Catando Vassouras
Pe. Nery Charlon Ribeiro Chaves
Estando assentado, outro dia, perto a um terreno baldio, fiquei observando enquanto uma senhora de mais ou menos quarenta anos de idade, se embrenhava no meio do mato para catar pequenos talos que ia ajuntando no braço. Num estalo, lembrei-me da infância quando ficava observando as mulheres catando vassouras (era como a gente chamava) no meio da capoeira para varrer forno, quintal, calçada e etc. Fato é que, as vassouras formadas com os pequenos talos arrancados no meio do mato tinham muito aplicação, mas, o que me chamava a atenção não era a serventia, mas, a forma como as vassouras eram feitas.
Aparentemente o mato não pode oferecer nada de bom, é apenas um espaço tomado pelo acúmulo de ervas e pequenos arbustos nascidos ao léo. O que mais me encanta é que, a aparente inutilidade e feiúra não desvirtua o olhar da mulher que enxerga onde outros não puderam ver.
Ali, na suposta sujeira do matagal, ela vai entrando e colhendo, cuidadosamente, os talos necessários para compor o seu objeto de desejo: a vassoura. Parece que o olhar dessa mulher guarda um estranho encanto que a faz ver riquezas onde muitos não encontram nada.
Esse olhar se parece muito com o olhar de Jesus que, enxergando vida e dignidade onde havia desprezo e exclusão, foi colhendo parte por parte destes elementos deixados , formando um ramalhete de oferta ao Pai em forma de resgate e redenção.
Senti um profundo desejo de olhar assim para as coisas da minha vida e também para as pessoas e mundo. Em lugar de encontrar apenas perdição e desilusão; no simples, no escondido, encontrar formosura e encanto.
Eu quero catar vassouras, eu quero enxergar além ...
Um comentário:
talvez não uma vassoura, mas um buquê ressequido para provar que mesmo no sofrimento o Vale do Jequitinhonha ainda conserva sua beleza mais intrínseca.
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