Por Bajonas Teixeira de Brito Junior, colunista político do Cafezinho
Fazemos aqui um apanhado resumido das más notícias contra Aécio desde meados de 2014, e das táticas com as quais a mídia as vem cobrindo, e encobrindo, desde aquela época. Damos atenção especial aos últimos eventos (uma enxurrada de denúncias vindas dos quatro cantos do submundo político), que parecem ter afetado a imagem de Aécio, ao ponto de fazê-lo desaparecer da cena pública.
Em alguma das passagens secretas e terceiras dimensões da realidade brasileira, que é cheia de buracos como um queijo suíço, Aécio se enfiou e desapareceu.
O mais interessante, é que a imprensa não colocou nenhum repórter perdigueiro na pista dele, não procurou desentocá-lo à bem da opinião pública ou dar ao leitor o mínimo de informação sobre o assunto. E tudo foi muito abrupto. De um dia para o outro, Aécio não estava mais entre nós. Ao invés de cumprir o que tinha dito, “Vamos dar a nossa contribuição e ser julgados lá na frente”, ele preferiu dar no pé na calada da noite sem dizer para onde e sem se despedir.
A grande imprensa brasileira nem sequer menciona esse estranho e súbito desaparecimento. Parece que nem lembra que existiu um Aécio, nascido em Minas, líder máximo da oposição, presidente do PSDB, moço sorridente e boa praça. É como se ele nunca tivesse existido. A única prova que temos da sua existência, hoje, é seu perfil na Wikipédia. A Globo não recorda dele, talvez porque isso faça lembrar que Aécio é um dos pais do governo Temer. Na Folha/UOL, Aécio prima pela ausência, como um rosto desbotado numa multidão de faces desconhecidas.
A quem ocorra jogar o nome de Aécio na pesquisa do Google, verá que nas últimas semanas os grandes portais e jornais não fazem qualquer menção a ele.
Apenas para tentar verificar a hipótese de que, não faz muito tempo, existiu um sujeito chamado Aécio Neves, que respondia pela presidência do PSDB, acumulando ainda o posto de líder da oposição, e que costumava acusar o governo Dilma de corrupção, faremos o breve inventário que segue, contabilizando o catálogo das denúncias e as formas como a mídia vem lidando com elas. Resumidamente, os fatos são os seguintes:
Julho 2014 – Eclode o escândalo do aeroporto construído com dinheiro público dentro da fazenda do tio-avô e a poucos quilômetros de uma propriedade de Aécio (A mídia toda deu a notícia, contudo, o fez sem escândalo e sem gritos de indignação. Prevaleceu a ‘isenção’ e bom tom da ‘imprensa equilibrada’, quando os acusados são os amigos)
Dezembro de 2014 – A revista Veja elege Aécio o pior Senador do país (Numa lista de 74 senadores, Aécio foi o único a receber nota 0). Ainda que não possamos perscrutar os motivos da Veja, o fato é que em outras publicações e na imprensa em geral, o assunto apareceu em tom menor, quase em surdina.
23 de setembro 2015 – O uso de avião do governo de MG por Aécio para realizar 124 viagens ao Rio de Janeiro é objeto de matéria da Folha de SP. (Exatamente como nos casos anteriores, a mídia se mostrou fria, distante e equilibrada).
03 de dezembro 2015 – Conselho Superior do Ministério Público de Minas Gerais decide arquivar inquérito sobre aeroporto em terra de tio-avô de Aécio (A mídia, é claro, não deu um pio. Só noticiou o fato, como se fosse tão óbvio quanto o reajuste dos relógios no fim do horário de verão).
15 de março 2016 – Delcídio do Amaral afirma que Aécio recebeu propina de FURNAS e agiu para maquiar dados (Como a neutralidade aqui não era possível, quase sempre tivemos estratégias para amenizar: manchete grande, mas permanência curta nas homes, por exemplo).
22 de março 2016 – A denúncia do dia 15 não impede que sete dias depois, o UOL destaque um “flerte” de Temer e Aécio (ver Foto), desfazendo através desse protagonismo político registrado em foto um pouco do clima negativo deixado pelas denúncias do dia 12.
09 de abril 2016 – Procuradores dizem ter indícios para pedir investigação contra Dilma e Aécio (A informação foi dada com indiferente e distância na mídia).
20 de abril 2016 – Como se fosse a coisa mais natural do mundo, o UOL estampa uma chamada dos tucanos a Delcídio para salvar Aécio e atacar Dilma.
27 de abril 2016 – G1 e O Globo destacam declaração de Aécio “Vamos dar a nossa contribuição e ser julgados lá na frente” (É notável que a foto escolhida para ilustrar a matéria mostre Aécio ao fundo, sob um véu desfocado, como que sumindo da zona de visibilidade).
02 de maio 2016 – No G1 em fonte diminuta aparece a informação “Janot pede para STF investigar Aécio, Cunha e Edinho”.
