Mediocridade na análise política brasileira
Rudá Ricci A polarização ideológica-partidária que tomou a grande imprensa brasileira empobreceu o já tímido debate político em nosso país. Ficou mais para torcida de auditório que para análise crítica. Dá lombeira ler artigos pró e contra que adotam os argumentos mais insignificantes e confundem desejo com interpretação.
O que dizem os dados de pesquisa sobre política tupiniquim?
1) A maioria dos brasileiros está focada no seu bem-estar. Ponto. Nem de longe se aproxima do debate ideológico que tucanos e petistas-lulistas travam. Menos ainda em relação ao discurso dos partidos satélites
2) Mais da metade dos brasileiros é classe média (aumento de 20% em 2011), num país que se tornou a 6a potência mundial. Se relacionarmos com o item anterior, do ponto de vista político é absolutamente inócuo discutir se o que temos é crescimento do PIB ou desenvolvimento. Para os brasileiros que votam, o que interessa é manter o poder aquisitivo e dar segurança à sua família.
3) O Brasil cresce pouco na Era Dilma, mas o que interessa é que o consumo continua alto. Está ultrapassando 2,5 trilhões de reais ano. Ligeiramente superior ao crescimento do PIB (se comparado a 2010), mas acima. É verdade que houve uma queda no otimismo exacerbado das famílias. Segundo o ICF (Índice de Intenção de Consumo das Famílias), realizado pela CNC (Confederação Nacional do Comércio), as famílias estão menos dispostas a consumir, se comparado a 2010, um recuo de 5,6% (comparação entre dezembro de 2010 e dezembro de 2011). Há controvérsias, contudo, a respeito deste recuo. Vários autores sugerem uma mudança - que seria mais sustentável - no perfil do consumo e início da construção da poupança familiar, algo inédito em nosso país.
4) O governo Dilma Rousseff surfa nesta onda. Não tem competência política, mas consegue somar esta onda consumista e de estabilidade familiar com a "adoção" pela grande imprensa. A grande imprensa aplaudiu a tal "faxina moral" com muita torcida para a montagem da coalizão presidencialista lulista sofrer abalos fatais. Alguns editoriais foram honestos nesta linha; outros, revelaram ressentimento em relação ao lulismo.
5) Mas nada garante que Lula ou o lulismo tenham sido afetados. Pelo contrário. Vários jornais e analistas políticos se esquecem que Lula entrou de sola quando houve algum abalo real na coalizão (em maio). Lula assumiu o comando da campanha de 2012 e chegou a tratar diretamente do futuro do ministro Fernando Haddad. Haveria maior sinalização que Dilma não comanda politicamente? Não há outra sinalização clara além do comando gerencial. E ponto. O resto é sonho ou explicação barroca para dar esperança de vida ao desejo pessoal do analista.
Texto, como sempre lúcido, do professor e cientista político Rudá Ricci, no seu Blog De esquerda em esquerda.
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