quinta-feira, 18 de abril de 2019

Municípios da Comarca de Turmalina se unem pelo fim da violência contra a mulher

Ações integradas na cidade são importante contrapartida para a violência de gênero. 

Por Polo Jequitinhonha em 
Diferentes instâncias da sociedade atuam em ação conjunta no município
A Comarca de Turmalina, no Alto Jequitinhonha, nordeste de Minas, tem se mobilizado de maneira articulada pelo fim da violência contra a mulher. A Comarca é formada pelos municípios de Turmalina, José Gonçalves de Minas, Leme do Prado e Veredinha. 
No ano passado, um dos passos iniciais foi a criação da Rede de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher – que visava prevenir atos de abuso. Desde então, novas políticas públicas entraram em vigor na região: entre elas, a Lei Municipal 1.986, que estabelece um protocolo de atenção às mulheres em situação de violência. Cinco meses depois, o município vizinho de Veredinha também adotou o protocolo, adequando-o à sua realidade.
Inicialmente, o foco da rede estava na mudança de comportamento da população; e agora, para atingir maiores resultados, várias instituições, como o Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS), o Centro de Atenção Psicossocial e o Coletivo Feminista Flor de Março, unem forças para combater o problema. Segundo Cleiton Chiodi, juiz da comarca de Turmalina, a rede visa, entre outras possibilidades, difundir ações educativas voltadas para a conscientização das pessoas e a prevenção da violência contra a mulher.
Segundo a Promotora de Justiça de Turmalina, Shirley Machado, é muito importante envolver diferentes grupos da região para atingir novas metas. Ela explica que os Alcoólicos Anônimos (AAs), assim como as escolas, funcionam como uma porta de entrada para a detecção da violência doméstica e familiar. “A participação desses novos atores na rede é indispensável para realizar ações de conscientização e desenvolver uma nova cultura”, conclui.

Ação. Jovens e crianças se organizam em passeata. Foto: Assessoria de Comunicação/TJ-MG.
Para tratar a autoestima das vítimas, o CREAS criou o grupo “Interagir faz bem”, que atende principalmente mulheres vítimas de violência doméstica. “Elas entenderam como é importante viver em um ambiente livre de qualquer espécie de violência”, ressalta a promotora.
As medidas propostas pela rede também visam atingir o núcleo familiar, já que essa espécie de violência afeta outras pessoas, principalmente filhos menores que residem com agressor e vítima, explica Cleiton Chiodi. A partir dessa demanda, a rede realizou a capacitação dos ciclos de paz, em parceria com o Tribunal de Justiça de Minas, e com apoio da Escola Judicial Desembargador Edésio Fernandes (EJEF), por meio de oficinas ministradas por servidores do órgão. 
Para Shirley Machado, a rede mostrou que não existe uma resposta pronta para os problemas. Ela reforça que, nas trocas de experiências, todos enriquecem. “Quando estamos com pessoas com formação diferente, com perspectivas diferentes, encaramos as questões de forma holística [de maneira integral]”, afirma.
Violência contra a mulher no estado e no país
A violência doméstica contra a mulher conforma um grave problema de saúde pública. Em um ranking com 84 nações ordenadas pelas taxas de feminicídios, o Brasil ocupa o sétimo lugar. 
A pesquisa revela que Minas só perde para o Espírito Santo, estado com maior número de casos de feminicídios no Brasil. 
Outros dados importantes mostrados são os que configuram o perfil das mulheres assassinadas por sua condição de gênero no estado: negra (60%); baixa escolaridade (48%); idade entre 20 a 39 anos (54%). Em mais de 50% dos casos, quem é responsável pelo feminicídio é o companheiro e, em mais de 20%, os ex-companheiros.
De acordo com dados das Regiões Integradas de Segurança Pública do Estado, entre os anos de 2013 e 2016, os municípios que integram as regiões dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri apresentaram um número expressivo de mulheres vítimas de violência, ficando acima da média estadual, que é de 6 casos de feminicídios a cada 100 mil habitantes.
Os diversos tipos de violência (física, psicológica, patrimonial, sexual, dentre outros) prevalecem em todo o Estado, mas a maioria dos casos registrados no Jequitinhonha e Mucuri foi de violência física, seguida de psicológica. 
Outro dado importante de ser ressaltado é que essas regiões de Minas apresentam uma população feminina significativa e, ainda, as maiores taxas de pobreza e analfabetismo do Estado
Se você está passando ou conhece alguém em situação de violência, denuncie:
– Ligue 180 (serviço telefônico gratuito disponível 24 horas por dia em todo o país);
– Ligue 190, em caso de emergência.

