Psicologia tem uma palavra para
descrever Jair Bolsonaro: sociopata
Crise do coronavírus deixa bem caracterizada a hipótese diagnóstica
de que o presidente tem transtorno de personalidade antissocial
Quer entender Jair Bolsonaro diante do coronavírus? Achille
Mbembe, filósofo camaronês de 62 anos, é um bom guia.
Um governante, diz ele, tem o poder de “definir quem importa
e quem não importa, quem é ‘descartável’ e quem não é”, “quem
pode viver e quem deve morrer”. Mbembe chama esse poder de “necropolítica”.
Ao defender em cadeia nacional de rádio e tevê que o País funcione
numa boa apesar da pandemia, o presidente manda ao corredor
da morte idosos e pessoas com doenças preexistentes, grupos mais
vulneráveis ao vírus, e os pobres que moram amontoados em
favelas e podem contagiar mais facilmente parentes e vizinhos.
Necropolítica contra 20 milhões de pessoas acima de 65 anos e
13 milhões de moradores de favelas.
Na saída do Palácio do Alvorada no dia seguinte ao pronunciamento,
Bolsonaro deu elementos para corroborar uma outra hipótese
diagnóstica, esta de autoria de um profissional que já viveu o dia
a dia do Conselho Federal de Psicologia. O presidente seria um
“sociopata”, segundo esse analista, cujo nome será preservado.
“Você quer que eu faça o quê? Que eu tenha o poder de pegar
cada idoso lá e levar: ‘fica aí, tem uma pessoa para te tratar’?
É a família que tem de cuidar dele em primeiro lugar, rapaz.
O povo tem que deixar de deixar tudo nas costas do poder
público”, disse Bolsonaro, ao responder sobre o perigo que o
fim da quarentena representaria a idosos enquanto o coronavírus
estiver à solta. “Se não tiver ninguém, aí tem um asilo, tem o
Estado, seja quem for.”
O ex-capitão, comenta o psicólogo, expressa insensibilidade
em relação a outras pessoas, busca sempre o conflito, é extremamente
egocêntrico e nunca demonstra sentir culpa, arrependimento ou
remorso. Sintomas de Transtorno de Personalidade Antissocial,
ou sociopatia, alguns bem caracterizados na entrevista na porta
do Alvorada em 25 de março.
“Boa parte das suas justificativas quando questionado apresenta
uma alta insensibilidade em relação ao outro, uma quase total
ausência de preocupação pelos sentimentos ou problemas dos
outros, como faz sempre em relação às questões de gênero,
orientação sexual, condição econômica e também como fez ontem
no caso da gravidade do coronavírus para os idosos”, diz nosso
analista.
Ele traça sua hipótese diagnóstica com base no comportamento
público do presidente e em contatos pessoais tidos no passado
com o então deputado Jair Bolsonaro. E explica: sua análise tem
como fonte técnica o Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (DSM-V), da Associação Americana
Psiquiátrica, largamente utilizado no mundo pela psiquiatria
e a psicologia clínica.
O presidente “age sem demonstrar culpa e/ou remorso quanto
aos efeitos negativos ou prejudiciais deste seu comportamento
sobre as outras pessoas, posto que ele agride e aparentemente
gosta dos resultados (a psicanálise lacaniana chamaria de gozo),
demonstrando toda a sua agressividade e sadismo”, observa o
analista.
Desde o início do coronavírus, Bolsonaro encara o a pandemia
como “histeria” e “gripezinha”. Até 27 de março, ao menos
77 brasileiros tinham morrido e mais de 3 mil estavam infectados.
Até ali, o ex-capitão tinha sido incapaz de mostrar-se solidário
com as vítimas. “A população está assustada, e o presidente não
diz uma palavra para tranquilizá-la”, afirmou a líder do PCdoB
na Câmara, Perpétua Almeida (AC)..
De falar bem de si no meio da crise, foi capaz, em uma entrevista
coletiva em 18 de março. “Nosso time está ganhado de goleada.
Duvido que quem vier me suceder um dia (acho muito difícil)
consiga montar um equipe como eu montei. E tive a coragem de
não aceitar pressões de quem quer que seja. Então, se o time está
ganhando, vamos fazer justiça, vamos elogiar seu técnico, e o
seu técnico chama-se Jair Bolsonaro.”
“O presidente apresenta uma característica bem forte de
egocentrismo, buscando a todo momento passar a imagem
e a crença de ser melhor do que as outras pessoas, justificando
a todo instante ter este direito por ser grandioso, por merecer
ser admirado, e dessa forma busca incessantemente atrair e
tornar-se o centro das atenções. Note: não é um projeto, é ele”,
explica o psicólogo.
Ele prossegue: Bolsonaro “faz uso, e neste caso se é consciente ou
não fica difícil de saber, pois não temos acesso direto a ele,
frequente de subterfúgios para influenciar ou controlar os
outros, e sempre busca as insinuações para atingir seus fins.
Também não apresenta, pelo menos de modo aparente,
arrependimento por agir com base em representações
deturpadas de si mesmo, como por exemplo fazer o papel de
alguém que pratica esporte, que valoriza ser atleta fazendo
flexões de braço que estão longe de ser uma forma correta de
se fazer, inventando relatos de acontecimentos e fatos se estes
venham lhe trazer algum benefício”.
No pronunciamento à nação em 24 de março sobre o coronavírus,
o presidente tinha dito: “No meu caso particular, pelo meu
histórico de atleta, caso fosse contaminado com o vírus, não
precisaria me preocupar. Nada sentiria ou seria, quando muito,
acometido de uma gripezinha”.
O tipo de transtorno de personalidade antissocial do ex-capitão,
ressalta nosso psicólogo, “não pode ser tratado como loucura,
como um distanciamento da realidade, como aqueles que vivem
em um mundo à parte. Não é este o caso dele”. Bolsonaro,
conclui ele, pertence “ao grupo das perversões”.