quarta-feira, 16 de junho de 2010

Nem por R$ 24 mil médico quer trabalhar no Vale

No Jequitinhonha, médico tem salário de até R$ 24 mil
Nem altos salários atraem médicos para a região

Jacinto procura profissionais especializados há meses
A falta de médicos no interior de Minas está obrigando os prefeitos a oferecer salários nos mesmos patamares dos que são pagos a executivos de grandes empresas. Em Jacinto, a 781 quilômetros de Belo Horizonte, no Vale do Jequitinhonha, a prefeitura paga R$ 23.800 mensais para um anestesista trabalhar no Hospital Bom Pastor, o único da cidade, que atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O salário de anestesista oferecido em Jacinto é quase três vezes maior do que o pago ao prefeito Carlos Dantez Ferraz (PMDB). Mesmo assim, a vaga está em aberto há dois meses. “Os médicos preferem ganhar cerca de R$ 3 mil nas grandes cidades em vez de virem para Jacinto, onde o menor salário da categoria é de R$ 12 mil. As pessoas não querem trabalhar em locais pobres, longe das grandes cidades”, reclama Ferraz.

O salário de anestesista em Jacinto é o maior pago a um profissional em Minas, conforme consta no site Catho, um dos maiores do Brasil em recrutamento. Na mesma cidade, há uma vaga de ortopedista, aberta há dois meses, com salário de R$ 19 mil. A dificuldade para encontrar alguém é a mesma.

Com a falta de médico, a prefeitura é obrigada a comprar ônibus, vans e ambulâncias para levar os pacientes a outras cidades onde há infraestrutura. Segundo o prefeito, são seis veículos e um ônibus que sempre estão levando pacientes para Teófilo Otoni e Belo Horizonte. Mesmo com uma frota grande, Ferraz lembra que muita gente fica na fila.

“Só conseguimos pagar salários altos porque seis prefeituras criaram um consórcio intermunicipal. Cada município contribui com uma parte, além de um complemento que é pago pelo Hospital Bom Pastor”, explica o prefeito de Jacinto.

Em Berilo, um médico cirurgião foi recentemente contratado por R$ 24 mil. Segundo a Secretário de Saúde, Fábio Eleutério, o valor ofertado em janeiro era de R$ 18 mil. Porém, não se encontrava profissionais dispostos a vir para a pequena cidade do Médio Jequitinhonha. Embora acredite ser um custo muito alto, há uma necessidade premente para atender a casos de urgência e cirurgias eletivas. O Secretário acredita que compensa pois a produção de procedimentos cirúrgicos cobre os valores pagos exigidos pelo profissional contratado.

Em Chapada do Norte, a 550 quilômetros de Belo Horizonte, e 260 de Diamantina, também no Médio Jequitinhonha, são três vagas para médico em aberto no Programa Saúde da Família (PSF), com salários de R$ 11.800. Com o menor Índice de Desenvolvimento Humanos (IDH) do Estado, as vagas no município não são preenchidas desde fevereiro.
Médicos capitalistas: moram na capital ou no interior com muito capital
A maioria dos médicos brasileiros mora nas capitais, mesmo ganhando salários médios de R$ 2.500. Quando são chamados a trabalharem no interior exigem cofres de dinheiro em atitude mercenária que poucos profissionais ousam propor. Jogam no lixo o juramento de Hipócrates, pronunciado com reverência no ato de sua formatura.


Mas há excessões, profissionais médicos sérios e comprometidos conhecidos pelas comunidades pobres do Vale do Jequitinhonha e Mucuri. Estes se encontram atuando principalmente nos PSF, praticando a medicina comunitária.


Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), não há escassez de médicos no Brasil, e sim uma má distribuição dos profissionais pelo território nacional. Entre 2000 e 2009, a quantidade de médicos aumentou 27%, de 260.216 para 330.825.

No mesmo intervalo de tempo, a população brasileira cresceu aproximadamente 12%, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2000, havia no país um médico para cada grupo de 658 habitantes. Em 2009, a situação passou a ser de um médico para 578 habitantes.

Em Minas, são 34.324 médicos, uma média de um para 587 pessoas. Em Belo Horizonte, essa proporção é de um profissional para 172 habitantes. Segundo o CFM, na capital são 14.195 médicos, 41% do total no estado. Nos Estados Unidos, para cada médico são 411 pessoas e, em Cuba, referência na medicina, para cada profissional são 166 pacientes.

No Vale do Jequitinhonha, os municípios com população entre 10 e 15 mil habitantes têm 4 ou 5 médicos atuando, com uma média de um médico para cada 2.500 habitantes. Esta situação se deve a um repasse do Ministério da Saúde e da Secretaria Estadual da Saúde que cobrem parcialmente despesas do PSF - Programa de saúde de Família.

Fonte: Com informações do Portal Hoje em Dia

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