Suplicy lê carta de filha de Genoíno
Não posto este vídeo apenas por ser uma bela lição de companheirismo. Assim deveria ser, sempre, a postura de quem é amigo, companheiro. Não se nega a se expor, mesmo quando batem bumbo contra seus amigos.
Meu objetivo é outro. Suplicy é uma incógnita para mim. Um outsider no mundo da política que deu certo. Que, de tempos em tempos, surpreende, mesmo quando já sabemos que ele é assim mesmo.
Tive um rápido contato mais próximo com este personagem, quando coordenei, por um pequeno período, a campanha de Plínio de Arruda Sampaio para o governo paulista. Algumas vezes, nos encontramos. Mais especialmente, numa viagem para Ribeirão Preto e região. Em determinado momento, abastecemos o carro num posto próximo de Ribeirão. Um frio de lascar. Suplicy sai do carro e fica em pé, ao lado da bomba de gasolina. Lá dentro, no restaurante do posto, começou uma pequena aglomeração. O inusitado é que vi um casal se dirigindo à porta de saída deste restaurante. De repente, a mulher aponta para a direção de Suplicy e fala algo que, obviamente, não ouvimos. Aperta o passo e se esquece da porta de vidro, batendo sua cabeça. Deve ter doído, mas ela continuou apontando. Suplicy entra no carro e partimos.
No ano anterior, eu fazia parte do governo Erundina, no alto dos meus 27 anos. Fomos inaugurar, com a Prefeita, o início das obras de reforma da marginal. Alguns poucos jornalistas estavam lá. Erundina fez um breve discurso e foi embora. Suplicy, que sempre acompanhava estes eventos, estava lá e ficou. Nós, do governo (obras e administração regional), ficamos acertando alguns detalhes e estranhamos a permanência de Suplicy, aparentemente sem nada para fazer. Até que chegou um batalhão de jornalistas. O senador não teve dúvidas: pegou uma das picaretas ali ao lado e fez gestos como se estivesse começando a obra. Adivinha quem saiu nas fotos do dia seguinte?
Suplicy sempre foi assim. Como candidato a prefeito de São Paulo, quase me matou do coração. Naquele debate fatídico, quando retirou papéis, tartarugas, vidros com areia de sua pasta/cartola, pensei que o teto estava desabando sobre nossas cabeças. Era a época do "Perfeito, Suplicy Prefeito".
Eu nunca consegui entender Suplicy e acho que o PT também. Ele é, sozinho, um partido. Talvez, seja um anti-partido. Mas, sempre adorável. Estranhamente adorável.
Alguns militantes atacam o judiciário e falam em ações de desagravo, principalmente para defender Zé Dirceu.
Mas Suplicy faz diferente. Lê a carta da filha de Genoino. Tem algo de humano e estranho neste gesto. Escolhe um personagem importante, mas menos midiático desta história toda. E não fala dele. Dá a voz à filha. Por linhas tortas, demonstra que entende mais o Brasil e o ser humano que os militantes.
Publicado no Blog do Rudá Ricci
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