Além de peças da artista do Vale do Jequitinhonha, ceramistas fazem homenagem por meio de trabalhos contemporâneos
Dona Izabel e outros contemporâneos traz obras da artista do Vale do Jequitinhonha em diálogo com criações de nomes atuantes na cena das artes plásticas de BH: Erli Fantini, Yara Tupynambá, Bruno Amarante, Juliana Capibaribe, Lucas Dupin e Adel Souki. Todos reinventam motivos presentes no universo da homenageada. Dona Izabel é precursora de uma escola. E tem pesquisa definida, ressalta Jorge Cabrera. “Suas bonecas vão muito além do decorativo e das formas tradicionais com que peças assim sempre foram feitas”, explica. Ele cita aspectos que acentuam a natureza artística da empreitada da mestra mineira – a começar do fato de a própria dona Izabel não gostar de ser chamada de artesã. O curador destaca a escolha minuciosa das cores e o cuidado da ceramista para que suas personagens manifestem sentimentos diferentes. “Os olhos das bonecas de dona Izabel são modelados, não pintados como fazem os outros que se dedicam a esses personagens. Isso confere peculiar qualidade expressiva às peças”, ressalta Jorge Cabrera. As bonecas da mestra do Vale do Jequitinhonha apresentam semelhanças com peças sacras e santos com seus olhos de vidro. Para o curador, a poética da artista mineira se distingue daquela de obras criadas pelos surrealistas. Uma é suave e lírica; a outra, questionadora e agressiva. Cabrera lembra: em ambos os casos, o sistema de construção faz a síntese de várias realidades. “Dona Izabel é artista especial, tem obra de grande qualidade. Isso fica muito evidente quando se presta atenção às peças feitas por ela”, destaca o curador. Cabrera sugere a quem for à Galeria GTO: “Observe atentamente as bonecas expostas”. Equilíbrio Jorge Cabrera também chama a atenção para um aspecto importante da mostra em cartaz, que propõe o encontro entre a arte popular e a arte erudita, procurando o equilíbrio entre elas. Essa atitude veio da vontade de evidenciar que a essência de ambas é uma só: buscar expressão, sentimento, emotividade, conteúdo poético e sensibilidade. “Por mais que se tente afastar esses aspectos na arte, eles resistem. Seja artista popular ou erudito, ninguém parte para a criação tendo como fundamento bases intelectuais”, adverte o curador. A diferença entre populares e contemporâneos está na linguagem e nos signos plásticos empregados, acrescenta o curador de Dona Izabel e outros contemporâneos. Entretanto, persiste o preconceito em relação à produção “do artista autodidata”, vista como menor. Cabrera avisa: há cada vez mais pesquisas comprovando a multiplicidade de fontes de onde se origina a arte. DONA IZABEL E OUTROS CONTEMPORÂNEOS Artesãos merecem respeito Entre as bonecas de dona Izabel expostas na Galeria GTO uma é especial. Ela vem da coleção do Centro de Arte Popular Mineira (Cenart), ponto de venda instalado no Sesc Palladium. Formado ao longo de mais de 40 anos, o acervo conta com cerca de 2 mil peças, calcula Jorge Cabrera. Trata-se de conjunto importante, com criadores donos de obra significativa. Vários deles já morreram. “O Cenart é mais que uma loja”, avisa Jorge Cabrera. “Trata-se de ação de assistência ao artesão e ao artista popular, que coloca à disposição do público trabalhos com preços acessíveis”, explica. No local também são promovidas oficinas, exposições e cursos. “Muitas vezes, focamos no objeto artístico e nos esquecemos do artista. Temos de pensar no autor, em quem produz. Eles precisam de programas de assistência e de saúde”, defende o curador da mostra Dona Izabel e outros contemporâneos. Em suas viagens pelo interior de Minas Gerais, Cabrera tem se assustado com a quantidade de artistas importantes vivendo com extrema dificuldade. “Há carência de coisas básicas”, denuncia. E dá um exemplo: “Noemisa Batista, cujas obras alcançam altos preços no mercado de arte, vive na pobreza”. Parte do problema se deve ao excesso de atravessadores no mundo da arte e do artesanato popular, garante o curador..
Fonte: www.em.com.br
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