Fonte: UFMG/Polo do Jequitinhonha

terça-feira, 16 de abril de 2019

Quem tem medo de Paulo Freire?


Bolsonaro e Olavo de Carvalho tentam bani-lo com gritos e xingarias. Que tolos: quanto mais berram, mais dão razão ao educador que dizia: “a classe dominante brasileira jamais desejará que as maiorias sejam lúcidas”.

OUTRASPALAVRAS
Publicado 15/04/2019 às 19:18 - Atualizado 15/04/2019 às 20:52

Em 29 de maio de 1994, em longa entrevista publicada no caderno “Mais”, da Folha de S.Paulo, Paulo Freire comentou as razões de seu método não ter erradicado o analfabetismo no Brasil. 

Em tese, o analfabetismo poderia ter sido erradicado com ou sem Paulo Freire. O que faltou foi decisão política. A sociedade brasileira é profundamente autoritária e elitista. Nos anos 60 fui considerado um inimigo de Deus e da pátria, um bandido terrível. Pois bem, hoje eu já não seria mais considerado inimigo de Deus. Você veja o que é a história. Hoje diriam apenas que sou um saudosista das esquerdas. O discurso da classe dominante mudou, mas ela continua não concordando, de jeito nenhum, que as massas populares se tornem lúcidas”, afirmou na ocasião. 

Passados 25 anos, Paulo Freire voltou a ser alvo de ataques nas redes sociais e nos discursos políticos, consequência da nova onda conservadora que assola o país.  

Parece ser essa a sina do mais importante educador brasileiro (1921-1997). Cinco décadas atrás, Freire foi preso e exilado pelos militares após o golpe de 1964. Ele desenvolvia na época um programa nacional de alfabetização que seria implantado por João Goulart, inspirado em projeto que desenvolveu no Rio Grande do Norte com cerca de 400 jovens e adultos.

A experiência na cidade de Angicos ganhou notoriedade internacional por se propor a concluir em 40 horas o processo de alfabetização e a formar cidadãos mais conscientes de seus direitos e dispostos a defendê-los de maneira democrática. 
O método partia de palavras selecionadas entre as questões existenciais dos alunos, fazendo com que se alfabetizassem dialogando acerca de suas condições de vida, trabalho, saúde, educação e lazer, por exemplo. Unia, portanto, educação com cultura, ao tomar as experiências dos alunos e seus conhecimentos como parte integrante do ato de educar. 

Os golpistas de 64 intuíram que o programa, ganhando dimensão nacional, poderia desestabilizar poderes constituídos ao capacitar, no curto prazo, grande quantidade de pessoas para o voto, então vedado aos analfabetos, permitindo que setores populares influíssem de maneira mais consciente em seus destinos. Seria necessário, portanto, banir e deslegitimar o método e seu autor. 

Em 18 de outubro de 1964, alguns dias depois de Paulo Freire ter partido para o exílio, o tenente-coronel Hélio Ibiapina Lima —um dos 377 agentes do Estado apontados pelo relatório da Comissão Nacional da Verdade por violar direitos humanos e cometer crimes durante o regime militar— divulgou o texto final do inquérito que comandou, acusando Paulo Freire de ser “um dos maiores responsáveis pela subversão imediata dos menos favorecidos”. 

Sua atuação no campo da alfabetização de adultos nada mais é que uma extraordinária tarefa marxista de politização das mesmas”, escreveu. Para Ibiapina Lima, Freire não teria criado método algum e sua fama viria da propaganda feita pelos agentes do Partido Comunista da União Soviética. “É um cripto-comunista encapuçado sob a forma de alfabetizador”, informava o relatório. 

Na apresentação ao livro de Freire “Educação como Prática da Liberdade”, Francisco Weffort, ministro da Cultura no governo FHC, assim analisou os fatos ocorridos no Brasil: “Nestes últimos anos, o fantasma do comunismo, que as classes dominantes agitam contra qualquer governo democrático da América Latina, teria alcançado feições reais aos olhos dos reacionários na presença política das classes populares… Todos sabiam da formação católica do seu inspirador e do seu objetivo básico: efetivar uma aspiração nacional apregoada, desde 1920, por todos os grupos políticos, a alfabetização do povo brasileiro e a ampliação democrática da participação popular… Preferiram acusar Paulo Freire por ideias que não professa a atacar esse movimento de democratização cultural, pois percebiam nele o gérmen da derrota”.

