segunda-feira, 29 de julho de 2019

Por que boa parte da esquerda tem tanta raiva do futebol?



O dinheiro é a maior forma de poder para se controlar a sociedade, é através do capital que os grandes empresários conseguem impor suas vontades, pois quem tem a nota controla os políticos, juízes, mídia e a polícia. O setor ( que é a grande minoria da população) que tem o poder através do capital se apropria e adapta as produções da humanidade como a arte, o esporte e a ciência para se gerar lucro. 

Não existe nada mais popular no Brasil que o futebol. Nada conseguiu extrapolar tanto do seu contexto inicial do que o esporte que Charles Miller trouxe da Inglaterra. O brasileiro, através de sua forma de enxergar o mundo,  adaptou o jogo para deixar mais gostoso de se praticar e atraente para assistir. Com o tempo o futebol se tornou um importante traço na cultura do povo brasileiro, influenciando em diversos âmbitos para além do esporte como na mídia, comportamento e economia. Alguém duvidaria que algo de tamanha influência social seria tomado a força pelos empresários? Nesse conluio entre os donos das megas empresas e políticos não é apenas o faturamento que esta em jogo, mas o controle da população. Então os governos também viram no futebol uma ferramenta a ser possuída para manter seu projeto de poder.

Talvez, o primeiro boicote que o futebol recebeu dos movimentos que atuam na transformação social visando uma sociedade sem explorações e opressões tenha sido nos tempos da Ditadura Militar. Época que era bem nítida que os ditadores utilizavam do futebol para promover seus governos e fortalecer seu regime.

”Onde a Arena vai mal, mais um time no nacional”. Bordão que ficou famoso pois a Arena, partido dos militares, sempre oferecia como moeda de troca por votos em regiões estratégicas a participação de um novo time no campeonato nacional, chegando ao absurdo de termos 94 equipes no campeonato brasileiro de 1979. 
Soma-se a isso ao fato do General Médici ter usado a brilhante seleção de 70, que conquistou o tricampeonato mundial, como propaganda do regime militar (mais informações sobre como a ditadura apropriou-se do futebol pode se encontrar nessa matéria do site trivela: trivela.uol.com.br/tema-da-semana-como-ditadura-militar-se-apropriou-futebol-brasileiro/).  
Pronto, era o suficiente para que grande parte da esquerda fizesse uma análise rasa, simplista e elegesse o futebol como vilão da revolução.
Esqueceram que o futebol tem na sua essência a origem popular. Muitos clubes no Brasil e no mundo surgiram de associações de bairros, de sindicatos de trabalhadores, estudantes, imigrantes. Graças a esse caráter popular o futebol se transformou num evento que colocava centenas de milhares de pessoas nos estádios de norte ao sul do país, em todos os finais de semana, durante todo o ano. Isso se contarmos apenas os jogos dos times da série A, se relevarmos os outros milhões que acompanham pelo rádio ou tv e também aqueles que não puderam fazer nenhum nem outro mas a primeira coisa que faz quando chega em casa é perguntar quanto que ficou o jogo do seu time.

Esqueceram que na época da ditadura militar surgiu a Democracia Corinthiana.
Não fizeram a menor questão de ver a força feminista nos Comandos Femininos das Torcidas Organizadas, que não falavam de pautas da esquerda tradicional como aborto e dupla jornada de trabalho, mas através de grupos de autoproteção femininos se sentiram seguras pra pautar: ” vou ao estádio sem homem me acompanhar, com a roupa que quiser e nenhum homem vai me incomodar”.
Esqueceram que mesmo com o boicote surgiram torcidas de esquerda nos anos 80, lembro que sempre que ia ao Mineirão tinham as faixas: Crumunistas e PUC- Povão Unido Cruzeirense.

