terça-feira, 7 de maio de 2013

Vale do Jequitinhonha é uma das regiões que pode receber médicos cubanos

Governo quer `importar´ 6  mil médicos de Cuba, Portugal e Espanha para o interior
Médicos brasileiros preferem morar em cidades grandes
Em BH, há um médico para 93 habitantes. No interior de Minas, são 926 habitantes para cada médico
 Publicado no Jornal OTEMPO em 07/05/2013
LITZA MATTO  


O Brasil se prepara para receber cerca de 6.000 médicos cubanos para trabalhar no interior e corrigir
um déficit de profissionais na área de saúde nas regiões mais carentes. O anúncio foi feito, ontem,
pelo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, depois de um encontro com o chanceler de Cuba, Bruno Rodriguez, e trouxe preocupação para as instituições de ensino e conselhos de medicina.

O Brasil, no entanto, terá que encontrar uma solução para a autorização de trabalho para esses médicos. Hoje, quem se forma no exterior precisa fazer uma prova de revalidação do diploma, o Revalida. Nos últimos dois anos, menos de 10% dos candidatos nacionais que tentaram o exame
foram aprovados. "Ainda estamos finalizando os entendimentos para que eles possam desempenhar
sua atividade profissional no Brasil, no sentido de atendimento a regiões particularmente carentes do país", explicou Patriota. "Trata-se de uma cooperação que tem grande potencial e à qual atribuímos valor estratégico. Cuba tem uma proficiência grande nas áreas de medicina, farmacêutica e de biotecnologia", disse.

Segundo o chanceler brasileiro, as negociações com Cuba começaram com a presidente Dilma
Rousseff, em janeiro de 2012, quando visitou Havana, a capital cubana. Ela defendeu uma iniciativa conjunta para a produção de medicamentos e mencionou a ampliação do envio de médicos cubanos
ao Brasil para apoiar o Serviço Único de Saúde (SUS). Hoje, 68% dos brasileiros dependem da rede pública.

Médicos brasileiros contra a decisão do Governo
O Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou nota, ontem, condenando veemente qualquer
iniciativa que "proporcione a entrada irresponsável de médicos estrangeiros e de brasileiros com diplomas de medicina obtidos no exterior sem sua respectiva revalidação". "Medidas nesse sentido
ferem a lei, configuram uma pseudoassistência com maiores riscos para a população e, por isso, além
de temporários, são temerários por se caracterizarem como programas políticos-eleitorais", diz.

Segundo a nota, o órgão e "os Conselhos Regionais de Medicina (CRMs) envidarão todos os esforços possíveis e necessários, inclusive as medidas jurídicas cabíveis, para assegurar o Estado
Democrático de Direito no país, com base na dignidade humana".

A falta de definição de detalhes como a concessão de visto e a revalidação dos diplomas para a autorização do trabalho preocupa André Cabral, coordenador do processo de revalidação do
diploma de medicina na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Publicação do jornal Estado de Minas, em 07.05.13

Ministério da Saúde convida também médicos de Portugal e Espanha
O governo brasileiro pretende atrair não somente médicos cubanos para trabalhar nas regiões mais 
carentes do país, mas também profissionais de Portugal e da Espanha. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse nesta terça-feira (7/5), que desde o início do ano estuda alternativas para suprir a 
deficiência desses profissionais nas regiões mais remotas do país. "Esse é um dos nós mais críticos para 
levar a saúde para a população. Não se faz saúde sem médicos. O Brasil precisa de mais médicos com 
mais qualidade e mais próximos da população".

Sobre as críticas do Conselho Federal de Medicina à decisão, Padilha disse que concorda que a contratação tem que considerar a qualidade e a responsabilidade desses profissionais. Ele destacou que o governo já descartou a validação automática de diplomas e a contartação de médicos de países que tenham menos profissionais que o Brasil, como é o caso da Bolívia e do Paraguai.

Dados do Ministério da Saúde mostram que no Brasil existe 1,8 médico para cada mil habitantes. Na Argentina, a proporção é de 3,2 médicos para mil habitantes e, em países como Espanha e Portugal, essa relação é de 4 médicos. 

No início do ano, os prefeitos que assumiram apresentaram ao governo federal uma série de demandas 
na área de saúde. Entre os pontos destacados estava a dificuldade de atrair médicos para as áreas mais carentes, para as periferias das cidades e para o interior.

Padilha disse que o governo estuda várias alternativas. "A ´principal medida que temos adotado é estruturar os serviços de saúde e ampliar o número de vagas nos cursos de medicina nas universidades". Outra bandeira do ministério é o Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (Provab), que oferece salários mensais de R$ 8 mil e pontos na progressão de carreira dos médicos que vão para o interior e as periferias. 