E acrescentaria: “Se a tomada de consciência abre caminho à expressão das insatisfações sociais, é porque estas são componentes reais de uma situação de opressão”.

Exilado por 15 anos — tendo passado por Bolívia, Chile, EUA e Suíça –, Freire regressaria ao Brasil em 1980, reconhecido internacionalmente como um dos mais importantes educadores do mundo. Havia percorrido diversos países a convite de universidades, igrejas, grupos de base, movimentos sociais e governos. Nos últimos dez anos de seu exílio, trabalhando no Conselho Mundial de Igrejas, em Genebra, totalizaria cerca de 150 viagens a mais de 30 países.

No seu retorno, começaria a dar aulas na PUC de São Paulo e na Unicamp. Em fins de 1988 seria convidado pela prefeita eleita de São Paulo Luiza Erundina para ser secretário municipal da Educação. As eleições daquele ano marcariam o início da ascensão dos governos de oposição aos grupos que se mantinham no poder desde o golpe militar, com o PT governando vários municípios, posteriormente estados, e, finalmente, assumindo a Presidência da República, nas eleições de Lula e Dilma. 

Frente às inúmeras pressões das quais era alvo, Paulo Freire não completou sua gestão como secretário, passando o cargo ao professor Mário Sérgio Cortella, chefe de gabinete, em 1991. Suas orientações, no entanto, foram mantidas até o final da gestão, e acabariam por influenciar outros municípios e governos estaduais no campo da democratização da gestão e das inovações pedagógicas. 

Em 1º de maio de 1997, com a saúde fragilizada, Paulo Freire daria entrada no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, para uma angioplastia, mas complicações na reabilitação o levariam à morte no dia seguinte. 


Paulo Freire seria agraciado em vida e in memoriam com 48 títulos de doutor honoris causa por diversas universidades no Brasil e no exterior. Instituições de ensino de várias partes do mundo o convidaram para tê-lo no corpo docente. Foi presidente honorário de pelo menos 13 organizações internacionais. 


Diversos outros títulos, homenagens e prêmios lhe seriam concedidos ao longo da vida e depois da morte: mais de 350 escolas no Brasil e no exterior receberiam seu nome, assim como diretórios e centros acadêmicos, grêmios estudantis, teatros, bibliotecas, centros de pesquisa, cátedras, ruas, avenidas, praças, monumentos e espaços de movimentos sociais e sindicais. 

Em 1995, seria indicado ao Prêmio Nobel da Paz. Em 13 de abril de 2012, foi declarado patrono da educação brasileira por iniciativa da agora deputada federal Luiza Erundina (então no PSB, hoje no PSOL).

Seus livros se espalharam pelo mundo. Pedagogia do Oprimido ganhou tradução em mais de 20 idiomas. Estudo de junho de 2016 do professor Elliott Green, da London School of Economics, afirma que essa era a terceira obra mais citada em trabalhos da área de humanas em todo o mundo, à frente de trabalhos de pensadores como Michel Foucault e Karl Marx. É também o único título brasileiro a aparecer na lista dos cem livros mais requisitados por universidades de língua inglesa. Em dezembro de 2018, a Revue Internationale d’Éducation de Sèvres, publicação francesa de prestígio, apontou Freire como um dos principais educadores da humanidade.

A despeito de tão vasto reconhecimento, Freire vem sendo reiteradamente desqualificado no debate público brasileiro desde a recente ascensão de setores conservadores.
Na onda intolerante que se formou no país após 2015, a partir da crise do governo Dilma Rousseff (PT), grupos foram às ruas com propostas antidemocráticas, homofóbicas, racistas e machistas. Era comum encontrar nas manifestações frases do tipo “Chega de doutrinação marxista, basta de Paulo Freire!”.

Com a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições do ano passado, as críticas ao educador e ao seu pensamento ganharam reforço contundente, estimuladas pelo escritor Olavo de Carvalho, de quem o presidente é seguidor. Durante a campanha eleitoral, em palestra para empresários no Espírito Santo, o então candidato Bolsonaro afirmou: “A educação brasileira está afundando. Temos que debater a ideologia de gênero e a escola sem partido. Entrar com um lança-chamas no MEC para tirar o Paulo Freire de lá”. E complementou: “Eles defendem que tem que ter senso crítico. Vai lá no Japão, vai ver se eles estão preocupados com o pensamento crítico”.