Não acompanharam que a resistência no futebol é algo internacional, como a luta dos torcedores ingleses contra as políticas elitistas de Margaret Thatcher, a ponto da torcida do Liverpool comemorar a morte da ex primeira ministra inglesa: “Você não se importou quando mentiu. Nós não nos importamos com sua morte”.
Não devem conhecer o St Pauli da Alemanha, clube de um bairro de Hamburgo que alterna entre a série A e B do campeonato alemão que no seu estatuto tem os princípios antinazista, antirracista anti homofobia e inclusive já teve um presidente travesti.

torcida st pauli
Torcida do St Pauli

Nem sonham que os Bukaneros, torcida do Rayo Valecano da Espanha, criada em 1992, influenciou o clube com sua postura antifascista, respeito ao torcedor adversário e contra o futebol de negócio.
Nem num passado mais recente acompanhou que clubes e torcedores do Egito se uniram na primavera árabe ou leu as notas das torcidas organizadas de São Paulo, em especial a Gaviões da Fiel, apoiando a luta nas jornadas de junho de 2013. Talvez nem ligou que a mesma Gaviões protagonizou a luta contra o desvio da merenda enquanto a maioria da esquerda tava mais preocupada em não perder o poder.

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Protesto da Gaviões pela CPI da Merenda

Taparam os olhos quando mesmo com uma onda xenofóbica na Europa, grande parte das torcidas levantaram faixas desejando boas vindas aos refugiados. O próprio Atlético-MG fez uma campanha a favor de acolher os refugiados sírios (empregando alguns no clube) e a Resistência Azul Popular - RAP com ajuda do Cruzeiro, que reservou os ingressos, fez uma campanha para a torcida fazer uma vaquinha e levar 50 haitianos no jogo do Cruzeiro.
Não viu que nesse ano o conselho das torcidas organizadas do Cruzeiro boicotaram a ida num clássico, pois o ingresso mais barato era 120 reais e lançou o manifesto "Boicote ao clássico da burguesia". E organizaram de ver na pirataria em frente a sede do Cruzeiro com direito a festa e ambulantes que as novas arenas proíbem

classico da burguesia
Manifesto do Conselho das Torcidas Organizadas do Cruzeiro contra o preço abusivo do ingresso no clássico realizado no Independência

Não é raro também notar em posts de facebook militantes de esquerda contribuindo com a criminalização das torcidas organizadas, não entendendo que o mesmo procedimento foi feito na Inglaterra para elitizar o futebol e também minar uma das forças mais destemidas perante o poder público e da polícia e que cada vez mais se politiza e entende o seu papel transformador na sociedade. 
Torcida organizada é um dos raríssimos momentos em que o pobre se organiza entre seus pares, sem o freio de uma esquerda legalista, uma galera que já apanha da polícia diariamente e que não vai temer caso a mesma partir pra violência em dias de jogos. Isso é muito perigoso para os que querem manter as coisas do jeito que estão.
Não percebem que depois de toda a movimentação da esquerda durante a Copa do Mundo no Brasil, criticando e protestando nas ruas sob o legado maléfico da Copa, que os torcedores mais pobres são os que estão sendo mais atingidos por essa herança da FIFA.
A pergunta recorrente que me fazem é: ” Mas você acha que o estádio é um local seguro, sadio?”. Reconheço que os estádios ainda não são seguros. São machistas, homofóbicos e até mesmo racistas ( pois existe gente falando que no futebol brasileiro não tem racismo). Mas eu devolvo a pergunta: em que país você vive? Estamos num país de maior taxa de homicídios do mundo, que mais mata homossexuais, de uma cultura machista estrutural e que finge que racismo é coisa de estrangeiro. 
Por que o futebol, a coisa mais popular do Brasil, a maior concentração do senso comum não refletiria isso tudo? 
Estão querendo que o futebol se torne uma bolha onde as coisas ruins não acontecem através da segregação, deixar o espaço apenas frequentado por pessoas que tiveram o acesso a informações, um local muito parecido que boa parte da esquerda se limita a frequentar. 
Não vejo o Mineirão (estádio que frequento) com contradições tão diferentes das ocupações urbanas ou até mesmo do carnaval e nem por isso questionamos se esses locais não devem ser de luta.
Mas enfim, a esquerda parece acordar. Entendeu que o futebol se tornou o que a direita quer: um espaço que se torne proibido falar de política, de se questionar, ” futebol e política não se mistura” (como se já não estivesse misturado há muito tempo por setores políticos reacionários). É muito parecido com que querem fazer com as escolas, e não é a toa que fazem de tudo pra colocar o futebol junto com a política ( e a religião também) para formar a trindade imaculada que não se pode debater. 

