III - Qual a saída para os trabalhadores migrantes do Jequitinhonha?
"A curto prazo, a válvula de escape será definitivamente fechada. Os migrantes sazonais do Médio Jequitinhonha não terão mais como obter renda no interior paulista.
Quais serão as conseqüências sobre a economia e o tecido social dos municípios dessa região?
Será preciso encontrar meios de ocupar e de gerar renda para milhares de homens, jovens e adultos, em Araçuaí, Minas Novas, Berilo, Francisco Badaró, Chapada do Norte, Novo Cruzeiro, etc. Do contrário, as pequenas cidades e os arraiais do Médio Jequitinhonha poderão viver o caos econômico-social.Parece que nem as autoridades locais e nem o governo mineiro se deram conta do tamanho e da urgência da encrenca que têm nas mãos. E é absolutamente equivocado pensar que, num passe de mágica, o estímulo ao turismo e ao rico artesanato regional será suficiente para gerar tantos postos de trabalho.
Muito menos a agricultura camponesa, na situação em que se encontra hoje – atrelada umbilicalmente aos diminutos mercados locais e com pauta fortemente culturalizada de produtos – poderá absorver toda essa gente que será liberada pelos canaviais paulistas.
Questão política
A gravidade do cenário fica ainda maior quando se levam em conta variáveis políticas, tais como:
a) falta de quadros técnicos capacitados nas prefeituras para desenhar, implantar e avaliar políticas públicas;
b) tradição regional de lutas intermunicipais por recursos estaduais e federais, de modo que a ação consorciada dos municípios é absolutamente incipiente;
c) e a permanência do mandonismo, do clientelismo e da corrupção como traços endêmicos da política na região.
Os paulistas colocaram o desafio. Pode até ser razoável pensar que eles também deverão cooperar para encontrar as soluções. Afinal, os humildes braços jequitinhonhenses contribuíram bastante para a riqueza do setor sucroalcooleiro paulista.
Porém, o Jequitinhonha mineiro tem que se mobilizar, discutir o quadro atual e os possíveis cenários decorrentes do acordo paulista, e começar a trabalhar para pôr o Vale do Jequitinhonha no rumo do desenvolvimento.
Será necessária muita criatividade.
Será necessária muita criatividade.
Será preciso pensar em termos de planejamento territorial.
E será preciso fazer investimentos expressivos no Vale.
Porque as populações locais não conseguirão viver somente de música “folclórica”, de tecer rendas de algodão, de cozer cerâmicas de barro, de fabricar cachaça de alambique e queijo de cabacinha, vendendo esses produtos na beira das estradas que cortam a região."
Texto de Marcos Lobato Martins
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