Em seu discurso de posse, o novo ministro da Educação, Abraham Weintraub, insistiu: “Se o Brasil tem uma filosofia de educação tão boa, Paulo Freire é uma unanimidade, por que a gente tem resultados tão ruins comparativamente a outros países? A gente gasta em patamares do PIB igual aos países ricos”.

A tentativa de banir Freire das escolas angariou forte apoio nas redes sociais desde a campanha. Grupos atacam a qualidade literária dos textos e da pedagogia de Freire, acusando-a de proselitismo político em favor do comunismo; responsabilizam o educador pela piora na qualidade do ensino, argumentando que, quanto mais é estudado e lido nas universidades, mais a educação anda para trás; afirmam que seus escritos estão ultrapassados, que o lugar de fazer política é nos partidos, não nas escolas.

Não há base empírica que comprove essas afirmações. Freire nunca foi comunista, ainda é mais lido nas universidades do exterior do que nas brasileiras, nunca pregou uma educação partidária nas escolas. Do mesmo modo, a crítica à qualidade literária de seus livros não se sustenta. Tais opiniões são proferidas por setores atrasados, que desrespeitam a pluralidade de ideias, sem compromisso com os ideais democráticos de liberdade de opinião. Não reconhecem no educador, tendo lido ou não as suas obras, concordando ou não com o seu pensamento, um interlocutor consagrado e respeitado. 

Um dos principais adversários das ideias de Paulo Freire, o movimento Escola Sem Partido se propõe a coibir a doutrinação ideológica nas escolas. Estabeleceu como estratégia política aprovar leis para vigiar as ações de professores nas escolas, produzindo um clima de perseguição política e denuncismo. Em nome de uma inexistente neutralidade, omissos em relação aos verdadeiros dilemas da educação brasileira, tentam desqualificar Freire. 
Uma proposta legislativa patrocinada pelo movimento obteve as assinaturas necessárias para que o Senado discutisse retirar o título de patrono da educação brasileira de Freire. Depois de uma intensa batalha, a demanda não foi aprovada. 

Freire acreditava no diálogo como método de apreensão do conhecimento e aumento da consciência cidadã. Defendia que os educandos fossem ouvidos, que exprimissem as suas ideias como exercício democrático e de construção de autonomia, de preparação para a vida. Propunha o diálogo efetivo, crítico, respeitoso, sem que o professor abrisse mão de sua responsabilidade como educador no preparo das aulas e no domínio dos conteúdos. 
Era contra a educação de uma via só, em que o professor dita aulas e o aluno escuta; em que o primeiro sabe e o segundo, não; em que um é sujeito e o outro, objeto. Para ele, todos tinham o que aportar neste processo de diálogo, assim como todos aprendiam em qualquer processo educativo: “Não há docência sem discência”, afirmaria. 

Freire foi criticado também em setores progressistas por ser idealista, por sua linguagem com ênfase no masculino nos primeiros trabalhos, por ser contra o aborto, por desconsiderar os conteúdos nos processos educativos, pela insuficiência do seu método. Nunca foi unanimidade nos corredores das universidades, e nem esperava por isso. 

Coerente com o que escrevia e pensava, procurou tratar seus interlocutores e críticos, fossem eles de qualquer espectro, com igual respeito. Aprendia com os diálogos, os debates e as polêmicas nos quais se envolvia, refazendo muitas das suas posições. Olhava a educação como um produto da sociedade, reflexo de projetos políticos em disputa, naturais em qualquer sociedade democrática que aposta no debate de ideias para constituição do seu futuro. 

Não acreditava em uma educação neutra, verdade reconhecida há anos pela sociologia da educação, mais uma vez constatada na gestão do ex-ministro da Educação de Bolsonaro Ricardo Vélez Rodríguez. Indicado por Olavo de Carvalho, tentou impor comportamentos e valores para toda a rede de ensino, com propostas de obrigar os alunos a cantarem o hino nacional, controlar as provas do Enem, alterar os livros didáticos para negar que tenha havido golpe militar em 1964, numa clara tentativa de reescrever a história aos moldes do seu grupo político. 

Demitido antes de completar cem dias no cargo, Vélez apresentava claro apetite para a guerra cultural, mas se mostrava totalmente inoperante para os problemas reais da sua pasta. 