Mas o despertar da esquerda com o futebol veio no desespero  da necessidade de propagandear a perda de direitos que teremos com o governo Temer. O que eu vejo por enquanto é que boa parte da esquerda mais se aproveita da visibilidade do futebol do que realmente considerar as arquibancadas como um potencial revolucionário. Como efeito midiático tem o seu valor, mas como um processo de diálogo com a torcida não funciona. Assim como na periferia se chegar alguém do asfalto do nada, apenas pontualmente não existirá espaço para troca de ideias, também em (quase) nada acrescentará se eventualmente suspender faixas de protesto em estádio (a não ser se for iniciativa da própria torcida organizada, como é no caso da Gaviões). 

Os torcedores sabem muito bem quem “é da arquibancada” e  quem dá o devido valor de frequentá-la. Se tem algo que foi bom nas Jornadas de Junho de 2013" é que conseguimos dialogar com milhares de pessoas que não tínhamos contato. Boa parte nunca tinha escutado o que falamos, também aprendemos muito com certos vícios nossos que essas mesmas pessoas nos alertaram. O resultado disso foi que a rede de apoio aumentou e hoje somos mais fortes. 

Excluir o futebol como local de luta pode ser apenas um erro estratégico, mas muitas vezes também é fugir da realidade e preferir continuar na sua zona de conforto onde todas e todos falam, vestem, se comportam e concordam com você. 

Existe um preconceito que quem assiste futebol é um bando de idiotas alienados que só sabe gritar gol enquanto tudo de ruim acontece no país. Como se as pessoas tivessem que largar tudo que te dessem prazer ( exceto os eventos que a esquerda acha legal) até as coisas melhorarem. Assim, lá do alto, ficará fácil desprezar o futebol segurando o cetro do purismo. 
Não estou pedindo que geral colem nos estádios, sei que muitos simplesmente não se identificam, só peço que não avacalhem. Uma ressalva a parte é que se as minorias que sofrem dos preconceitos citados tão presentes nos estádio não se sintam a vontade de frequentar esses espaços e com isso despertar sentimentos negativos ao futebol é totalmente compreensível e não é meu local de fala para debater isso. Pontuações são construtivas, mas discursos pejorativos que beiram clichês conservadores só atrapalham. 

A revolução será com bumbos, bandeiras e sinalizadores !

haitianos
Refugiados haitianos comparecem ao Mineirão graças a vaquinha realizada pelos torcedores do Cruzeiro

Mapa do Vale do Jequitinhonha está desatualizado. O Território vai "...dos Vales ao Mar".

Em 1992, foram emancipados quatro municípios, e em 1995, vinte e quatro, totalizando 80 municípios. Com estas mudanças, o mapa anterior ficou desatualizado.
Para os movimentos sociais, o Vale do Jequitinhonha é um território só, é toda a sua bacia hidrográfica, em Minas e Bahia, juntos. 
Este post foi publicado aqui nesse Blog, originalmente, em 13 de fevereiro de 2013. 
Alterado e atualizado em 28.07.2019.



Mapa da Bacia do Rio Jequitinhonha, em Minas e na Bahia (IBGE, 1997).

Qual o verdadeiro mapa do Vale do Jequitinhonha? Antes da emancipação de 28 novos municípios, a região possuía 52 municípios espalhados por uma área de 71.552 km2, ocupando 14,5% do estado de Minas Gerais. Mas, o território de toda a bacia hidrográfica tem a parte baiana também, com  9 municípios.

Em 1992, foram emancipados  quatro municípios. Em 1995, vinte e quatro, totalizando 80 municípios. Com estas mudanças, o mapa anterior ficou desatualizado.

“Queremos a definição do nosso mapa, pois hoje o Vale tem 80 municípios. Só o governo de Minas tem três mapas diferentes em uso, fazendo a região variar de 53 a 74 municípios. Pode parecer uma questão menor,  mas não é. Um povo que não conhece sua terra, não pode contribuir com o seu desenvolvimento”, observa Tadeu Martins, escritor, folclorista e produtor cultural, natural de Itaobim (MG).