Até hoje só 4 mil médicos aceitaram participar do programa.

"Como ministro da Saúde, não vou ficar vendo a situação de Espanha e Portugal - que têm médicos de 
muita qualidade, que falam português e que vivem uma situação de 30% de desemprego - sem pensar em alternativas de intercâmbio para trazer esses profissionais".

De acordo com Padilha, o Brasil está acompanhando experiências de países desenvolvidos como a Inglaterra, onde 40% dos médicos foram atraídos de outros países, Canadá onde 22% dos médicos são estrangeiros ,e Austrália, onde essa participação é de 17%. No Brasil, apenas 1% dos médicos vieram 
do outros países.

Comentário do Blog
Dos  204 municípios de Minas Gerais que não possuem médicos, muitos deles estão
no Vale do Jequitinhonha, principalmente aqueles com menos de 10 mil habitantes.

O salário exorbitante dos médicos é um dos grandes entraves, além da exigência 
destes profissionais de uma infra-estrutura urbana   e oferta de serviços que 
estas cidades não têm. Além disso, as pequenas localidades não possuem 
equipamentos de saúde e condições de trabalho que atraem estes profissionais 
cada vez mais exigentes, ao contrário de outras profissões do próprio campo da 
saúde.

O valor médio de salário de médicos de pequenas cidades do Vale do Jequitinhonha 
gira em torno de R$ 15 mil, quando encontra. Há uma rotatividade cada vez maior 
e verdadeiros leilões na oferta de um ou outro município. Cada vez mais o 
salário aumenta.

O valor da consulta médica gira entre R$ 120 e R$ 250. A grande maioria da 
população não tem condições de pagar tais valores. 

Devido a esta situação aqui no Vale e em outras regiões do país é que o governo 
federal decidiu por contratar profissionais médicos cubanos e de outros países. 
Cuba é um país com um dos melhores ensino de medicina no mundo, principalmente 
na área preventiva, atenção básica e visitas domiciliares, exigência do SUS que 
poucos médicos brasileiros cumprem.

Várias cidades do Vale do Jequitinhonha são candidatas a receberem os 
médicos cubanos. Experiências com médicos cubanos já aconteceram no Vale. 
Entre 1993 e 1996, o então prefeito Solano de Barros, de Itinga, no 
Médio Jequitinhonha, contratou a médica cubana Alice que prestou grandes 
serviços de medicina preventiva e comunitária ao povo do município.

Parece que quem menos gostou da medida do Governo federal foram alguns médicos 
e suas organizações corporativistas. Muitos analistas consideram esta posição como 
de  defesa de privilégios para a profissão. Porém, outros profissionais lembram 
do juramento de Hipócrates que todos os médicos pronunciam quando se formam:


"Prometo que, ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade,
da caridade e da ciência.
Penetrando no interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha língua calará os segredos que me
forem revelados, o que terei como preceito de honra.
Nunca me servirei da minha profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime.
Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze eu para sempre a minha vida e a minha arte com
boa reputação entre os homens; se o infringir ou dele afastar-me, suceda-me o contrário"  UFMG.

Leia mais aqui:
wikipedia/Juramento_de_Hipócrates
drauziovarella/Juramento-de-hipocrates/

2 comentários:

Marcos G. almeida disse...

Boa noite. Sou estudante do último semestre de medicina, sou de Taiobeiras.
Alguns dados que eu gostaria de salientar. No texto vc diz sobre a rotatividade e "leilões" que acontecem nessas cidades pequenas. Pois bem, conheço vários médicos que atuaram em cidades assim. Prometem o salário e as vezes os pagam dois ou três meses e depois deixam os médicos a ver navios. Muitos migram de cidades até conseguirem em alguma em que consigam receber o salário em dia. Outro problema é que não há concursos, e quando há, são com valores que não custeariam a ida do profissional para estes locais. Vi compartilharam tal situação publicando para que fossem visualizados concursos de algumas cidades do interior onde ofereciam um salário mínimo ou pouco mais do que isso.

Marcos G. almeida disse...

Junte-se ao que foi dito no outro comentário, o fato de a maioria das cidades não oferecer estrutura mínima para a atuação. Caso houvesse tal estrutura, muitos outros profissionais optariam por trabalhar no interior. Muitos ganham 1/3 desses valores trabalhando nas capitais, pois tem opção pessoal de não se sujeitar e nem sujeitar os pacientes a tais situações. Caberia ao governo investir.
Como se para resolver o problema da educação o governo resolvesse importar milhares de professores estrangeiros, ou se para resolver a fome milhares de cozinheiros. Sabemos que essa não é a solução e por isso lutamos para que seja feito o melhor pela saúde.

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