O novo ministro, Weintraub, economista com mestrado em administração, atuou por mais de 20 anos no mercado financeiro. A exemplo de Vélez, nunca exerceu cargo de gestor público em educação. É também um seguidor de Olavo de Carvalho e, aparentemente, não deixará de lado o discurso de combate ideológico. Weintraub é mais um que enxerga comunistas em todas as partes, dominando as universidades, os meios de comunicação e, inclusive, setores do mercado. 

Em sentido oposto, Paulo Freire, como cristão comprometido com os mais pobres e discriminados, bebeu de diversas teorias para realizar pedagogicamente valores que tinham como fundamento uma profunda crença na capacidade de o ser humano se educar para ser partícipe na construção de um mundo melhor, de acordo com os seus interesses. 
Em seu percurso intelectual, não se ateve a uma corrente de pensamento, tendo sido muitas vezes criticado por isso. Escolhia, dentre as diversas teorias, aquelas que melhor ajudassem a realizar o seu compromisso ético de cristão ao lado dos oprimidos, inclusive o marxismo. Em diálogo com Myles Horton, educador norte-americano, no livro O Caminho se Faz Caminhando, reafirmaria sua postura: “Minhas reuniões com Marx nunca me sugeriram que parasse de ter reuniões com Cristo”.

Quando perguntado, Freire não se recusava comentar de forma crítica os abusos do regime comunista. Na mesma entrevista citada no início deste artigo, afirmou que o fim do comunismo no Leste Europeu havia representado uma queda necessária não do socialismo, mas de sua “moldura autoritária, reacionária, discricionária, stalinista”. 

Freire deixou um texto inacabado, interrompido pela sua morte, posteriormente publicado por Nita, sua segunda esposa, em Pedagogia da Indignação. Nele, comentava o assassinato do índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, queimado vivo por cinco jovens em Brasília. “Tocaram fogo no corpo do índio como quem queima uma nulidade. Um trapo imprestável”, escreveu. Refletindo sobre quem seriam os jovens, indagou que exemplos, testemunhos e ética os levariam a essa “estranha brincadeira” de matar gente. “Qual a posição do pobre, do mendigo, do negro, da mulher, do camponês, do operário, do índio neste pensar?” 

Diante do ocorrido, proclamaria o dever de qualquer pessoa que educa de lutar pelos princípios éticos mais fundamentais. Concluiria afirmando que, “se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.

Em Política e Educação Popular, um dos mais importantes trabalhos sobre Freire, o professor Celso Beisiegel afirma que o seu compromisso do educador com os oprimidos estaria levando a um estreitamento das possibilidades de utilização das suas práticas pedagógicas —referia-se ao tempo dos governos autoritários instalados na América Latina nos anos 1960 e 1970. Beisiegel questionava se o educador não estaria se aproximando da realização daquela imagem do “ser proibido de ser”, concluindo: “Não seria inaceitável dizer que Paulo Freire veio se aproximando da realização da figura do educador proibido de educar”. 

Não é muito distante do que está ocorrendo hoje no Brasil. 

* Doutor em História e Sociologia da Educação pela USP (1991). Professor visitante no Centro de Estudos Brasileiros na Universidade de Oxford. 
Participou do Conselho Técnico Científico de Educação Básica da CAPES. Foi professor do Programa de Pós-graduação em Educação Currículo da PUC-SP. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Tópicos Específicos de Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: educação, educação de jovens e adultos, educação de adultos, educação popular e terceiro setor.

Autor dos livros: Novos caminhos da educação de jovens e adultos, ONGs e Universidades – Desafios para a cooperação na América Latina, A educação entre os direitos humanos, entre outros.
O professor Sérgio Haddad, do programa de pós-graduação em Educação da Universidade de Caxias do Sul, lançará, nesse ano, uma biografia de Paulo Freire ,pela editora Todavia


sexta-feira, 12 de abril de 2019

De Chapada do Norte, artesão Leandro Júnior faz mais uma exposição em São Paulo

Obra Ventre Livre, ganhadora da 3ª Exposição do Prêmio Universo Cerâmico da Assembléia Legislativa de São Paulo, em 2018.

Galeria Olido, em São Paulo, recebe exposição de criações de Leandro Júnior.