Em seu artigo “ A falta de um mapa”, publicado no livro Vale do Jequitinhonha, Cultura e Desenvolvimento, editado pela Universidade Federal de MG (UFMG), ele diz que essa indefinição é mais um descaso político com a região. “ Se o governo enxergasse o Vale com outros olhos, esta situação já teria sido resolvida. A solução desse problema deve ser cobrada também dos políticos locais e dos prefeitos. Sabendo quais são de fato os municípios da região, facilitaria uma melhor organização política entre as entidades da sociedade civil, prefeitos e vereadores para cobrar ações concretas dos governos”, acrescenta Tadeu Martins.

Divisão administrativa da Bacia do Rio Jequitinhonha ( IBGE, 1997).

Municípios do Vale do Jequitinhonha


01-Almenara


02-Angelândia ( criado em 1995)


03-Araçuaí


04-Arincaduva ( criado em 1995)


05-Bandeira


06-Berilo


07-Berizal ( criado em 1995)


08-Bocaiúva


09 -Botumirim


10-Cachoeira de Pajeú


11-Capelinha


 12-Caraí


13-Carbonita


14-Chapada do Norte


15-Comercinho


16-Coronel Murta


17-Couto Magalhães de Minas


18-Cristália


19-Datas


20-Diamantina


21-Divisópolis (criado em 1992)


22-Felício dos Santos


23-Felisburgo


24-Francisco Badaró


25-Franciscópolis (criado em 1995)


26-Fruta de Leite ( criado em 1995)


27-Grão Mogol


28-Guaraciama (criado em 1995)


29-Indaiabira ( criado em 1995)


30-Itacambira


31-Itamarandiba


32-Itaobim


33-Itinga


34-Jacinto


35-Jenipapo de Minas (criado em 1995)


36-Jequitinhonha


37-Joaíma


38-Jordânia


39-José Gonçalves de Minas ( criado em 1995)


40-Josenópolis ( criado em 1995)


41-Leme do Prado


42-Malachacheta


43-Mata Verde ( criado em 1992)


44- Medina


45-Minas Novas


46-Monte Formoso ( criado em 1995)


47-Montezuma ( criado em 1992)


48-Nova Porteirinha


49-Novo Cruzeiro


50-Novorizonte ( criado em 1995)


51-Olhos D’Água ( criado em 1995)


52-Padre Carvalho ( criado em 1995)


53-Padre Paraíso


54-Pai Pedro ( criado em 1995)


55-Palmópolis ( criado em 1992)


56-Pedra Azul


57-Ponto dos Volantes ( criado em 1995)


58-Porteirinha


59-Riacho dos Machados


60-Rio do Prado


61-Rio Pardo de Minas


62-Rio Vermelho


63-Rubelita


64-Rubim


65-Salinas


66-Salto da Divisa


67-Santa Cruz de Salinas ( criado em 1992)


68-Santa Maria do Salto


69-Santo Antonio do Jacinto


70-Santo Antonio do Retiro ( criado em 1992)


71-São Gonçalo do Rio Preto


72-Senador Modestino Gonçalves


73-Serranópolis de Minas


74-Serro


75-Setubinha ( criado em 1992)


76-Taiobeiras


77-Turmalina


78-Vargem Grande do Rio Pardo ( criado em 1995)


79-Veredinha ( criado em 1992)


80-Virgem da Lapa.


Mapa da Bacia Hidrográfica do Jequitinhonha, em 1900 ( IBGE, 1997).


O Território do Vale do Jequitinhonha tem os

limites da sua Bacia Hidrográfica. 

A identidade cultural é sua principal marca.

O Estado pode dividir o Vale em regiões de planejamento, mas o sentimento de pertencimento marca o território "dos vales ao mar".


Localização da Bacia do Jequitinhonha, no Brasil (IBGE, 1997).

Os municípios citados fazem parte total ou parcialmente da Bacia Hidrográfica do Rio Jequitinhonha, em Minas e na Bahia.