03 de maio 2016 – Uma das páginas mais elaboradas de 'edição' política da Globo em favor de Aécio Neves traz, na parte superior, Lula, no meio Cunha e o escândalo de Furnas, sem referências a Aécio e, embaixo, Aécio, inteiramente desligado do caso de Furnas, como se nenhum vinculo o ligasse a ele, criticando o método de montagem do governo Temer.
- A matéria no G1, que tem o título Aécio critica método de montagem de eventual governo Temer, mostra vídeo de Aécio dirigindo uma reunião da cúpula do PSDB, ou seja, em pleno exercício de poder e do prestígio político, como se uma chuva de denuncias não estivesse desabando sobre ele. http://g1.globo.com/politica/processo-de-impeachment-de-dilma/noticia/2016/05/aecio-critica-metodo-de-montagem-de-eventual-governo-de-michel-temer.html
04 de maio 2016 – O Procurador Geral da República Rodrigo Janot pede ao STF investigação de Aécio e Paes. (A manchete vem com letras garrafais na home do G1, mas por quanto tempo? Isso dificilmente o leitor poderá aferir)
11 de maio 2016 – Gilmar Mendes, que convidou Aécio para seminário em Portugal vai relatar no STF pedido de investigação de Janot contra o Tucano
11 de maio 2016 – Na home do G1, embora o tempo pareça fechar para Aécio, ele aparece fazendo análises e exercendo o papel de líder da oposição: “Aécio: Temer terá certa lua de mel”.
11 de maio 2016 – Gilmar Mendes autoriza inquérito para investigar Aécio sobre Furnas
12 de maio 2016 – Menos de 24 horas depois de abrir inquérito contra Aécio, Gilmar suspende investigações – O Globo.
12 de maio 2016 – Gilmar Mendes suspende coleta de provas em investigação sobre Aécio. Normal absolutamente normal, diz o ministro do STF. (Nenhuma indignação, surpresa, muito menos estupefação, na imprensa)
13 de maio 2016 – Gilmar pede a Janot que reanalise o caso Aécio (Idem)
25 de maio 2016 – Gilmar envia novo pedido de inquérito sobre Aécio para reanálise da PGR (Idem)
27 de maio UOL 2016 – A home do UOL dá destaque a uma afirmação muito comprometedora de Sérgio Machado sobre Aécio Neves: “Aécio é o cara mais vulnerável do mundo”. Certamente, Aécio não é o queridinho do Folha/UOL, que também se declarou no editorial "Nem Dilma nem Temer", de 02/04. Mas a ação dessa mídia está sempre condicionada ao grau de prejuízo que possa levar ao PSDB, seu verdadeiro xodó.
06 de junho 2016 – G1_Gilmar Mendes autoriza investigação sobre Aécio, Paes e Clésio Andrade (Nem comentários críticos, nem explicações, nem recordação da trajetória anterior dos processos nas mãos de Gilmar, nada. Tudo se passa como se fosse um fato que não nos diria respeito).
10 de junho 2016 – Denúncia da Folha de SP aponta que estatal do governo de Minas firmou parceria com empresa do pai de Aécio. (Nesse momento, há um tempo fechando em torno de Aécio, as denúncias começam a avolumar, e cada um dos grandes meios parece avaliar que o neto de Tancredo já não pode ser salvo. Pode contar com alguma proteção da mídia, mas não pode ser resgatado do seu inferno particular).
15 de junho 2016 – Denúncia de Sérgio Machado de que Aécio repassou propinas em troca de apoio para eleger-se presidente da Câmara Federal tem destaque na home do UOL (Essa exposição negativa crescente, demonstra cabalmente o beco sem saída em que a imagem política de Aécio entrou e o quanto ele se tornou indefensável).
18 de junho 2016 – Em delação premiada, Pedro Correa, ex-deputado (PE) com largo currículo em escândalos de corrupção, afirma que Aécio indicou antecessor de Duque na Petrobras (A situação de Aécio, torna-se mais e mais insustentável mas, vale notar, nunca se levanta contra ele a ira sagrada da imprensa pela moralidade).
19 de junho 2016 – Na revista Época e no G1, durante todo o dia, uma defesa de Aécio: FHC diz que Aécio nunca pediu nem indicou a ele diretores da Petrobras
26 de junho 2016 – Ao invés de sublinhar o fato de que o ex-presidente da OAS afirmou em sua delação premiada ter destinado 3% em propina para Aécio, o UOL preferiu transferir para o futuro indeterminado essa denúncia: Sócio e ex-presidente da OAS relatará propina para assessor de Aécio Neves
27 de junho – Aécio Neves some das manchetes sem deixar vestígios. Não há mais fotos suas nos portais, seu nome é apagado dos jornais, e mesmo uma pesquisa no Google só mostra notícias antigas e desbotadas.
* Bajonas Teixeira de Brito Júnior – doutor em filosofia, UFRJ, autor dos livros Lógica do disparate, Método e delírio e Lógica dos fantasmas, e professor do departamento de comunicação social da UFE