O talento do jovem artista plástico do Vale do Jequitinhonha, Leandro Júnior, continua tendo reconhecimento nacional. A sua escultura em cerâmica fará mais um exposição em São Paulo. Desta vez, será na Galeria Olido. 
O artista do Vale ganhou o prêmio máximo da 3ª Exposição Universo Cerâmico 2018, realizado na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Leandro levou para a exposição duas obras: Pietá Negra (uma obra inspirada em Pietá de Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni), e a Ventre Livre (uma escrava dando a luz amarrada em um tronco).
Pietá Negra, outra obra premiada de Leandro Júnior, exposta na 3ª Exposição do Prêmio Universo  Cerâmico, em São Paulo, 2018.
Morador do distrito de  Cachoeira do Norte, município de Chapada do Norte, no Vale do Jequitinhonha, nordeste de Minas,o escultor e pintor começa a ganhar o mundo.

Formado em Artes pela Faculdade de São Luís de Jaboticabal, no interior de São Paulo, Leandro utiliza o barro como principal matéria-prima. Em suas obras se destacam características únicas, que retratam expressões reais inspiradas na memória afro-brasileira e cultura da sua região.



Exposição: Leandro Jr. e o Quilombo de Cuba 
Artista: Leandro Júnior
Curador: Simon Watson
Local: Galeria Olido_São Paulo
Data: 12 de outrubro 2019
Veja video do Leandro Júnior e sua arte:

quinta-feira, 11 de abril de 2019

Minas Novas: Adolescente de 15 anos espanca e mata colega dentro da escola

Pátio da Escola Estadual Dr Agostinho Silveira, em Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha.
Por Juliana Gorayeb, G1 Grande Minas, 11/04/2019 11h33 .
Uma adolescente de 15 anos morreu em Minas Novas, no Alto Jequitinhonha, nordeste 
de Minas,  no fim da tarde dessa quarta-feira (10.04.19), depois de ter sido espancada 
por uma colega L.M.S, também de 15 anos, dentro da Escola Estadual Dr Agostinho da Silva 
Silveira. 
Segundo informações da Polícia Militar, Maria Aparecida Esteves Otoni foi atacada 
com um prato na cabeça e espancada com chutes e socos na cabeça. Ela chegou 
a ser socorrida pelo Samu, mas morreu horas depois, por traumatismo craniano. 
Segundo funcionários da escola, a adolescente que atacou a colega sofre de 
transtornos mentais.
Em registro da Polícia Militar, os professores relataram que tentaram separar as 
duas adolescentes e tentaram conter a autora, mas não conseguiram a tempo de 
cessar o ataque. Os funcionários afirmam ainda que a autora tem histórico de 
agressões, e que tentou se ferir durante registro da ocorrência, mas foi contida
 por policiais.
G1 fez contato com a direção da Escola Dr Agostinho Silva da Silveira, mas a diretora 
disse não ter condições de comentar o ocorrido. 
Um funcionário, que preferiu não se identificar, contou que ajudou a socorrer 
Maria Aparecida, e detalhou o que ocorreu no pátio do colégio.
O servidor conta que as duas menores estavam no pátio, durante o recreio. Quando a 
vítima passava, foi surpreendida pelas agressões e não chegou a reagir. O funcionário 
afirma que Maria Aparecida tinha epilepsia e teve uma convulsão depois de sofrer a 
agressão na cabeça. Enquanto ela se debatia, a autora continuou a socando e chutando, 
até que foi afastada do local por um grupo de funcionários. 
Ainda de acordo com o funcionário, as duas são acolhidas por uma instituição que 
presta assistência social a crianças e adolescentes. A autora mora em um abrigo e, 
segundo o funcionário, perdeu o contato com os pais desde criança. 
Ela assistiu ao assassinato da mãe cometido pelo pai quando tinha 3 anos de idade 
e desde então foi acolhida pela instituição. 
O pai dela segue preso.
Ainda de acordo com o servidor público, a instituição social apresentou um laudo 
que diz que a autora da agressões sofre de esquizofrenia, mas que ela nunca teve 
um professor de apoio dentro do colégio. A vítima morava com os pais dela e, 
devido  a más condições financeiras da família, precisava de assistência social 
para comprar remédios controlados  para a epilepsia.
Após o espancamento, a escola interrompeu as aulas. De acordo com o 
funcionário, o corpo de servidores está muito abalado com o ocorrido e uma
reunião foi realizada no colégio na manhã desta quinta (11.04.19) para tentar 
"amenizar a situação".
Para ele, a sensação de impotência é o que causa tristeza.

Fonte: G1