Em 1900, a Bacia do Jequitinhonha possuía apenas 8 municípios: Araçuaí, Belmonte - BA, Bocaiúva, Diamantina, Grão Mogol, Minas Novas, Rio Pardo de Minas e Teófilo  Otoni.

O estado de Minas Gerais, entre 1989 e 2017, foi dividido geograficamente em 66 microrregiões.

Mapa de Minas Gerais, dividido em 13 regiões geográficas intermediárias e regiões geográficas imediatas ( IBGE, 2017).
Em 2017, o IBGE extinguiu as microrregiões e mesorregiões, criando um novo quadro regional brasileiro, com novas divisões geográficas denominadas, respectivamente, regiões geográficas imediatas e regiões geográficas intermediárias.

Mapa da Região Intermediária de Teófilo Otoni com as Regiões Imediatas de Almenara, Araçuaí, Capelinha, Diamantina, Pedra Azul e Teófilo Otoni, na região da Bacia do Jequitinhonha (IBGE, 2017).

O Vale do Jequitinhonha mineiro ficou dividido em duas Regiões Geográficas Intermediárias: Montes Claros que abrangeu quase todos os municípios da margem esquerda; e Teófilo Otoni que abrangeu os atuais Alto, Médio e Baixo Jequitinhonha.
As Regiões Geográficas Imediatas que ficaram na Bacia do Jequitinhonha são: Almenara, Araçuaí, Capelinha, Diamantina, Grão Mogol, Pedra Azul, Salinas, Teófilo Otoni e parte de Janaúba.
Mapa da Região Geográfica Intermediária de Montes Claros com as Geográficas  Imediatas de Grão Mogol, Montes Claros, Janaúba e Salinas (IBGE, 2017).

Na Bahia, os municípios do Jequitinhonha baiano ficaram na Região Geográfica Intermediária de Ilhéus-Itabuna e nas Regiões Geográficas Imediatas de Eunápolis-Porto Seguro  e Camacan.
Mapa da Região Geográfica Intermediária de Ilhéus-Itabuna com as Geográficas  Imediatas de Eunápolis-Porto Seguro e Camacam (IBGE, 2017).

Entre 1987 e 1990, o Governo do Estado na era Newton Cardoso, dividiu Minas  Gerais em regiões de acordo com os territórios das Associações de Municípios. Assim, o Vale do Jequitinhonha ficou dividido em Alto, Médio e Baixo Jequitinhonha, ignorando os municípios da margem esquerda que ficaram na Mesorregião do Norte de Minas.

No  Diagnóstico Ambiental da Bacia Hidrográfica do Jequitinhonha, em 1997, o IBGE considerou como Alto Jequitinhonha uma divisória a partir de Rio Pardo de Minas, Riacho dos Machados, Grão Mogol,  Berilo, Chapada do Norte e Jenipapo de Minas pra cima. 
O Médio Jequitinhonha seria todo o restante da região mineira, a partir de Novo Cruzeiro, Araçuaí, Virgem da Lapa, Coronel Murta, Rubelita, Salinas e Taiobeiras.
O Baixo Jequitinhonha seria todos os 9 municípios baianos, além de Salto da Divisa.
Portanto, o governo Newton Cardoso não se importou com os critérios técnicos do IBGE.  

Em 2015, o governo de Minas criou 17 Territórios de Desenvolvimento, dividindo o Vale do Jequitinhonha em Território do Alto Jequitinhonha e Território do Médio/Baixo Jequitinhonha. Não fez nenhuma referência aos municípios da margem esquerda do Rio que estão localizados no norte de Minas, nas microrregiões de Grão Mogol e Salinas/Taiobeiras/Rio Pardo de Minas.

É difícil estabelecer limites. No Diagnóstico Ambiental do IBGE, a Bacia do Rio Jequitinhonha mineiro e baiano ficou com 67 municípios, não computando os 24 municípios mineiros que se emanciparam em 1996.

Os dados de 1997, segundo o IBGE, apontam que a Bacia Hidrográfica do Rio Jequitinhonha estendia-se por quatro mesorregiões mineiras (Jequitinhonha/Mucuri, Metropolitana de Belo Horizonte e Norte de Minas), abrangendo as microrregiões de Almenara, Araçuaí, Capelinha, Diamantina, Pedra Azul, Conceição de Mato Dentro, Bocaiúva, Grão Mogol, Janaúba, Salinas e Teófilo Otoni.



