jequitinhonha. A 30 quilômetros dali, pacientes do distrito de Datas que precisaram de atendimento no último sábado tiveram de viajar 70 quilômetros a mais para buscar socorro em Curvelo.
No caminho, o motor de uma das duas ambulâncias fundiu. “A prefeitura não tem dinheiro para arrumar o carro. Temos agora só um veículo e uma van, que leva pacientes de segunda a sexta-feira para Belo Horizonte”, lamenta o prefeito Ilmar Guedes.
Casos similares se repetem em outros municípios. Com 22 mil habitantes, Paraopeba, na região Central, está sem o Hospital São Vicente de Paulo há oito meses. O impacto do fechamento atinge também cidades vizinhas, como Caetanópolis e Sete Lagoas, – referência para 34 municípios. “Aumentam as filas, a demora no atendimento, mas não podemos rejeitar pacientes”, diz a coordenadora da rede de urgência e emergência de Sete Lagoas, Francimar Lemos. “Casos simples, de rotina, acabam sobrecarregando ainda mais o hospital”.
A Secretaria de Estado de Saúde (SES) enfatiza que Minas tem 529 unidades conveniadas ao Sistema Único de Saúde (SUS) e que o cenário hospitalar apresenta “ociosidade” em 13.616 leitos. Segundo o secretário de Ações em Saúde de Minas, Maurício Botelho, esses leitos, quando vazios por mais de três meses, são remanejados para hospitais com déficit.
O Estado, porém, já informou não ter controle sobre a gestão de muitas unidades, que, mesmo recebendo subsídios do SUS, acabam se endividando. Em Teófilo Otoni, o Hospital Bom Samaritano, gerido pela Sociedade São Vicente de Paulo, fechou as portas dia 1º de agosto deste ano. Motivo: dívida de R$ 300 mil com a folha de pagamento dos médicos.
Milhões gastos em UPA que nunca funcionou
DIAMANTINA – Tem unidade de saúde que “fecha as portas” antes mesmo de ser inaugurada. É o caso da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Diamantina, justamente a cidade que vive a iminência de perder um de seus hospitais.
Muitos casos que seriam acolhidos no espaço são hoje direcionados ao Hospital Nossa Senhora da Saúde, em risco de fechamento, e à Santa Casa. A UPA chegou a ser oficialmente entregue à população na gestão do ex-prefeito Padre Gê, a dois dias do fim do mandato, em 28 de dezembro. Porém, nenhuma pessoa foi atendida.
O imóvel, que custou R$ 2,6 milhões, apresentou problemas na instalação elétrica, impossibilitando o uso de equipamentos como o raio-X. Portas estavam com problemas, e a ligação do esgoto não foi feita.
Há uma semana, um engenheiro clínico fez o levantamento dos equipamentos faltantes para a unidade começar a funcionar. “O diagnóstico será entregue nos próximos dias, mas estima-se que custam cerca de R$ 300 mil. Tendo recursos financeiros, a licitação para a aquisição dos bens acontecerá até o fim do ano”, garante o prefeito Paulo Célio de Almeida.
A expectativa é a de que a UPA passe a atender no primeiro semestre de 2014. Como a manutenção fica em torno de R$ 1,1 milhão mensais, a Prefeitura de Diamantina vai terceirizar a administração da unidade.
Os problemas, no entanto, vão além. Dos nove postos de saúde da cidade, dois estão sem médicos. Quem precisa de atendimento básico tem de pagar. A dona de casa Glaucilene de Castro Pimenta, de 24 anos, gastou R$ 200 para o filho de 1 ano ser recebido por um pediatra particular.
Ao lado da casa dela, o posto de saúde Bela Vista não tem médico há um mês. A médica que atendia na unidade entrou de licença maternidade. A Secretaria Municipal de Saúde realizou dois processos para contratar médicos, mas não conseguiu.
Prevenção falha aumenta os gastos
Além da escassez de recursos, a falta de planejamento para prevenir doenças gera impactos que aumentam a dificuldade de os hospitais funcionarem, segundo a especialista em gestão coletiva pela PUC Minas Romilda Araújo.
“O SUS preconiza a promoção e a prevenção em saúde, mas os trabalhos ainda não se refletiram sobre a população. Doenças e agravamento de quadros que poderiam ser controlados ou evitados continuam elevando os gastos nos hospitais, que têm custos altíssimos com tecnologia, por exemplo”.
*Com Ana Lúcia Gonçalves
Fonte: Hoje em Dia
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