Região de influência das Capitais Regionais fora do perímetro da Bacia do Jequitinhonha ( IBGE, 1997).
 
Na Bahia, a área pertinente à Bacia compreende setores das mesorregiões do Centro-Sul Baiano e Sul Baiano, que englobam as microrregiões de Itapetinga, Ilhéus-Itabuna e Porto Seguro. Portanto, o Vale do Jequitinhonha baiano tem, no mínimo, 9 municípios: Belmonte, Canavieiras, Eunápolis, Itagimirim, Itarantim, Itapebi, Malquinique, Mascote e Santa Cruz de Cabrália. 

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Dentre os municípios relacionados acima existem aqueles que possuem área integralmente incluída na Bacia do rio Jequitinhonha e municípios que possuem parcela de sua área externa ao perímetro considerado. Assim, por exemplo, os municípios de Porteirinha, Rio Pardo de Minas, Rio Vermelho, em Minas; e Eunápolis, Macarani, Mascote e Santa Cruz Cabrália, no sul da Bahia,  constam como integrantes da Bacia apesar da pouca representatividade do espaço físico incluído na área da Bacia Hidrográfica.

Segundo o IBGE, há vários municípios integrados à Bacia do Jequitinhonha com partes fora da área do perímetro como: Bocaiúva, Datas, Caraí, Diamantina, Felisburgo, Malacacheta, Porteirinha, Riacho dos Machados, Rio do Prado, Rio Pardo de Minas, Rio Vermelho, Salinas, Santo Antônio do Jacinto, Serro e Taiobeiras. 

Portanto, se mencionarmos todos os municípios da Bacia Hidrográfica do Rio Jequitinhonha, considerando os territórios parciais e integrais, o número de municípios ainda é maior.


Nós, do Vale do Jequitinhonha, que temos identidade territorial, acreditamos que os limites do nosso Vale são a Bacia Hidrográfica. O Estado age de forma autoritária com visões de planejamento governamental conservadora, com técnicos elaborando diagnósticos totalmente distorcidos da realidade do povo do Vale. Não conhecem ou conhecem muito pouco da vida do nosso povo. Por isso, as políticas de desenvolvimento regional propostas, em toda a história, foram totalmente equivocadas. 

Mas, para quem quiser entender melhor o território e a luta do povo do Vale do Jequitinhonha pela sua identidade cultural, pelo (des) envolvimento regional, territorial, integrado e real, que questiona as várias divisões autoritárias de planejamento estatal, leia o livro do Mateus de Morais Sevilha, professor da UFMG, ex-professor da UFVJM - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, mas, sobretudo, poeta, escritor e violeiro, conhecedor por vivência e estudos científicos sobre o Vale do Jequitinhonha.


O livro é uma contribuição importante para um campo relativamente negligenciado nos últimos tempos dentro da disciplina geográfica: a Geografia Regional e a consequente discussão conceitual sobre a região. 
Ele é resultado da pesquisa e tese de doutorado em Geografia Regional, na Universidade Federal Fluminense, em 2012, defendida pelo professor Mateus Sevilha. 

Muito mais do que uma discussão acadêmica, entretanto, e por fidelidade à  íntima ligação do autor com a literatura (e, mais especificamente, a poesia), trata-se de um trabalho que nos projeta para o interior de uma problemática intensamente vivida: a produção e representação da “região” do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais.

A abordagem se dá através da ação e das falas dos diversos grupos e classes – “sujeitos”, enfim – que de fato constroem o espaço em sua complexa inserção do território brasileiro e de circuitos globais que, com maior ou menor intensidade, o perpassam.
www.expressaopopular.com.br/quem-precisa-de-regiao-o-espaco-dividido-em-disputa/

Esse livro encontra-se disponível, para vendas online, no seguinte endereço: www.estantevirtual.com.br

Fonte: Instituto de Geociências Aplicadas - MG (IGA), IGAM - Instituto Mineiro de Gestão das Águas, IBGE, Fundação João Pinheiro.